Associação de policiais com deficiência afirma que moverá ação contra responsáveis pelo filme “Vai que Dá Certo”, atendendo a pedido do comandante-geral Ricardo Gambaroni

A Associação dos Policiais Militares Portadores de Deficiência do Estado de São Paulo (APMDFESP) foi criada em 1993 com o objetivo de “atuar na reabilitação física e psicológica do policial militar com deficiência e seus dependentes”. Na semana passada, ganhou mais uma missão. A associação anunciou que, atendendo a um pedido do comando da PM paulista, vai entrar na justiça contra uma comédia da Globo Filmes feita há três anos.
O alvo dos policiais é o filme “Vai que Dá Certo” (2013), dirigido por Maurício Farias, estrelada por Bruno Mazzeo e Fábio Porchat, que também atuam como produtores do longa. Uma cena em que dois policiais militares aceitam receber suborno para livrar a cara dos protagonistas, detidos com um fuzil dentro do carro, desagradou o comandante-geral da PM, coronel Ricardo Gambaroni.
Num ofício enviado em 11 de fevereiro deste ano, o coronel, que é subordinado ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), pede à APMDFESP que estude a possibilidade de adotar medidas judiciais contra o “dano moral institucional” que teria sido cometido pelo filme. Na semana passada, a Associação divulgou em seu site uma nota em que se compromete a atender o pedido do comandante. Na nota, o advogado da entidade, Fernando Capano, afirma que a PM acionou a associação por não ter “personalidade jurídica própria para fazer propositura de ação”.

No ofício, Gambaroni faz várias críticas ao modo como os dois policiais são retratados no filme. Segundo o comandante, os policiais mostram uma “atitude desleixada, mal educada e relapsa” e “totalmente dissonante do profissionalismo esperado” ao aceitar o suborno, “terminando com o assédio à personagem feminina” (na cena, um dos PMs chama a personagem da atriz Natália Lage de “gostosa”).
Na mesma sequência, um dos PMs agride sem motivo o personagem de Lúcio Mauro Filho com um tapa. Curiosamente, a agressão não figura na lista de ações que desagradou o comandante da corporação.
“As cenas relatadas, por óbvio totalmente irregulares e difamatórias, passam no espectador a mensagem de serem tais posturas práticas rotineiras do serviço policial militar no patrulhamento ostensivo preventivo, o que ataca diretamente a imagem da Instituição e de seus integrantes, ofensa que se estende a todos os familiares e pessoas próximas, destacadamente às famílias dos 28 policiais militares que tombaram durante o serviço, no cumprimento do dever, nos últimos 4 anos; para estes e seus familiares, o que agora se reproduz sequer oferece o direito constitucional de defesa ou resposta”, afirma o ofício de Gambaroni, divulgado pela APMDFESP.
O advogado da Associação concordou com a avaliação de Gambaroni e considerou o filme “abusivo”. Na ação que pretende mover contra os produtores, Capano diz que pretende pedir a inserção, no filme, de um aviso de que os episódios mostrados “não guardam qualquer tipo de relação com a realidade” ou uma declaração pública dos responsáveis “esclarecendo que não houve, em momento algum, a intenção de ofender a imagem da corporação paulista e que a história não passa de ficção”.
“Vai que Dá Certo” alcançou um público de 2.735.546 espectadores nos cinemas e rendeu uma sequência, “Vai que Dá Certo 2”, em janeiro deste ano.
Não é a primeira vez que o humor de Fábio Porchat recebe ataques de policiais militares. Em 2014, comentaristas de internet ameaçaram o humorista de morte por conta de um esquete do canal Porta dos Fundos, Dura, escrito e protagonizado por ele, que mostrava duas pessoas comuns tratando uma dupla de PMs com a mesma violência com que alguns policiais tratam a população. Na época, o pai do humorista, o ex-deputado federal por São Paulo Fábio Porchat, apelou ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que pediu providências aos governos federal e do Rio de Janeiro. Uma atitude que desagradou o comediante. “Se eu faço uma piada, eu tenho que aguentar sozinho as consequências dela, não preciso da ajuda de ninguém, e, se precisar, eu peço”, escreveu Porchat filho em sua coluna no Estadão.
Outro lado
A reportagem entrou em contato, por e-mail, com Porchat, a Globo Filmes e com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo. O único retorno veio da SSP, que prometeu que a assessoria de imprensa da PM daria uma resposta. Até agora, não deu.