“Mais um caso isolado”, gritava grupo durante manifestação na Jardim Limoeiro, zona leste de São Paulo, na tarde deste domingo (25), quatro dias após Thiago Duarte morrer no Hospital de São Mateus. Ato foi organizado com apoio da Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio
“Dona Queli e senhor Wilson, vocês não estão sozinhos”, gritavam dezenas de amigos de Thiago Aparecido Duarte durante manifestação no Jardim Limoeiro, bairro no extremo da zona leste de São Paulo, na tarde deste domingo (25/4). O ato foi organizado com apoio da Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio.
Thiago tinha 20 anos, era negro e deficiente intelectual, e morreu na última quarta-feira (21), 13 dias depois de ter sido baleado pelo policial militar Denis Augusto Amista Soares, que estava de folga.
A diarista Queli Duarte, 40 anos, e o pintor Wilson Aparecido Souza, 45, também estavam na manifestação pedindo justiça pelo filho. O jovem morreu sem sequer ter sido visto pela mãe. Isso porque, apesar de uma decisão judicial ter autorizado Queli ver Thiago no Hospital Geral de São Mateus, também na zona leste, funcionários do hospital impediam a visita por causa da pandemia.
Leia também: Baleado por PM de folga, jovem negro com deficiência intelectual morre após 13 dias no hospital
“Agora nunca mais vou ver meu filho. Eu não posso mais brigar com ele por causa que ficava muito na rua, nem por deixar a toalha em cima da cama. É uma dor muito grande, e agora eu não confio mais em ninguém, porque eu confiava na polícia e fez isso com ele”, conta Queli.
Durante a manifestação, o grupo entoava gritos em homenagem a Thiago, dizendo que “a favela pede paz” e que “a quebrada não tem saúde, não tem educação, só tem bala da polícia”. No final da caminhada pelo bairro, que durou pouco menos de duas horas, o pai do jovem indicou que novas manifestações podem ser convocadas.
“A gente não come mais, não dorme mais, mas estamos fazendo isso para outras famílias não passarem o mesmo. Eu e toda família do Thiago não temos medo. Ele nunca vai ser esquecido, e nós vamos conseguir justiça, porque nunca vamos esquecer dele e não vamos parar”, disse Wilson.
Quem também esteve no ato foi a avó de Thiago. Aos 68 anos, Maria das Dores de Souza disse que está sofrendo muito. “Meu neto era muito querido e está sendo muito difícil esse momento, não tem nada que conforte. Ele não merecia nada disso.”
Leia também: Por causa de R$ 5, PM de folga mata estudante em tabacaria de SP
O ato saiu por voltas das 13h do ponto final dos ônibus Jardim Limoeiro (linha 373L-10). Poucos metros depois de começar a caminhar, o grupo jogou tinta vermelha no local onde Thiago ficou agonizando baleado no dia 8 de abril. No mesmo lugar foi escrito o nome de Thiago e um pedido por Justiça.
Segundo a família, o jovem havia saído de casa para comprar pão e leite. No caminho, encontrou com o amigo Fernando Henrique Andrade da Silva, 27 anos. Os dois ficaram conversando até que surgiu o policial militar de folga para que o baleou e manteve Fernando rendido, o acusando de roubo contra um funcionário terceirizado da Vivo.
Um vídeo publicado pela Ponte mostra o momento quando Thiago e Fernando estão no chão. As imagens foram registradas depois que o PM de folga já havia recebido apoio de policiais em serviço. Um PM fardado, inclusive, pisa na cabeça de Fernando, que está ao lado do amigo baleado.
Para os colegas que foram auxiliar na ocorrência, o cabo Denis disse que baleou o jovem porque ele havia tentado assaltá-lo. Mas ele mudou de versão no 49º DP (São Mateus), e disse que resolveu abordar Thiago e Fernando após ter sido procurado pelo funcionário terceirizado da Vivo, que contou ter sido roubado por uma dupla.
Para os amigos que estiveram na manifestação, Thiago foi um inocente, vítima de “mais um caso isolado da polícia”, conforme entoado pelo grupo.