Renato Freitas estava fazendo panfletagem em uma praça quando foi atingido; em nota oficial, Guarda Municipal afirma que vítima estava em grupo que teria avançado nos agentes
O candidato a deputado estadual pelo PT-PR Renato Freitas foi agredido com dois tiros de bala de borracha disparados pela guarda municipal de Curitiba neste domingo (9/9), quando fazia panfletagem na praça do Gaúcho. Segundo Freitas, guardas se aproximaram dele e de alguns amigos que fazem parte da campanha, cercaram o grupo e um dos agentes teria dito a ele: “Você é idiota ou o que?”.
“Eu olhei e perguntei se era comigo e realmente era. Rebati dizendo que não era idiota e que estava fazendo campanha em uma praça pública da cidade. Ele olhou e disse: ‘Suma daqui. Você é surdo? Suma’. Eu disse que tinha direito de ir e vir e não poderia imaginar que esse diálogo geraria um choque tão grande no guarda, que ficou descontrolado, apontou a arma calibre 12, de bala de borracha, e atirou”, contou Renato Freitas em uma transmissão ao vivo na página dele no Facebook, realizada no início da tarde desta segunda-feira (10/9).
Renato foi atingido à queima roupa duas vezes: primeiro na mão esquerda, depois quando virei para tentar se proteger, nas costas. “Estou com dificuldade de movimentar os dedos. Quebrei o dedo da outra mão, por causa dos estilhaços. Ele [o guarda municipal] estava a dois metros de distância, muito próximo mesmo. Poderia ter me algemado, por exemplo. Mas não. Ele atirou. A dor foi muito forte e eu cai. E ele engatilhou de novo para atirar a terceira vez e eu protegi o rosto”, segue. Renato afirma que, nesse momento, quando já estava no chão, os amigos dele e outras pessoas da praça foram intervir.
Há uma lei federal de 2014 que regulamenta o uso de armas não letais – assim é considerada a munição de borracha – pelas forças de segurança, observando critérios de necessidade, razoabilidade, legalidade e proporcionalidade. Um dos critérios observados é justamente o apontado por Renato: a distância entre o agente e a vítima. Reportagem publicada pela Ponte a partir de documento secreto da Polícia Militar de SP aponta que distância mínima para disparo é de 20 metros. Além disso, forças de segurança só podem usar munição de borracha contra agressores e devem mirar nas pernas.
Renato Freitas conta que, na sequência, os guardas arrastaram ele para fora da praça e o colocaram na viatura. “Pedi para amigos filmarem e perguntarem o motivo de tudo aquilo. A guarda municipal não sabia por que tinham feito isso. Quiseram chamar o socorro pra mim, o Samu, mas eles não esperaram, me pegaram como um saco de batatas e me jogaram na parte de trás da viatura. Raspei outras partes do corpo, estou todo machucado”, afirma o candidato, mostrando marcas de sangue na roupa e na cama.
No Hospital Cajuru, Renato afirma que sofreu outras humilhações por parte dos guardas, que fizeram chacota dele e afirmaram aos médicos que o atendiam que ele era uma pessoa perigosa. “Afirmaram que eu tinha passagens pela polícia, o que é mentira. Eu sofri chacota, fui motivo de piada pelos guardas”, contou. Advogados ligados ao partido chegaram a divulgar em redes sociais que não foi respeitado o direito de Renato de ser assistido quando passava por atendimento no hospital. “Estamos aqui do lado de fora, soubemos que ele recebeu voz de prisão e nossa entrada foi vetada”, afirmou André Castelo Branco na página dele do Facebook.
No vídeo feito por Renato, ele, que é negro, destaca que o tipo de violência que sofreu é uma constante nas periferias das grandes cidades. “Isso que aconteceu comigo acontece todo dias nas periferias, em lugares escuros, onde ninguém vê, onde a polícia faz o que quer”, critica. “Estou torcendo para que essa violência não me afunde na areia movediça do ódio”.
Para ele, as agressões podem ter sido motivadas por vingança. Renato conta que há dois anos foi detido de maneira arbitrária e agredido por guardas municipais e, após denúncia, foi aberto uma sindicância para apurar a conduta dos dois guardas. “Na quinta estive prestando depoimento na qualidade de vítima contra dois guardas municipais. Foi entendido que havia razão para abrir inquérito, que já foi instaurado e provavelmente eles serão punidos. Então isso pode ter sido uma represália pelo fato de eu ter corrido atrás e de alguma forma incomodado esses guardas que me agrediram naquela época”, conta.
No final do vídeo, Renato faz um apelo para que as pessoas compartilhem o relato como forma de proteção. “Quando todas as pessoas estão olhando eles recuam um pouco. Quando cai no esquecimento, eles acham que podem jogar qualquer um na vala comum. Nós somos seres humanos e se em todo esses anos do pós escravidão vocês ainda não aprenderam, a gente vai ensinar. E vamos ensinar da melhor forma. A gente repudia o método de vocês. A violência é destruidora e a justiça é construção, é libertadora”, conclui.
Outro lado
Procurada, a assessoria de imprensa da Guarda Municipal de Curitiba, submetida à prefeitura da cidade, afirma que agentes reagiram a uma investida do grupo do qual Renato Freitas Junior fazia parte. Segundo a nota, a guarda foi acionada por moradores do entorno da Praça do Gaúcho, por volta das 19h do domingo (9/9), porque estaria acontecendo um ‘racha’, “havia grupos de pessoas consumindo droga e promovendo perturbação do sossego em espaço público”.
“A Guarda Municipal atendeu ao chamado e precisou usar arma não letal (com bala de borracha) para conter o grupo – de aproximadamente 200 pessoas – e para restabelecer a ordem no local. Renato Almeida Freitas Junior, que é candidato a deputado estadual, estava no grupo que avançou contra os seis guardas municipais e acabou ferido na mão e nas costas”, diz a nota assinada pela Secretaria de Defesa Social e Trânsito. Após a liberação médica, o candidato foi levado à Central de Flagrantes da Polícia Civil, onde o caso foi registrado.