Família tenta levar corpo de mulher trans assassinada em SP para ser enterrado no Ceará

Crime ocorreu neste final de semana na zona sul da capital paulista. DHPP está à frente das investigações

Vitória Rodrigues Ferraz, morta em São Paulo neste sábado (23) | Foto: Reprodução

Vitória Rodrigues Ferraz deixou o bairro de Serrinha, na periferia de Fortaleza (CE), há 17 anos atrás de um sonho: melhorar de vida morando em São Paulo. Seus planos acabaram na noite do último sábado (23/10), na Alameda dos Uapês, no bairro do Planalto Paulista, zona sul da capital, quando foi esfaqueada e arremessada de um carro em movimento.

Sem parentes na cidade, são os amigos e entidades de defesa de direitos LGBTQIA + que acompanham o caso junto à polícia. Quem está à frente da investigação do crime é o delegado Rodolpho Júnior, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Desde que saiu do Ceará, Vitória nunca mais retornou à terra natal. Segundo os familiares, ela tinha planos para retornar. “Ela falava conosco sempre. Ligava, fazia chamada de vídeo, mas dizia que não tinha como voltar ainda porque tinha algumas coisas para resolver, mas nunca soubemos que coisas eram essas”, conta Michele Feitosa, irmã da vítima.

Ela conta que Vitória começou a fazer programas ainda quando era apenas uma adolescente e aos 14 anos foi levada por pessoas, que a família não conhece, para morar em São Paulo. “A gente até tentou saber, mas ela nunca falou”, relata Michelle. De acordo com ela, a mãe ainda está muito abalada com a notícia da perda da filha. “Nós sempre aceitamos Vitória como ela era. Minha mãe teve que tomar remédio quando soube da morte dela.”

A família tenta levar o corpo de Vitória para Fotaleza para que o enterro seja realizado juntos aos parentes e para isso estão tentando juntar dinheiro com amigos. “O corpo dela está no IML desde sábado e a gente não tem condições de trazer ele para cá”, relatou Michele, que trabalha com reciclagem na capital cearense. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou através de nota que os exames necroscópicos feitos na vítima foram concluídos e o corpo liberado.

Para Agripino Magalhães, ativista e presidente da Aliança Nacional LGBTI+, histórias como as de Vitória, infelizmente, se repetem bastante e muitas pessoas fingem não entender a complexidade desse problema social que existe em grandes capitais. 

“É muito difícil ser uma mulher trans, negra, pobre e nordestina morando em São Paulo. Todos vão te olhar e te julgar de alguma forma. Há quem diga que ser trans ou travesti e se prostituir é ter uma vida fácil. Que vida fácil é essa que você tem que trabalhar às três da manhã sujeita a qualquer coisa, inclusive a morte como foi o caso da Vitória”.

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Um relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) mostra que apenas no primeiro semestre deste ano, 80 pessoas trans e travestis foram assassinadas no Brasil. No ano passado, o levantamento mostrou que 175 mortes foram registradas. O documento aponta que muitos casos são subnotificados e que a maior parte das vítimas tem o mesmo perfil de Vitória: negras e pobres que trabalham como prostitutas nas ruas do país.  

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