Vídeos mostram barulho dos disparos partindo do veículo do Exército e a revolta de moradores em Guadalupe, zona norte do Rio; ‘eles nem esperaram, eles mataram o meu esposo’
Militares em um jipe do Exército fuzilaram um carro em Guadalupe, área pobre na zona norte do Rio de Janeiro, na tarde desde domingo (7/4). Ao menos um homem morreu. Vídeos mostram a reação dos moradores, que denunciavam ter uma família dentro do veículo. Segundo o CML (Comando Militar do Leste), eram dois assaltantes.
A Ponte conversou com um parente do homem morto. “Estava tendo tiroteio em Guadalupe, então eles acharam que era do carro. Eles atiraram e uma familiar minha, que pegou o filho dela e ele estava no carro, gritou: ‘É carro de família’. Não tinha vidro fumê, foi execução. Eles atiraram, só teve tempo dos outros saírem do carro, menos o marido dela, que estava de motorista. Depois que o tiro acertou, eles continuaram acertando. Tem vídeo mostrando quantos disparos foram, foi execução”, conta o homem, que pede anonimato por temer represálias.
Segundo vídeos obtidos pela reportagem, há o som dos disparos e as imagens mostram que, logo em seguida, os moradores gritam. “É morador, porra!”, alerta um homem. “O Exército acaba de matar uma família agora”, diz a pessoa que registra a ação. A informação é de que um veículo da mesma cor teria sido roubado na região. “Pegaram os caras errados, os dois já foram”, segue o homem.
O motorista do veículo morreu e é a única vítima confirmada até o momento. Em outro vídeo, uma mulher desesperada se revolta. “Eles nem esperaram, eles mataram o meu esposo”, declarou.
Em outro momento, o carro já está cercado de faixas e integrantes da Polícia Científica periciam o veículo. Os moradores seguem revoltados. “Olha o que eles fizeram, esses filhos da puta”, grita um homem. “Nós somos trabalhadores e vocês são assassinos”, dispara uma mulher.
O CML, responsável pelo Exército no Rio de Janeiro, explicou em nota à imprensa que uma patrulha do Exército teria se deparado com dois homens assaltando no Piscinão de Deodoro, em Guadalupe. Eles teriam atirado e os militares “responderam à injusta agressão”, matando um, ferindo outro e também um morador que passava pelo local. Ambos foram socorridos.
“Informações preliminares dão conta de que o cidadão inocente ferido está fora de perigo. A ocorrência permanece em processamento, tendo todas as providências legais decorrentes sido tomadas. O episódio não está relacionado ao incidente ocorrido pela manhã com tropas do Exército na Comunidade do Muquiço”, sustenta o Exército.
Outra ocorrência envolvendo o Exército aconteceu na comunidade do Muquiço, no período da manhã. Duas viaturas blindadas da tropa foram alvejadas por traficantes às 11h deste domingo, segundo o CML. Os militares “responderam à agressão” e mantiveram patrulhamento na área. Segundo o Exército, “não houve danos materiais nem feridos de qualquer natureza” e a “Polícia Militar no momento iniciou uma operação no local, já que parte da área está fora da jurisdição militar”, aponta.
Na sexta-feira (5/4), quatro homens em dois carros furaram um bloqueio do Exército na Vila Militar, no bairro de Realengo. Um dos suspeitos morreu, outro foi baleado e dois fugiram. O local deste caso fica aproximadamente a 4,5 km da área central de Guadalupe.
As mortes acontece em momento que o Rio de Janeiro registra crescimento nas mortes provocadas por policiais, estes vinculados diretamente ao governo do estado, gerido desde janeiro pelo governador Wilson Witzel (PSC), apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Em dois meses, braço armado matou 305 pessoas, crescimento de 67% em dois anos e se tornando responsável por a cada três homicídios dolosos registrados no RJ.
A Ponte entrou em contato com o CML (Comando Militar do Leste) solicitando detalhes da ação em Guadalupe, mas não recebeu nenhuma resposta da assessoria de imprensa até o momento. Enviamos as seguintes perguntas:
Qual ocorrência os militares atendiam no Muquiço?
Por qual motivo os homens do Exército abriram fogo contra o veículo?
Havia algum tipo de suspeita com os ocupantes do carro?
Quantas pessoas morreram nesta ação? Solicitamos a identidade de todos, inclusive dos militares envolvidos nesta operação.
Por que os militares preferiram fuzilar o veículo em vez de fazer abordagem às pessoas?
É comum o Exército adotar a medida de primeiro atirar e depois verificar qual o alvo dos disparos?
Caso fique constatada ação irregular ou desproporcional, a qual punição os militares estão sujeitos?
Os militares que agiram nesta ocorrência trabalharam durante a intervenção federal na segurança do RJ, em 2018?
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