Gestão Doria proíbe PM de usar farda em pedido de casamento na Parada LGBT+

    Solicitação partiu do soldado Leandro Prior, ameaçado de morte por outros policiais quando gravado beijando o namorado no metrô de SP; no pedido, ele argumenta que seria excelente oportunidade para corporação dizer à sociedade que ‘não compactua com a homofobia’

    Soldado Leandro Prior denunciou as ameaças que sofreu na Ouvidoria da Polícia de São Paulo | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    O governo de São Paulo de João Doria (PSDB) negou que um policial homossexual pedisse o seu companheiro em casamento usando o uniforme da Polícia Militar durante a Parada LGBT+, que será realizada neste domingo (20/6) na Avenida Paulista, em São Paulo. A negativa partiu da própria PM, comandada pelo governador, argumentando que o uso de fardamento é proibido em manifestações.

    Na tarde desta quarta-feira (19/6), o soldado Leandro Prior entrou com o pedido na Corregedoria da PM. Ele argumentava que seria uma “excelente oportunidade” para a instituição acenar para a sociedade que não compactua com a homofobia, citando o episódio que sofrera em junho de 2018.

    À época, Prior foi filmado por uma pessoa no metro de São Paulo enquanto beijava seu namorado. O ódio veio como reação instantânea, desde irmãos de farda até repulsa do então governador do estado, Márcio França, condenando que ‘a farda deveria ser respeitada’. O sargento da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) Renato Nobile o chamou de “desgraçado, canalha safado. Desonra para a minha corporação. Esse tinha que morrer na pedrada!”, publicou em seu perfil no Facebook – posteriormente, argumentou que a página havia sido hackeada.

    O soldado usa como base para o pedido as “Revoltas de Stonewall“, série de manifestações da população LGBT+ ocorrida em 1969 nos Estados Unidos, contra a tortura da comunidade por parte da Polícia de Nova York. “Esses motins são mundialmente considerados como o evento mais importante que deu origem ao movimento moderno de luta pelos direitos LGBT”, argumenta o documento de Prior, citando que em 2019 completa-se 50 anos destes atos. Ainda cita que o chefe de polícia do Estado americano pediu perdão oficialmente no dia 6 de junho deste ano pela repressão ocorrida meio século atrás.

    No entanto, a argumentação do soldado não foi acolhida por João Doria e sua Polícia Militar, que negou o pedido. Em resposta à solicitação de Prior, a corporação argumentou que o artigo 37 da Constituição Federal, “a Polícia Militar deve seguir o princípio da legalidade” e que “os agentes públicos apenas podem fazer o que a lei determina”. Assim, impediu que Prior peça seu companheiro em casamento usando a farda da PM paulista.

    “Considerando que o uso do fardamento por Policial Militar em manifestações não esta previsto no regulamento de uniformes, não há fundamentação legal para que seja autorizada a sua utilização, motivo pelo qual foi indeferido o pedido”, sustenta nota da PM enviada à imprensa, ressaltando que haverá “dois grandes eventos” na área central de São Paulo no domingo: a Marcha para Jesus e a 23ª Parada LGBT+.

    A nota ainda sustenta que esses eventos “estimam atrair cerca de 5 milhões de pessoas, havendo necessidade de reforço no policiamento, bem como emprego de todo o efetivo disponível, e afim de se garantir a segurança de todos os participantes, está sendo empregado efetivo administrativo do CPA/M-1, com reforço do Comando da Capital e apoio do Comando de Policiamento de Choque”, diz a PM paulista, sem especificar se neste dia específico o soldado Leandro Prior está de serviço ou não.

    A Ponte tentou contato com o soldado e seu advogado, mas não conseguiu até a publicação da reportagem um posicionamento oficial sobre a recusa de seu pedido.

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    4 anos atrás

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    4 anos atrás

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    […] Prior, ao contrário dos colegas, decidiu criar uma candidatura coletiva que ainda não está fechada, chamada Bancada Antifascista, que vai unir além de policiais, militantes de outros segmentos. Ele, assim como os demais entrevistados, também sofreu perseguições na tropa por posições políticas e por ser gay, tendo sido espionado pela corporação quando foi pedir o namorado em casamento e proibido de usar farda durante o pedido. […]

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