Número de mortos no primeiro trimestre do ano foi o maior da série histórica, iniciada em 1996; 64% das vítimas com registro de raça eram negras
A cada oito horas e meia um policial militar do Estado de São Paulo mata uma pessoa em ocorrência posteriormente registrada como “morte decorrente de intervenção policial”, o antigo auto de resistência. Essa é a média da letalidade policial entre janeiro e março de 2020, que é a maior da série histórica divulgada pelo Governo paulista, iniciada em 1996.
A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) divulgou na sexta-feira (24/4) os números das estatísticas trimestrais da pasta. Segundo os dados, nos primeiros três meses deste ano, a PM matou 255 pessoas em supostos confrontos, sendo que 85,5% (218 mortes) foram cometidas por policiais em serviço.
Antes deste ano, 2003 havia sido o trimestre com mais mortos por policiais militares em serviço e folga, quando 228 pessoas foram mortas — 196 por PMs fardados e 32 por policiais de folga.
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Na comparação entre janeiro e março deste ano com o mesmo período do ano passado, a elevação no número total de mortos por policiais militares no Estado de São Paulo foi de 23,2%. Em 2019, 28 morreram após supostas resistências a PMs de folga, e outras 179 pessoas tiveram a vida tirada por um policial em serviço.
Os dados também apontam que o número de policiais militares mortos em serviço saltou de dois, no primeiro trimestre de 2019, para seis no mesmo período deste ano. A quantidade de PMs vítimas durante folga elevou ainda mais: aumento de um para sete na comparação entre janeiro e março do ano passado e de 2020.
Por meio de nota, a SSP-SP, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos nesta gestão de João Doria (PSDB), disse que a “atual política de segurança pública, além de intensificar o patrulhamento por meio da realização de megaoperações, utiliza a tecnologia e a inteligência policial para posicionar os agentes nas áreas com maior incidência criminal a fim de evitar esses delitos”.
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Segundo a secretaria, por esse motivo “a pronta resposta dos agentes é diminuída e muitas vezes os policiais chegam aos locais de crime com rapidez, com a ocorrência ainda em andamento e com os criminosos armados subjugando às vítimas”.
Das 218 pessoas mortes por policiais militares em serviço, o Portal da Transparência da SSP-SP disponibiliza informações de 178 boletins de ocorrências, que registraram, no total, 211 mortes (há B.O.s com mais de uma morte).
Os boletins apontam que 61 cidades paulistas registraram pelo menos uma ocorrência de “morte decorrente de intervenção policial”. A capital é a que concentra o maior número de mortos pela PM: 57. O segundo município com mais mortes é Campinas, no interior de São Paulo, com 11 vítimas.
Os boletins de ocorrência apontam ainda que Guarujá (litoral) e São José do Rio Preto (interior), com sete mortes em cada cidade, aparecem como as terceiras mais letais, seguidas por Osasco (Grande SP) e Santos (litoral) com seis em cada.
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Para o advogado Elizeu Soares Lopes, ouvidor das Polícias de São Paulo, o aumento no número de mortes pela PM de São Paulo, aliado com a alta nos homicídios do Estado, pode representar uma “mudança no comportamento da sociedade e de toda polícia”.
Os homicídios tiveram alta no mês de março, passando de 255 no terceiro mês do ano passado para 296 para o mesmo mês deste ano. No trimestre, no entanto, o Estado teve uma redução de 2,6% neste tipo de crime.
O ouvidor disse que vai designar a uma equipe técnica para fazer uma análise dos dados, para entender o perfil de quem morre e, após avaliar juntamente com as polícias, vai “propor medidas de políticas públicas que vão ao encontro da necessidade da população do Estado”.
Quem morre
Os boletins de ocorrência do Portal da Transparência apontam a cor de pele de 202 pessoas mortas por PMs fardados no primeiro trimestre de 2020. Dos que tiveram essa informação descrita, 54,9% eram pardos e 8,9% eram pretos. Os B.O.s apontam para 72 (35,6%) brancos mortos por policiais militares em serviço e uma pessoa morta era amarela.
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Os documentos indicam a idade de 128 mortos em supostas resistências. Mais da metade (68) era jovem com idades entre 18 e 29 anos. Treze vítimas eram adolescentes, sendo que o mais novo, Ronaldo dos Santos, tinha 14 anos, era pardo, e morreu no dia 22 de março, no Parque São Rafael, extremo da zona leste de São Paulo.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o confronto nunca é “uma opção dos agentes de segurança”. A pasta afirma que os policiais “atuam para prender e levar à Justiça aqueles que estão em desacordo com a lei”.
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