‘Ela morreu sem estar fazendo nada, simplesmente sentada’, diz irmã de jovem morta pela PM

    Mara Oliveira de Lima, 19 anos, foi baleada e morta por um “tiro acidental” da Polícia Militar durante perseguição; irmã contradiz versão da PM sobre legítima defesa e afirma que suspeito não estava armado

    A estudante Mara Oliveira de Lima, 19 anos, foi morta por um tiro da PM na porta de sua casa na zona sul da cidade de São Paulo | Foto: Arquivo pessoal

    Na tarde do último domingo (7/2), a estudante Mara Oliveira de Lima, 19 anos, decidiu sentar um pouco na porta da sua casa, no beco Cinco Irmãos, no Jardim Rebouças, no Campo Limpo, zona sul da cidade de São Paulo. Mas, por volta das 14h, um suspeito foi perseguido pela Polícia Militar, do governador João Doria (PSDB), e Mara foi atingida com um tiro na barriga. Apesar de ter sido socorrida, ela não aguentou e morreu no Hospital Campo Limpo.

    O caso foi registrado às 16h56 no DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, pelo delegado Anderson Honorato dos Santos como homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e legítima defesa.

    Marcos de Meira Santos, 24 anos, policial militar da 3ª Companha do 16º Batalhão da Polícia Militar da capital, foi indiciado pela morte da estudante, mas o delegado afirmou que não havia motivos para decretar a prisão preventiva do PM, estipulando o valor de fiança de mais de R$ 35 mil.

    Segundo relatado pelo PM Meira e pelo PM Oneilton Alves de Souza, 32 anos, que também participou da ação, eles atendiam ocorrência quando viram um homem com “volume suspeito na cintura” e “acreditando que poderia se tratar de uma arma resolveram pela abordagem”. O PM Meira desceu da viatura e o suspeito teria fugido para o beco, fazendo menção de que sacaria o objeto que estava na cintura e o PM efetuou três disparos, um deles atingiu Mara.

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    A versão contada pela família, porém, é diferente da versão narrada pelos policiais militares. À Ponte, a monitora escolar Marina Oliveira Cordeiro, 21 anos, irmã mais velha de Mara, conta que viu a ação pela janela de casa. Marina estava na cozinha, fazendo almoço, quando um primo disse que a PM estava na rua.

    “Olhei pela janela, vi os policiais parando o carro, o passageiro desceu e foi na direção desse menino. O menino saiu correndo e o policial atirou. Minha irmã tava sentada na frente de casa. Eu vi o clarão, o barulho e a fumaça”, lembra.

    “Saí da janela e fiquei gritando a minha irmã porque achei estranho ela não entrar em casa. Eu fiquei desesperada, gritando o nome dela. Aí quando eu vi, minha irmã tava sentada, com a mão na barriga. Eu saí correndo e fui chamar a minha mãe. O menino não tava armado, só estava com o celular na mão”, completa.

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    A cozinheira Flanilda Oliveira de Lima, 36 anos, mãe de Mara, conta que não estava em casa, mas na vizinha e assim que ouviu os tiros correu para ver o que havia acontecido. Quando chegou, viu a filha sendo socorrida pelo PM Oneilton.

    “Fui na direção deles, perguntando por que ela, o que ela tinha feito. Ela já estava praticamente morta, não conseguia respirar. Fiquei desesperada, pedindo para levarem ela pro hospital. Subi para pegar os documentos e quando desci já tinham levado ela para o Hospital Campo Limpo”, relata.

    Mara deixa um filho de três anos. Um dos sonhos da filha, conta dona Flanilda, era trabalhar para cuidar do filho. A mãe também releva o medo que sentia quando a filha saia, mas nunca imaginava que na porta de casa perderia ela.

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    “Eu tinha medo quando ela saia, sempre falava para ela tomar cuidado, tinha medo de acontecer alguma coisa com ela na rua, mas aconteceu na porta de casa. Sem ela estar fazendo nada, estava simplesmente sentada, é muito triste”, finaliza.

    Outro lado

    A reportagem procurou as assessorias da Secretaria da Segurança Pública e da Polícia Militar solicitando entrevista com os PMs envolvidos na ação e com o delegado que registrou o caso.

    Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que “o policial militar autor do disparo foi preso em flagrante. O caso é investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa. Diligências estão em andamento para apurar todas as circunstâncias da ocorrência. A Polícia Militar também apura o caso”.

    Também acionamos o advogado Cleiton Leal Guedes, pelo e-mail do escritório, responsável pela defesa do PM Marcos de Meira Santos, e aguardamos retorno.

    ATUALIZAÇÃO: Reportagem atualizada às 18h53 do dia 10/2/21 para incluir nota da SSP

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