Estudante é levado preso de madrugada na Cidade Universitária da USP

Segundo testemunhas, Giovanni Shioli Ramos, que cursa Geofísica, foi dominado com violência e levado por policiais sem identificação, que não revelaram seu motivo; ativistas denunciam perseguição contra o estudante, preso múltiplas vezes

Na madrugada de sábado para domingo (08/08/21), Giovanni Shioli Ramos, de 28 anos, estudante de Geofísica da Universidade de São Paulo (USP), foi preso dentro da Cidade Universitária, no Conjunto Residencial da USP (Crusp), e levado por policiais armados com fuzis. Vídeos produzidos pelos moradores mostram policiais não identificados se recusando a dar o motivo da prisão, mas apontando para um carro batido num árvore (acima).

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O relato parte de informações da Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, do Grupo de Mobilização para Soltura de Giovanni, formado na madrugada pelos moradores do Crusp, e também do estudante de Ciências Sociais e morador do Crusp Diego dos Santos Moura Gonçalves (Pii). Giovanni foi detido por volta da meia noite. Conforme o advogado de Giovanni relatou à Rede, as acusações (não reveladas aos moradores) foram de dano ao patrimônio público, resistência, lesão corporal e porte de entorpecentes – o estudante teria atirado uma pedra numa viatura, fugido e resistido. Os policiais informaram que o estavam levando ao Hospital Universitário para tratar seus ferimentos, mas, segundo a Rede, ele nunca chegou a dar entrada no hospital e foi levado direto ao 91° DP, na Vila Leopoldina.

“20 enquadros em um ano”

O estudante Pii, assim como a Rede e o Grupo, afirma que Giovanni é perseguido pela polícia. “Ele tem histórico de enquadro, por ter uma aparência mais de funkeiro mesmo. Os policiais não tavam de identificação nem porra nenhuma. Giovani, eu, pessoas pretas periféricas. Quem tá chegando na universidade cada vez mais tá encontrando não uma política de residência, mas toda uma forma de repelir a gente.”

A Rede também se manifestou, falando sobre a presença da PM na Cidade Universitária: “A Reitoria da USP ainda cedeu um espaço que deveria originalmente ser da própria moradia estudantil, hoje com falta de vagas e péssimas condições, para que a PM instalasse uma base dentro da universidade”.

O Grupo de Mobilização considera racismo a perseguição: “O estudante tem um longo histórico de ser perseguido pela PM no campus”, disseram em comunicado. “Giovanni é originário de bairro periférico da cidade de Piracicaba e tem características de um jovem de periferia (como o Chavoso da USP), sofrendo constantes violências por parte dos policiais. Conforme o estudante, ele chegou a tomar mais de 20 enquadres em um ano.”

E também afirma: “A prisão de Giovanni é mais uma expressão da estrutura racista e classista que constitui a Polícia Militar e seu modus operandi, que tem por necessidade proteger a Universidade de São Paulo de corpos negros e pobres. A prisão de Giovanni é uma violência contra todo o estudante pobre que deseja ocupar esse espaço elitizado. A prisão de Giovanni é política. A presença da base da PM no campus é política.”

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Giovanni teve seu alvará de soltura expedido e foi liberado no final da tarde de domingo (08/08/2021) e se encontra livre.

Outro lado

A Ponte entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que respondeu com as informações no boletim de ocorrência. Segundo o registrado, o estudante teria atirado uma pedra na viatura parada na base da PM da Cidade Universitária, fugindo de bicicleta. Os policiais, ainda segundo o boletim, saíram em seu encalço numa viatura, ele saltou da bicicleta e, tentando se desviar dessa bicicleta, a viatura se chocou com uma árvore. Dizem ainda que Giovanni reagiu, lutando com um policial, foram ao chão, e o policial quebrou um dedo e machucou a cabeça. Afirmam ainda que a ocorrência foi gravada pelas câmeras da PM e a gravação será disponibilizada nos próximos dias.

Atualizado em 8/8, às 17h34, para incluir a resposta da Secretaria de Segurança Pública.

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