Assassinos confessos da vereadora carioca e seu motorista, Anderson Gomes, começam a ser julgados nesta quarta-feira (30/10). Manifestantes reuniram-se em frente à escadaria que leva o nome de Marielle, no bairro de Pinheiros
Manifestantes reuniram-se na manhã desta quarta-feira (30/10), em São Paulo, para um ato que marcou o primeiro dia do julgamento pelas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Na capital, a manifestação ocorreu na escadaria que leva o nome da vereadora, em Pinheiros.
Assista ao primeiro dia do júri popular de Lessa e Queiroz
Marielle e Anderson foram mortos em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. Nesta quarta-feira, começam a ser julgados Roni Lessa e Élcio de Queiroz, réus confessos do assassinato da vereadora. Os irmãos Domingos e Chiquinho, apontados como mandantes, e o delegado da Polícia Civil Rivaldo Barbosa, acusado de atrapalhar as investigações, são citados em outro inquérito. O júri popular de Roni e Élcio está previsto para a manhã no 4º Tribunal do Júri, no Rio de Janeiro, e deve se estender até quinta-feira (31/10).
O ato em São Paulo reuniu representantes de movimentos sociais e do partido de Marielle, o PSOL. A professora Georgina Silveira Pinto Neta, de 36 anos, lembra que soube da notícia da morte quando estava no trabalho. Georgina não conhecia Marielle, mas sofreu com a dor que o assassinato representou. A perda da vereadora foi com um empurrão que a aproximou ainda mais dos movimentos por justiça social. Hoje, ela participa da Marcha das Mulheres Negras.
“A luta de Marielle é essencial para o que fazemos hoje”, diz a professora.
A manifestação foi composta principalmente por mulheres negras, como Marielle. Simone Nascimento, coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado (MNU), descreveu o ato como uma forma de prestar solidariedade aos familiares de Marielle e Anderson. “Essa é uma data importante que esperamos muito tempo para acontecer. O julgamento não trará de volta Marielle e Anderson, mas trará o mínimo de dignidade para as famílias”, afirma.
O grupo ergueu margaridas e cartazes que, além de pedir por justiça, lembraram que a morte de Marielle já completou seis anos. Diante da escadaria, o rosto da vereadora aparecia estampado em preto e branco. Foi ali, em frente à imagem, que as manifestantes , a exaltaram, dizendo que Marielle jamais será esquecida. “Marielle, presente, hoje e sempre”, gritavam.
Leia também: Marielle Franco mudou a forma de fazer política no Brasil, apontam parlamentares negras
A Polícia Militar apareceu no ato duas vezes, apesar de os manifestantes não ocuparem ou obstruírem a rua Cristiano Viana em nenhum momento. Apesar da presença, não houve repressão aos manifestantes.
Um outro ato foi realizado no Rio de Janeiro, em frente ao Tribunal de Justiça. A manifestação foi organizada pelo Instituto Marielle Franco. À Ponte, Ligia Batista, diretora-executiva do instituto, classificou o julgamento como um “momento histórico” em que o Brasil tem a oportunidade de fazer justiça por Marielle e Anderson. As manifestações desta quarta foram uma demonstração de que a sociedade segue vigilante em relação ao caso.
Leia também: Famílias lembram Marielle Franco e mortos pelo Estado no bloco afro Ilú Obá De Min
“A sociedade brasileira, a comunidade internacional, todos e todas estão atentas a esse que é um dos júris mais importantes das últimas décadas e do debate democrático brasileiro”, disse Lígia.
Julgamento histórico
Élcio e Roni respondem por duplo homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, com emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima — e por tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, então assessora de Marielle e única sobrevivente do ataque.
Fernanda é uma das testemunhas que será ouvida na quarta-feira (30/10). Além dela, devem ser ouvidas oito testemunhas, duas delas indicadas pela defesa de Roni Lessa. A previsão é de que essa fase do júri se estenda por dois dias.
Leia também: Artigo | O espectro de Marielle Franco é a urgência da resistência negra
Roni está preso no Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo, e Élcio no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal.
Os dois fizeram acordo de delação premiada. Élcio admitiu ter dirigido o carro para que Roni atirasse contra o veículo onde estavam Marielle, Anderson e Fernanda.
Assine a Newsletter da Ponte! É de graça
Roni Lessa apontou os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão como mandantes do crime. O ex-deputado federal e o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, respectivamente, também estão presos, indiciados pelo crime. Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, também foi preso, acusado de auxiliar os irmãos a planejar o crime.
O julgamento, considerado de importância histórica, será transmitido ao vivo pelo canal do YouTube do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.