Em missa por Luan, padre pede o fim da violência policial

    ‘Talvez pelo fato de ser negro, acham que é bandido’, criticou o padre Odair Gonçalves Bezerra na missa de 7º dia de Luan Gabriel, 14, morto pela PM

    A missa de sétimo dia da morte de Luan Gabriel Nogueira de Souza, de 14 anos, ficou marcada pelo desabafo do padre Odair Gonçalves Bezerra. Responsável pela cerimônia, o religioso afirma ter sido alvo de racismo ao ser abordado diversas vezes por policiais militares.

    “Aqui em Santo André, eles (policiais) são agressivos nas abordagens. Já fui parado não sei quantas vezes, me apresentei como padre, talvez pelo fato de ser negro, ou por estar dirigindo um carro preto, acham que é bandido, é ladrão. Já passei diversos constrangimentos, sobretudo na periferia. Nunca fui tão constrangido quanto aqui. Há policiais que agem de uma maneira brutal, como se todo mundo fosse bandido, fosse ruim”, denunciou Bezerra, durante a missa.

    Familiares protestaram em passeata no domingo (12/11), nas ruas do bairro onde Luan Gabriel morreu | Foto: Arquivo Pessoal

    Luan Gabriel morreu com um tiro no pescoço após abordagem policial na periferia de Santo André, na Grande São Paulo, no dia 5 de novembro. Os policiais militares Alécio José de Souza e Adilson Antônio Senna de Oliveira foram afastados do serviço na rua até o fim das investigações, mas continuam a receber salário. Em relato à Corregedoria, o cabo De Souza admitiu ter dado três disparos com sua arma, de calibre .40 (uso exclusivo da Polícia Militar), durante a ação.

    Antes da missa, um protesto organizado por familiares e amigos do garoto, que cursava o 9º ano do ensino fundamental foi feita na Viela 7, próximo da Rua Parauna, onde Luan Gabriel morreu.

    “Não pode cair no esquecimento a morte do Luan, até porque poderia ser protegido por aqueles que têm autoridade de proteger a sociedade e não causar uma destruição”, seguiu o padre. “É preciso que o povo acorde, sobretudo nesse momento, que se una para repensar no papel da polícia nos bairros carentes. As maneiras, as abordagens, o jeito como eles entram (nos bairros), desrespeitando as famílias, as pessoas que tem hombridade, honestas. Isso tem que parar de vez”.

    Faixa da família e amigos cobra justiça na apuração da morte do garoto, de 14 anos | Foto: Arquivo Pessoal

    Testemunhas da morte do adolescente relataram à Corregedoria ameaças feitas por um dos PMs envolvidos na ação. Segundo os PMs, eles abordaram um grupo de jovens suspeitos de furto de uma moto quando os jovens correram. Na fuga, os cabos alegam que um deles, descrito como de cor parda, 1,70 m de altura, magro, aparentando 20 anos e de bermuda, empunhava um revólver calibre 38 e disparou.

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