Maranhão oferece encontros de 10 minutos durante a pandemia para matar a saudade e saber das condições internas
A doméstica Claudilene Carvalho Barbosa viveu os cinco minutos mais longos da vida no fim de julho deste ano. Seu esposo, Francisco de Assis Cardoso Araújo, está preso em São Luís, no Maranhão. A pandemia os impediu de conviver juntos. Isso até a implementação de visitas feitas por meio de videochamadas.
As idas presenciais da mulher até o presídio pararam por conta do risco dela e dos demais parentes levarem o coronavírus aos encarcerados. Por quatro meses, deixou de ver o homem, que integra o grupo de risco da pandemia por ter 60 anos e ter hipertensão, uma das doenças agravadas pela Covid-19.
“O Francisco é idoso, tem problema de saúde. Eu estava preocupada aqui fora”, resume Claudilene, que temia pela condição do marido. Segundo ela, não havia outra forma deles se comunicarem em meio ao isolamento provocado pela pandemia.
A incerteza era potencializada pelas condições dos presos antes da pandemia. A mulher conta que o esposo convivia em celas com 14 ou 18 presos, mas com espaço que deveriam ser para grupos menores. A alimentação chegava azeda algumas vezes. “Isso vem de um tempo”, conta.
Com a visita, a mulher se tranquilizou, ainda que tenha enfrentado alguns problemas com a conexão da internet, que estava lenta. “É rapidinho, não consegue falar de muita coisa, só que dá aquele alívio. Dá para matar a saudade, né?!”, diz, feliz.
Leia também: Vidas Presas Importam: famílias de prisioneiros protestam por melhores condições
O governo do Maranhão possibilitou as visitas online com parceira junto à ONG Humanitas360. Desde abril, a organização ofereceu 55 notebooks para as conversas em 39 das 52 unidades prisionais do estado. Hoje, a videoconferência acontece em 42 unidades, com 3.773 atendimentos e 6.700 visitas realizadas no período. A recomendação é de encontros por dez minutos.
As chamadas reencontraram mãe e filho que não se viam a três anos. Moradora do Rio de Janeiro, ela não tinha condições financeiras de viajar mais de 2,5 mil quilômetros para visitá-lo. A mulher, que aceitou conversar com a Ponte sob anonimato, comemorou pro ter tido a conversa virtual.
“Dura pouco, cinco minutos. Não dá pra falar de muita coisa, mas já consigo ver a cara dele”, afirmou. Ela conta que o filho não comentou como estava a situação dentro do presídio. “Tivemos pouco tempo para conversar”, resume. É uma sensação geral de se ter poucos instantes para ver seus familiares.
Como ela mora no Rio de Janeiro, depende de outras familiares levarem itens pessoais para o seu filho. Sem a entrega do jumbo (sacola com alimentos, roupas, itens de higiene e remédios) para evitar a propagação do coronavírus, ela ficou sem saber como ajudá-lo dentro do presídio.
“Não é uma situação boa, mas dentro do que está acontecendo… Eu não tenho condições de ir lá e agora consigo ter aproximação com meu filho”, prossegue, colocando a videoconferência como elemento fundamental para aliviar o coração de mãe, ainda que se atrapalhe com as tecnologias. “Minha filha me ajuda. Eu às vezes me atrapalho um pouco, tenho idade avançada e não entendo direito de mexer no celular”.
Leia mais: ‘Preso em isolamento’: familiares temem pela vida de detentos durante a pandemia
Secretário de Estado de Administração Penitenciária do Maranhão, Murilo Andrade de Oliveira explica que a intenção do projeto é fortalecer os vínculos afetivos do presa. Explica ter conseguido investir R$ 38 mil em outros projetos com a parceria feita junto à Humanitas360.
“Passada a crise, o Programa continuará em modalidade complementar às visitas presenciais, contemplando familiares que residem distantes do local de custódia das pessoas privadas de liberdade ou que por alguma restrição não possam realizar o deslocamento”, explica o secretário.
Segundo Patrícia Villela Marino, presidente do Instituto Humanitas360, a proposta partiu de uma conversa com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça. Com a primeira experiência positiva no Maranhão, a ONG acertou novos acordos para visitas online no Rio Grande do Norte e Paraíba, com início no fim de agosto e começo de setembro, nesta ordem.
“É importante frisar que o nosso projeto tem como objetivo reforçar os vínculos afetivos de pessoas privadas de liberdade e seus familiares, e não uma finalidade policial como se justifica as visitas em estados como São Paulo”, pontua a representante.
Em São Paulo, as famílias reclamaram da implementação das visitas online. Também com período de 5 minutos para cada preso, os relatos são de problemas técnicos para conseguir agendar as visitas e outros problemas, como revelado pela Ponte.
A Ponte questionou a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária sobre as falas de familiares quanto a superlotação e problemas na alimentação – a entrevista com o secretario ocorreu antes destas denúncias – e aguarda uma resposta.
[…] e itens de higiene à implantação de visitas virtuais, que foram bem e mal avaliadas, e o retorno das presenciais em alguns estados, que chegaram a gerar protestos pela […]