Corregedoria da PM de SP pede prisão de policiais após vídeo sugerir execução de motorista e ocultação de provas

Imagens divulgadas pela própria Polícia Militar mostram que um motorista foi baleado por policiais militares e que posteriormente os PMs teriam retirado o corpo e o veículo do local neste domingo na capital paulista

O vídeo divulgado pela PM sugere que policiais militares executaram e ocultaram provas do suposto crime | Foto: Reprodução

A Corregedoria da Polícia Militar (PM) e a Polícia Civil pediram a prisão preventiva dos policiais militares Alex Medeiros Borges, Cristiano Procopio Magalhães e Dimas dos Santos Silva do 27º Batalhão da PM (BPM) envolvidos na morte de um homem e na ocultação de provas do crime ocorrido no Grajaú, na zona sul de São Paulo, no último domingo (11/7). 

Um vídeo com imagens de uma câmera de segurança divulgado pela própria PM mostra uma viatura se aproximando de um carro que estava parado às 2h04 da manhã na rua Antônio Comenale, em Parque Cocaia, área do 27º BPM/M (Batalão de Polícia Militar Metropolitano). No local o motorista do carro abre a porta do veículo e cai no chão. Nesse instante três policiais saem da viatura e colocam novamente o motorista supostamente ferido no banco de trás do carro, logo um dos policiais assume a direção do veículo enquanto os outros dois entram na viatura e seguem o carro da vítima para outro local. 

Imagens obtidas pelo Jornal da Record mostram cenas posteriores a este fato, quando poucos minutos depois policiais teriam simulado um confronto com o motorista. A câmera de vigilância registrou a viatura à frente do veículo a caminho de uma rua sem saída na periferia da zona sul de São Paulo, que fica a 1,5 km do local onde o homem foi parado. Ali segundo o jornal, o veículo do motorista baleado teria ficado encurralado em um beco pela viatura.

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Uma outra imagem divulgada pelo Jornal da Record revela que, três horas após a morte do homem, manchas de sangue no asfalto foram ocultadas por um motociclista que jogou areia sobre a área. “A investigação acredita que ele seja um guarda noturno que foi ao local a pedido dos policiais”, diz o texto publicado pelo portal de notícias R7. 

Segundo a versão dos policiais colocada no boletim de ocorrência, o homem teria sido morto durante um confronto em uma tentativa de abordagem, na esquina da rua Particular com a rua Canção Popular, no bairro de Jardim Lucélia, local diferente do registrado pelas câmeras. No documento eles também alegam que havia mais de uma pessoa no carro, destacam que houve acompanhamento até a área do 50º BPM/M, onde “os indivíduos pararam o veículo, desembarcaram e ocorreu o confronto”. Um indivíduo foi ferido e socorrido pela equipe médica do Pronto Socorro do Hospital Grajaú, onde morreu. “Os outros indivíduos fugiram. Ocorrência foi encaminhada ao DP para providências da Polícia Civil”, diz a nota da PM que explica a versão dos policiais envolvidos.

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Mauro da Costa Ribas Júnior, advogado dos policiais, afirmou à Ponte que eles não cumpriam uma ocorrência no momento da perseguição. “Eles estavam em patrulhamento e se depararam com o veículo em atitude suspeita”. Sobre o policial que tomou o controle do veículo da vítima, o advogado diz que não teve acesso à íntegra das filmagens e do inquérito. “Assim que a gente tiver, a gente vai se manifestar a respeito desses objetos, aparece na ocorrência a troca de tiros, o indivíduo estava armado e desceria o disparos contra a equipe”.

Em relação aos próximos passos, Ribas Júnior diz que o primeiro é esperar juntarem todos os elementos no inquérito. “Tanto no inquérito policial, na Polícia Civil como no inquérito da Policial Militar pela Corregedoria. Assim que juntarem todos os elementos, nós vamos nos manifestar, os policiais apresentarão a versão deles para então a defesa passar a atuar, mas a princípio, a tese, o que foi da ocorrência que a defesa irá sustentar, é a legitimidade da ocorrência de morte decorrente na intervenção policial”, conclui.

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A PM disse em nota que as imagens das câmeras apontam para divergências na versão dos policiais. “Conforme a materialidade trazida pela investigação da Corregedoria da PMESP, iniciada imediatamente após os fatos, calcada em sistemas eletrônicos de controle e imagens, mostrou que a dinâmica dos fatos foi totalmente diversa da versão apresentada pelos policiais”.

“Imediatamente, o Comando da instituição, por intermédio da Corregedoria representou pela prisão preventiva dos envolvidos ao Tribunal de Justiça Militar (TJM). A PM possui um forte sistema de controle e fiscalização para fornecer à sociedade total transparência de seus atos e não mede esforços para investigar e, se necessário, cortar na carne, sendo certo que os atos abomináveis como esses serão punidos com o máximo rigor da Lei”, afirmou a corporação em nota.

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A Ponte solicitou uma entrevista com o Coronel Fernando Alencar Medeiros, Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, mas não obteve resposta até a divulgação desta reportagem.

Segundo a PM, as circunstâncias do disparo estão sendo investigadas. Os policiais foram afastados enquanto se aguarda a decisão do TJM.

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