Guardiões do Estado, aliada do grupo paulista, ordenou ataques em série como resposta às mortes de 3 integrantes de quadrilha especializada em roubo a banco
A facção criminosa GDE (Guardiões do Estado) ordenou a onda de ataques em série na região metropolitana de Fortaleza, no Ceará, com a queima de ônibus e ofensiva a prédios públicos. As ações são uma resposta à morte de três integrantes do grupo, que comanda o tráfico de drogas local e é aliado do PCC (Primeiro Comando da Capital), facção com atuação dentro e fora do país.
Em quatro dias, 14 ônibus foram incendiados, um coquetel molotov foi lançado contra uma viatura da polícia e uma granada deixada em frente ao prédio que comporta ao mesmo tempo a Delegacia da Mulher, o 21º DP (Distrito Policial) e o 28º DP. O setor de bombas detonou o explosivo sem causar vítimas ou danificar o local.
O secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, André Costa, apontou a morte de três líderes do GDE como motivo para os ataques em série. Francisco Adriano Martins da Silva, o Macumbeiro, de 33 anos, Francinei Nobre da Silva, o Gangão, 46, e José Sílvio dos Santos Vieira, 39, especializados em roubo a bancos, morreram em suposto confronto com a Polícia Civil na quinta-feira (26/7), em Amontoada, cidade distante 170 km da capital Fortaleza.
“Os envolvidos na ocorrência [em Amontada] eram pessoas com largos antecedentes criminais, uma história longa no crime, tinham uma certa posição de chefia ligada a um grupo criminoso aqui no Ceará”, explicou Costa, em coletiva de imprensa neste domingo (29/7).
Segundo fontes ouvidas pela Ponte, a falta de estrutura das Polícias Civil e Militar impossibilita o Estado a antecipar as ações do crime – além da GDE, outro grupo organizado que atua no Ceará é a FDN (Família do Norte, parceira do Comando Vermelho, originária do Rio de Janeiro). Ambas disputam o comando do tráfico local, com vantagem para a GDE.
“Durante a onda de ataques no fim de semana, não tinha ninguém da delegacia que combate o crime organizado de plantão, é inadmissível. Não há antecipação das ações. O crime se fortaleceu e está vindo para cima, felizmente atacaram só as fachadas. Não se tem intenção de matar, é de chamar a atenção, de dizer: ‘Estamos aqui e vamos enfrentar’ o Estado”, explica o presidente do Sinpol (Sindicado dos Policiais Civis) do Ceará, Francisco Lucas de Oliveira.
DETONAÇÃO DA GRANADA ARREMESSADA NO 28DP
Publicado por Polícia Civil do Ceará em Ação em Segunda, 30 de julho de 2018
Oliveira explica que delegacias em determinadas cidades do Ceará fecham no horário do almoço por falta de efetivo. No caso da granada, o prédio em Maracanaú, região metropolitana de Fortaleza, abriga ao mesmo tempo a Delegacia da Mulher, o 28º e 21º DP, este último com duas trocas de prédios em menos de um ano.
“A polícia de investigação tem que se reinventar, focar em testemunhas não rende mais, nem familiares falam hoje em dia. É difícil se não tiver investimento com mecanismo e tecnologia”, diz, citando exemplo do assalto a um policial em frente à Academia Estadual de Segurança Pública.
Em fevereiro, a região metropolitana de Fortaleza foi palco das execuções de dois líderes do PCC. Gegê do Mangue e Paca morreram em uma emboscada, ordenada pela própria facção. A Polícia Civil do Ceará é responsável pela investigação, que corre em sigilo, sem novidades até o momento. Antes do crime, a polícia local não sabia da presença e atuação de chefes da facção paulista no Ceará.
“Os mortos eram dois integrantes, líderes da facção e abertamente faziam movimentações financeiras altíssimas e a polícia não sabia de absolutamente nada, nenhuma informação se tinha na inteligência”, diz o presidente do sindicato. “Só se soube que eles moravam em um condomínio de luxo de Fortaleza quando um funcionário ligou na polícia, se noticiou as mortes e tinha foto deles”, continua.
Nesta segunda-feira (30/7), a Secretaria Municipal de Segurança Cidadã de Fortaleza amanheceu com uma espécie de barricada de sacos de areia na entrada principal. O prédio foi um dos alvos dos ataques.