Marcos Davis registrou nascimento do filho Noah nas redes sociais e recebeu comentários contestando sua paternidade pelo filho ter a pele mais clara. Caso viralizou em setembro e está sendo investigado pela Polícia Civil de Goiás
O pastor Marcos Davis, 30, teve seu nome e as fotos de sua família republicadas em diversos sites de notícias depois que postou uma nota de repúdio, indignado, por ter recebido comentários contestando a sua paternidade por conta de seu filho ter nascido com a pele mais clara, em agosto. O casal, que é negro, compartilhou o momento de felicidade do nascimento do bebê nas redes sociais e não imaginou que receberia tantos ataques.
“Aqueles comentários, além de racistas, feriam a integridade da minha esposa, a fidelidade dela, porque diversas pessoas colocavam ali ‘faz um DNA’, ‘deve ser o filho do padeiro’, sendo que seria mais fácil pesquisar para entender que uma criança pode ter a genética de avós, pode nascer mais clara”, lamentou.
Além das fotos do nascimento na maternidade, Davis também compartilhou registros de um ensaio que fez com a esposa e o recém-nascido. “Foi uma segunda onda de ataques pior do que a primeira”, desabafou. Com isso, o pastor decidiu formalizar um boletim de ocorrência, em setembro, por injúria racial, crime previsto no artigo 140, parágrafo três, do Código Penal e tem como pena reclusão de um a três anos e pagamento de multa. É diferente do crime de racismo, que é previsto na Lei 7.716/1989 e tem pena maior e imprescritível, porque se direciona à ofensa à dignidade de um individuo e não uma discriminação coletiva.
Ele enviou para a Polícia Civil de Goiás cerca de 30 prints, que é captura de tela do celular, com os comentários racistas e foi aberto um inquérito para apurar o caso. Porém, Davis denuncia que a família ainda sofre discriminação. “Ataques nas redes sociais pararam porque agora se comentam, eu já aviso que vou processar, mas ainda aparecem umas mensagens de pessoas dizendo para eu não postar fotos da família e expor”, afirma. “Os olhares racistas continuam, no shopping, nos lugares que a gente vai, a gente não tem liberdade de ir e vir”, lamenta.
Ele conta que há uma semana estava em uma hamburgueria em Goiânia quando notou um casal de uma mulher e um homem brancos cochichando. “Eles olhavam para mim, para a minha esposa e para o bebê falando baixo para a gente não ouvir, com um olhar de deboche, e eu consegui ouvir a palavra ‘neguinho'”, relata. “Eu quase levantei da mesa para ir até eles questionar qual era a graça, mas a minha esposa me segurou e, para preservar minha família, me contive porque se eu fizesse algum escândalo seria pior para mim já que pastor não é bem visto, imagine batendo boca”, lamenta.
Nesse caso, ele acabou não formalizando um boletim de ocorrência, mas espera que o caso em que conseguiu juntar as provas, pelos comentários no seu Instagram, tenham responsáveis punidos. “Tem gente que ficou falando que o que eu quero é me vitimizar para conseguir dinheiro, alguma indenização, o objetivo não é esse. Tenho amigos que passaram por isso de sair com o filho na rua e, por ele ser mais claro, as pessoas perguntarem para mãe se ela é a babá”, critica.
“Eu vou lutar onde eu puder para que esse constrangimento diminua, para que outras famílias não passem por essa situação, para que o meu caso não dê em nada porque se não der é uma forma de as pessoas continuarem achando que internet é uma terra sem lei e que não vai dar em nada desrespeitar alguém ou fazer comentários de cunho racista”, defende Davis.
O que diz a Polícia Civil
A Ponte questionou o andamento das investigações do caso. A assessoria respondeu que o inquérito ainda está em apuração, mas não saberia dizer se algum(a) autor(a) das publicações foi identificado porque o delegado que é responsável pela investigação está de férias.
Perguntamos quando o delegado retornaria das férias e a assessoria disse não saber responder.