‘Duas horas é pouco para tanta saudade’: voltam as visitas a presos em SP

    Depois de oito meses, familiares encontraram seus parentes nos presídios de SP neste fim de semana; especialista aponta que visita é fundamental para identificar violações de direitos

    Foto: Paulo Eduardo Dias/Ponte Jornalismo

    Depois de oito longos meses, familiares puderam visitar seus parentes presos no estado de São Paulo neste fim de semana (7 e 8/11). A retomada das visitas ainda não é completa e o horário da visita foi reduzido para duas horas.

    Para evitar o contágio do coronavírus, a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) listou algumas regras para garantir uma visita segura: não ir de mochilas, bolsas ou levar comida para o preso e sem contato físico. No próximo fim de semana, 14 e 15 de novembro, outros raios nas unidades receberão visitas.

    Leia também: Conheça as regras para a volta das visitas presenciais em presídios de SP

    Em entrevista à Ponte, a esposa de um dos detentos do Centro de Detenção Provisória de Osasco II, que entrou no primeiro horário, contou como foi rever o marido depois de tanto tempo. “A visita foi boa. Tudo o que a SAP anunciou foi cumprido: foi medida a temperatura, passado o álcool em gel, medida a saturação”.

    “Já tinha cinco meses que eu não via o meu marido, duas horas é pouco para tanta saudade. A única coisa ruim é não poder levar a alimentação. Com a visita a gente consegue confortar, dar força para eles”, completou.

    Essa também foi a sensação de outra familiar que visitou no mesmo presídio no segundo horário do dia. “Todas fomos bem tratadas. Foi muito bom e importante também, pois não tem coisa melhor do que o ver pessoalmente e saber da boca dele que está tudo tranquilo. A visita é muito importante, eles precisam do apoio da família para sair dessa vida”.

    Leia também: Famílias de presos cobram visitas e lembram Carandiru: ‘massacre agora é silencioso’

    A ativista Mayara Marinho, 26 anos, estudante de direito e pesquisadora do sistema prisional, dona do canal de YouTube Vozes do Cárcere, aponta que a pandemia do coronavírus foi uma “bela desculpa” para o governo barrar as visitas.

    “Desde que esse governo atual [João Doria, do PSDB] era apenas um plano, a proposta sempre foi essa: acabar com a visitação em presídios e as saídas temporárias. Com isto, foram empurrando até onde deu”, critica. “Tenho plena certeza que se não houvessem advogados ativistas e todo o esforço das meninas que visitam esse direito não voltaria”.

    Para Marinho, não poder levar o jumbo, itens essenciais de alimentação e materiais de higiene, é um problema. “Esses materiais são levados pela família porque os presos não têm acesso a eles lá dentro. O governo deveria, então, arcar com tudo pra eles, mas não arca”.

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    Ela também pontua a importância da visita para identificar eventuais violações de direitos. “Quando eu visitava voluntariamente a unidade feminina do Butantã, flagrava muitos abusos. O descaso era total, tantos casos de abandono jurídico quanto afetivo. Fora as mazelas que o próprio sistema oferecia”.

    “A visitação serve para você ver como seu familiar está. Não tem como denunciar ou ver se a pessoa está bem por carta, já que sabemos que existe censura e que o sistema jamais vai deixar passar uma carta falando que o preso foi torturado”, completa.

    A reportagem procurou a SAP para confirmar como foram as visitas e aguarda retorno.

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