Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária paulista, presos “cometeram falta grave” e serão responsabilizados
Presos do sistema prisional do estado de São Paulo se recusaram a serem levados em audiência nesta quarta-feira (12/3), em solidariedade à greve de fome de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) que cumprem pena na Penitenciária Federal de Brasília. A denúncia de familiares e da defesa dos presos de Brasília é que estão sendo submetidos a tortura no sistema federal.
Em São Paulo, funcionários do sistema prisional informaram à Ponte que em pelo menos sete unidades houve recusa: nas regiões sul e leste da capital paulista, em Guarulhos, São Bernardo, Suzano, Santo André e na Baixada Santista.
A Secretaria de Administração Penitenciária admitiu, em nota, que, em “algumas unidades”, detentos se negaram a “comparecer em juízo”. A pasta, contudo, procurou minimizar salientando que “houve poucas recusas”, mas que os que aderiram ao suposto movimento a mando da facção paulista foram transferidos para o Pavilhão Disciplinar (setor da unidade prisional destinada aos presos que cometem faltas) e serão penalizados.
“Esclarecemos que as unidades funcionam normalmente dentro dos padrões de disciplina e segurança. [Os presos que se recusaram serão] submetidos a procedimento disciplinar, por cometimento de falta de natureza grave”, diz trecho da nota.
Denúncias em Brasília
Desde janeiro, a Ponte vem divulgando denúncias trazidas por familiares de alguns presos do PCC em Brasília que apontam falta de atendimento médico, privação de alimentação e até revista vexatória em Brasília. Há relatos de que integrantes da facção teriam sido impedidos de abraçar os filhos na visita.
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Com problemas de saúde, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, irmão de Marcola, apontado como líder do PCC, está sem se alimentar há pelo menos duas semanas, de acordo com a família, e já perdeu 50 quilos.
Outro detento que, segundo a família tem sofrido com alimentação inadequada é Paulo César Souza Nascimento Júnior, o Paulinho Neblina. Ele chegou a escrever cartas e enviar aos familiares denunciando o problema. Algumas dessas cartas foram enviadas à reportagem da Ponte. Paulinho Neblina tem síndrome de Chron, uma doença crônica no intestino, e já perdeu 25 quilos. Ele precisa de uma dieta específica e, segundo seus parentes, isso não está acontecendo. Em nota, o Depen (Departamento Penitenciário Nacional) negou que isso esteja ocorrendo e informou, em tabelas, todas as refeições que Paulinho Neblina estaria tendo acesso.
Um dos casos mais graves reportados pela Ponte nesta semana é de Felipe Batista Ribeiro, o Anjinho, que sofre de câncer no cérebro em fase terminal e, segundo seus familiares e advogados, deveria ter tratamento médico adequado fora da prisão.
Exames clínicos mostram a expansão do tumor e, segundo avaliação médica particular, aumentou a pressão craniana causando dores de cabeça e convulsões constantes.
O juiz-corregedor da 15ª Vara Federal de Brasília, Francisco Codevila, havia autorizado, no mês passado, a transferência de Anjinho para o Amazonas, seu estado de origem, por causa da doença do preso.
O magistrado, no entanto, voltou atrás da decisão após o Depen informar que o detento é de alta periculosidade e representa um perigo à sociedade.
Na segunda-feira (9/3), o juiz também negou o pedido de autorização para que Anjinho pudesse realizar exames com médico particular dentro da unidade.
Agora, segundo a advogada Flávia Pinheiro Fróes, fundadora do Instituto Anjos da Liberdade e que tem cuidado do caso de Anjinho, nem mesmo a transferência adiantaria, já que o detento está tão debilitado que não resistiria a uma viagem de avião. Além disso, Manaus não oferece o tratamento necessário, segundo a defensora em entrevista à Ponte.
“Estamos falando de direito à vida e à saúde. É claro que vamos recorrer e lutar contra esse absurdo todo. Ele precisa de avaliação e atendimento médico urgente. A situação é muito grave, porque agora nem mesmo a transferência é uma boa, porque ele não aguenta”, explica Flávia.
A pedido da advogada, um médico particular analisou o histórico do paciente e todos os exames realizados em Felipe até o momento e considerou “urgência máxima de avaliação médica em ambiente hospitalar especializado, sob risco de grave comprometimento, agravo da doença e morte do paciente”.
O Depen enviou uma nota quando questionado pela reportagem sobre o caso de Anjinho, sem, no entanto, detalhar o estado de saúde do paciente sob a justificativa de sigilo previsto no Código de Ética da Medicina.
A pasta, contudo, admitiu que a Penitenciária Federal de Brasília possui estrutura para atendimento de saúde básica e que casos mais complexos precisam ser encaminhados para hospitais fora na unidade prisional.