Diretor acusado de omissão em casos de racismo é demitido de escola em SP

Caso foi revelado pela Ponte em dezembro do ano passado; se quiser combater o racismo, escola precisa começar a ouvir sua comunidade interna, diz pai de ex-aluna do Colégio São Domingos

Detalhe da fachada do Colégio São Domingos, em São Paulo | Foto: Reprodução / Facebook

Uma parte dos pais de alunos do Colégio São Domingos, na zona oeste da cidade de São Paulo, está mais aliviada e confiante na educação dos seus filhos atualmente. Nesta segunda-feira (20/3), a Associação Cultural São Paulo, mantenedora da unidade de ensino, enviou um comunicado informando que o diretor Silvio Barini foi desligado da escola.

Um grupo de pais se queixava da omissão do educador em episódios de racismo ocorridos dentro da instituição. Em dezembro do ano passado a Ponte publicou uma reportagem na qual os responsáveis pelos estudantes relataram casos em que Barini não deu, segundo eles, a devida importância às denúncias e se negava a assumir que havia qualquer tipo de preconceito dentro do São Domingos.

“Acompanhamos, com atenção, os desgastes no relacionamento do Prof. Silvio com vários elos da comunidade escolar. Cientes disso, entendemos que mudar é um precioso valor para um Colégio que, há mais de 60 anos, vem participando das transformações do mundo e da sociedade”, diz um trecho na nota enviada aos pais de alunos do São Domingos, assinada pelo presidente da Associação São Paulo Fernando de Oliveira Marques.

O professor Silvio Barini não concedeu entrevista para tratar do assunto no final do ano passado alegando estar afastado das atividades na escola devido a uma licença médica. Porém, no mesmo dia da publicação da reportagem, o ex-diretor enviou um comunicado aos pais dos alunos refutando as acusações contra ele.

“Desconheço os interesses envolvidos nas iniciativas de denúncia e no teor delas. De todo modo, não nos atemos a interesses, recorremos aos nossos princípios amplamente conhecidos pela Comunidade. São eles que norteiam nosso projeto de escola”, escreveu o professor em uma carta aos pais dos alunos da instituição de ensino.

Pai de uma ex-aluna do Colégio São Domingos, o sociólogo Acácio Almeida, 62 anos, faz críticas à presidência da Associação Cultural São Paulo na condução do caso, mesmo com a demissão do diretor.

“É importante lembrar que os desgastes no relacionamento foram produzidos pela ação descabida e pela inação proposital do diretor em relação às questões raciais que afetam diretamente a comunidade do CSD, especialmente as crianças negras (e as crianças brancas). Se a presidência da Associação Cultural São Paulo, mantenedora do Colégio São Domingos, deseja realmente mudar as coisas, deve começar não escamoteando os temas, valorizando a comunidade interna, especialmente as professoras e os professores que sempre trouxeram propostas efetivas para o projeto de educação antirracista, valorizando quem limpa a escola e quem a coordena”, afirma o sociólogo.

Entenda o caso

A filha de 10 anos da psicóloga Adriana Castilho foi vítima de racismo na escola em três ocasiões. Os episódios foram levados ao conhecimento da direção, que segundo ela, não prestou a devida atenção que os casos precisavam. Ela não era a única a ter queixas da omissão do professor Barini em relação ao racismo.

Adriana entrou com uma representação no Ministério Público de São Paulo para denunciar a omissão da escola. O Ministério Público de São Paulo (MPSP) confirmou que a denúncia foi recebida e está a cargo do Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância (Gecradi). Segundo a assessoria de imprensa do MPSP, casos apurados por esse grupo são sigilosos. 

Outros pais de alunos e ex-alunos do São Domingos também tinham histórias parecidas com as vividas por Adriana. Para levar o debate do combate ao racismo dentro da escola foi criado o Núcleo pela Igualdade Racial, onde a comunidade escolar era convidada a refletir sobre como o racismo perpassa em diferentes situações do cotidiano. 

Ajude a Ponte!

Membros do núcleo afirmaram que o diretor não via a iniciativa com bons olhos. “Quando o núcleo foi criado ele já não foi bem recebido pela direção. O Silvio não tem noção do que é desenvolver uma escola antirracista”, disse Eduardo Jeolas, pai de um aluno negro da Colégio São Domingos.

Outro lado

A Ponte não conseguiu entrar em contato com Silvio Barini para que ele pudesse comentar a sua demissão do Colégio São Domingos.

Já que Tamo junto até aqui…

Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

Ajude

mais lidas