Causa da morte de jovem baleado duas vezes por PMs é ‘indefinida’, diz médico

    Vinícius Oliveira da Costa, 19 anos, levou tiros na cabeça e no abdômen, mas, de acordo com declaração de óbito, não é possível saber o que causou sua morte

    Vinícius estava no terceiro ano do ensino médio e queria ser policial militar - Foto: Arquivo Pessoal
    Vinícius estava no terceiro ano do ensino médio e queria ser policial militar – Foto: Arquivo Pessoal

    No atestado de óbito entregue à família de Vinícius Oliveira da Costa, o jovem de 19 anos que sonhava ser da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a causa da morte está classificada como “indefinida”. Vinícius da Costa foi baleado duas vezes, pelas costas, na madrugada do último domingo (9/10). A avaliação foi assinada pelo médico Gonçalo Pinto de Oliveira.

    O jovem estaria dirigindo um carro roubado, quando foi abordado e se rendeu aos PMs José Roberto Pereira Bersani Júnior, Renato da Silva Ribeiro e Felipe Pereira do Nascimento, todos da 1ª Companhia do 29º Batalhão, que atua na região do Itaim Paulista, zona leste da capital.

    Declaração de óbito de Vinícius Oliveira da Costa, assinado pelo médico Gonçalo Pinto de Oliveira - Foto: Reprodução
    Declaração de óbito de Vinícius Oliveira da Costa, assinado pelo médico Gonçalo Pinto de Oliveira – Foto: Reprodução

    De acordo com testemunhas, assim que os policiais deram sinal de parada, ele abandonou o carro e se rendeu. Ao se render, levou o primeiro tiro, no abdômen. Decidiu, então, correr e gritar por socorro, quando foi baleado pela segunda vez, na cabeça. Com duas perfurações no corpo, pelas costas, o certo era que a causa da morte no atestado fosse FAF (Ferimento causado por arma de fogo).

    De acordo com um primo da vítima, chamado Gil, o médico errou de propósito a causa da morte no atestado de óbito. “Eles fizeram tudo errado na tentativa de abafar o caso”, afirmou à Ponte Jornalismo. Vinícius estudava o terceiro ano do ensino médio e ajudava o pai, em uma van escolar, e a mãe, nas vendas de produtos de comida mineira.

    Vinícius posa com a mãe, Sueli, na primeira vez que dirigiu um carro com carteira de habilitação, há 20 dias - Foto: Arquivo Pessoal
    Vinícius posa com a mãe, Sueli, na primeira vez que dirigiu um carro com carteira de habilitação, há 20 dias – Foto: Arquivo Pessoal

    Ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil de SP, os PMs disseram que faziam um patrulhamento, quando viram um adolescente dirigindo um carro. Os policiais abordaram o jovem e o conduziam até o 50º Distrito Policial (Itaim Paulista) quando teriam cruzado com Vinícius da Costa, que estaria dirigindo um carro roubado.

    A ocorrência ocorreu às 4h e só foi comunicada à Polícia Civil às 10h, seis horas depois. A versão apresentada pelos PMs é de que ele desceu do carro atirando contra os policiais, que revidaram. “Se ele estava errado, por que não atiraram na perna? Ele não estava nem armado. Virou as costas para os policiais e se rendeu. Foram cruéis com meu filho”, diz a mãe, Sueli Rodrigues.

    Vinícius só andava de boné para trás. O furo no boné prova que ele foi baleado na cabeça pelas costas - Foto: Arquivo Pessoal
    Vinícius só andava de boné para trás. O furo no boné prova que ele foi baleado na cabeça pelas costas – Foto: Arquivo Pessoal

    Outro lado

    A reportagem da Ponte Jornalismo questionou, na tarde desta quarta-feira (12/10), a Prefeitura de São Paulo sobre o atestado de óbito de Vinícius Oliveira da Costa. Até o momento, a Prefeitura não se manifestou.

    Ponte Jornalismo também procurou, às 17h52 de terça-feira (11), as assessorias de imprensa da Polícia Militar e da Secretaria da Segurança Pública, comandada pela empresa terceirizada CDN Comunicação, para que as organizações estatais pudessem se posicionar sobre o caso. Confira quais foram os questionamentos:

    1) O que aconteceu durante aquela ocorrência?

    2) Os policiais afirmam que ele atirou, mas os dois tiros, sendo um na cabeça, atingiram Vinícius pela costas. Isso pode apresentar alguma contradição?

    3) O que aconteceu com os PMs envolvidos no caso?

    4) Podem, por gentileza, encaminhar um pedido de entrevista com os PMs envolvidos para que eles possam se defender?

    5) A mãe, Sueli, diz que chegou a ser agredida por um PM enquanto tentava ver o corpo do filho. Isso procede?

    6) Qual a posição do secretário sobre o caso?

    Por telefone, a pasta afirmou que apura o caso, mas, pelo horário da solicitação e devido ao feriado do Dia das Crianças, o posicionamento deveria ser dado até quinta-feira (13). Às 20h06 do dia 12, a SSP se posicionou com a seguinte nota:

    “A SSP informa que o caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Um inquérito policial militar foi instaurado para identificar se houve irregularidade na ação dos policiais envolvidos na ocorrência e é acompanhado pela Corregedoria da Polícia Militar.”

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