Protesto realizado na segunda (27) após morte de três jovens no sábado (25) teve gás lacrimogêneo na Favela da Alba, zona sul da cidade. Nesta terça (28), operação com 18 viaturas fechou vias e intimidou moradores, mas não prendeu ninguém
Pelo segundo dia consecutivo, as oito linhas de ônibus que atravessam a Rua Alba, no Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, não puderam passar pela via. Depois do protesto feito na segunda-feira (27/9) por conta da chacina em que três jovens foram mortos no último final de semana, e reprimido com violência pela Polícia Militar, a força de segurança do estado retornou ao local na tarde desta terça-feira (28/9), fazendo incursões dentro das vielas da comunidades. O clima é de tensão entre os moradores e os poucos que falam sobre os fatos dos últimos pedem para não serem identificados.
Alexandre Monteiro de Morais, de 25 anos, Matheus Martins dos Santos, de 17, e Cristian Benedito Pereira da Silva, de 16, foram mortos a tiros por um homem em uma moto na Favela da Alba. Segundo os moradores, o crime não tem explicação pois os jovens sempre foram vistos como bons garotos pela comunidade. “Eram meninos que faziam coisas normais que todo adolescente faz normalmente. Não tinham nenhum envolvimento com coisa errada”, disse uma moradora do local, sob condição de anonimato.
Dois dias após a chacina, amigos e familiares dos rapazes assassinados foram às ruas da comunidade pedir justiça e cobrar rapidez na investigação do crime. A Polícia Militar foi acionada e de, acordo com relatos, foram os PMs que começaram a agir com violência. “Era pro protesto ser pacífico, até os polícias chegarem. Eles começaram jogando bomba e a gente revidou como dava”, contou um jovem que diz ter participado da manifestação.
A reportagem da Ponte esteve na Alba na noite da segunda-feira (27) e viu barricadas feitas com fogo colocado em lixo em diferentes pontos da localidade sendo apagadas pelos bombeiros. Moradores soltaram fogos de artifício contra a Tropa de Choque, que revidou com bombas de gás lacrimogêneo.
Nesta terça-feira (28) a reportagem ficou na comunidade durante quatro horas e contou pelo menos 18 viaturas policiais com homens da Força Tática, Batalhão de Choque, Canil e patrulhas da Cavalaria. No tempo que ficou no local ninguém havia sido preso e nada foi apreendido pelos militares.
Medo toma conta dos moradores
“Claro que a gente tem medo. Três pessoas morreram e ninguém sabe quem matou e o porquê. A polícia não está vindo aqui pra saber quem matou. Esse monte de policial é para colocar pânico na comunidade”, diz um dos jovens que teria participado do protesto.
A psicóloga e articuladora da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocidio, Marisa Feffermann, esteve na Alba para prestar assistência para as famílias dos jovens assassinados. Ela confirma esse clima de medo e que este episódio, somada às ações dos policiais, deixam marcas em toda a comunidade, principalmente nos mais jovens.
“A gente tem que olhar para quem ficou. O que sobra para esses meninos? O que a sociedade tem para dizer para esses garotos quando o amigo dele de 16 anos, que não fez nada, é executado com um tiro na cabeça? Qual é a nossa responsabilidade?”
Além da insegurança, as ações policiais também afetaram o cotidiano dos moradores. A empregada doméstica Maria Aparecida dos Santos, 56 anos, se queixava por estar novamente tendo que se deslocar a pé para chegar em casa. “Tive que descer hoje lá na avenida Santa Catarina porque o ônibus não ia passar por aqui. Ontem eu nem consegui chegar em casa porque estava tudo fechado pela polícia. Tive que esperar até a noite para chegar em casa”.
O que diz a polícia
A reportagem da Ponte solicitou, por email, um posicionamento da Secretaria de Segurança Pública sobre as ações da Polícia Militar na favela da Alba na última segunda-feira. Até a publicação deste texto não obtivemos respostas.