Ex-PM é condenado a 149 anos de prisão por chacina da Pavilhão Nove

    Justiça determinou que Rodney Dias Santos é um dos responsáveis pela morte de oito torcedores executados na sede da torcida organizada em abril de 2015

    Ato de um ano da chacina da Pavilhão Nove realizado na Praça da Sé em abril de 2016 | Foto: reprodução

    Era 18 de abril de 2015 quando dois policiais militares entraram na sede de uma das torcidas organizadas do Corinthians, a Pavilhão Nove, na zona oeste de São Paulo. “Todos pro chão, aqui é a polícia, todo mundo de cara pro chão!”, gritavam os dois homens. Um vestia um moletom vermelho e outro vestia azul. Minutos depois os disparos começaram. As informações foram coletadas do depoimento de um dos sobreviventes da chacina.

    Naquela noite, oito torcedores foram executados com tiros na cabeça: Fábio Neves Domingos, 34 anos, Ricardo Junior Leonel do Prado, 34, Andre Luiz Santos de Oliveira, 29, Matheus Fonseca de Oliveira, 19, Jhonatan Fernando Garzillo, 21, Marco Antônio Corassa Junior, 19, Mydras Schmidt, 38, e Jonathan Rodrigues do Nascimento, 21. O grupo de torcedores assassinados participava de um churrasco de confraternização e câmeras de segurança registraram parte do crime.

    Quatro anos depois, a Justiça determinou a condenação de Rodney Dias dos Santos. Em um julgamento que durou dois dias (27 e 28/6), no Fórum Criminal da Barra Funda, a juíza Giovanna Christina Collares determinou a condenação do ex-policial militar Rodney Dias dos Santos a 149 anos e 4 meses de reclusão, em regime inicial fechado. A defesa de Rodney, preso desde maio de 2015 no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, ainda pode recorrer da decisão.

    Para o TJ (Tribunal de Justiça), o ex-PM é uma das três pessoas armadas que fazia parte do grupo que invadiu a sede da torcida e causou as mortes. Segundo o MP (Ministério Público), o crime foi cometido por desavenças entre Rodney e Fábio Neves Domingos, uma das vítimas e ex-presidente da torcida. A juíza Giovanna Collares disse na sentença que “a personalidade do réu demonstra o seu absoluto desvalor à vida humana”, uma vez que todos as vítimas foram executadas com tiros na nuca.

    Em outubro de 2015, as testemunhas confirmaram confirmaram a autoria dos PMs na execução dos oito torcedores, em depoimentos colhidos no Fórum Criminal da Barra Funda. À época, o delegado Marcelo Bianchi afirmou que as testemunhas ouvidas durante o inquérito reconheceram o policial e o ex-policial como autores das mortes. “Não temos nenhuma dúvida da autoria. Jamais iria pedir a prisão se não fosse essa a conclusão”, disse Bianchi à Ponte na época.

    Cinco meses depois, em março de 2016, foi a vez das testemunhas de defesa dos dois policiais serem ouvidas, também no Fórum da Barra Funda. Na ocasião, uma das testemunhas, síndico do prédio onde o PM Walter mora – um edifício de mais de 800 apartamentos – afirmou que na noite do crime o policial não saiu de casa na noite da chacina. Logo depois afirmou que ele saiu, sim, com a esposa e filho para comprar pizza, num carro com prata. Outra testemunha, uma funcionária da pizzaria, afirmou que viu o réu na noite do crime, que ele usava um carro “de cor escura”.

    Na página oficial da torcida, a Pavilhão Nove se manifestou sobre a decisão. “Essa é apenas mais uma batalha que saímos vitoriosos, mas a guerra diária é vivida junto às famílias que perderam seus entes queridos. A cada jogo, a cada gol, a cada caravana, a cada desfile é uma lembrança que vem a mente. E com certeza isso não será apagado de nossas memórias. Ressaltamos que esse não é o capítulo de encerramento dessa tragédia. Sempre levaremos nossos amigos conosco até o fim. André, Edilsinho, Quadrilha, Markinho, Du memo, Mydras, Jhow e Ferraz… estejam em paz…vocês estarão eternamente em nossos corações!”, diz pronunciamento.

    No ano seguinte, em dezembro de 2017, a Justiça decidiu que não havia provas de que o PM Walter Pereira da Silva tivesse participado do crime.

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