As agressões foram filmadas por estudante de jornalismo e prefeito João Doria (PSDB) teve de se manifestar
O guarda civil metropolitano José Rivanilson de Jesus, 39 anos, responsável pelas agressões contra o vendedor ambulante Samir Ali Ahmad Sati, 40, disse ter pedido “com gentileza” para que o homem, atualmente em situação de rua, apresentasse documentos para comprovar a propriedade sobre um carrinho de supermercado onde carregava seus pertences (pedaços de papelão, objetos de higiene pessoal, roupas e etc.)
As agressões do guarda civil Rivanilson contra Sati resultaram em uma lesão no pulso dele e aconteceram na manhã desta quarta-feira (04/05), ao lado de Estação Conceição do Metrô, na zona sul de são Paulo. Com um telefone celular, o estudante de jornalismo Marcos Hermanson Pomar, 19, gravou o ataque do guarda.
Ao lado dos também guardas civis metropolitanos Helder de Almeida Teixeira, 46 anos, e Mário Nogueira da Silva, 54, o GCM Rivanilson tinha a função de escoltar funcionários da Prefeitura Regional do Jabaquara e de uma empresa terceirizada que atuavam na chamada operação Reorganização do Espaço Público, uma das bandeiras da gestão do prefeito João Doria (PSDB).
Rivanilson disse que a equipe da operação Reorganização do Espaço Público teve a atenção despertada quando viu um carrinho de supermercado, com uma identificação da rede Pão de Açúcar, parado perto da saída do Metrô e sem ninguém perto dele.
Quando os funcionários da prefeitura iriam recolher o carrinho, Sati, segundo a versão do GCM Rivanilson, se aproximou e disse ser o dono do carrinho e dos objetos dentro dele. Teria sido quando o guarda pediu documentos de identificação de Sati e comprovação sobre a propriedade do carrinho e dos objetos nele.
O GCM disse ter pedido, “por quatro vezes” e “por gentileza”, para que Sati apresentasse documentos pessoais e de propriedade dos objetos dentro do carrinho, pois ele, eventualmente, seria devolvido ao supermercado Pão de Açúcar.
Nesse momento, segundo a versão do GCM Rivanilson, Sati disse não ter documentos e que não iria se identificar e teria ficado agressivo, mas isso não está registrado no vídeo da confusão gravado pelo estudante Marcos Hermanson Pomar.
Rivanilson sustentou que Sati teria falado “ninguém vai apreender porra nenhuma” e “já perdi muita coisa para vocês [GCMs]”. Esse foi, ainda segundo o guarda civil, o momento em que ele tentou revistar o vendedor ambulante e encontrou resistência.
Ainda segundo o guarda civil, após ter sido encostado na parede por ele, Sati “tentou dar a volta nele [GCM], pelo lado onde fica o coldre com sua arma”.
“Com medo de que ele tentasse pegar meu revólver e me causasse mal, assim como aos fiscais da prefeitura e às pessoas que passavam pela local, dei uma rasteira”, afirmou o guarda.
Ao analisar o vídeo da confusão, é possível ver que Sati, em nenhum momento, tentou pegar a arma do GCM Rivanilson.
Sati disse que as confusões com o guarda civil começaram quando ele não quis “dar espaço” para que ele retirasse seus pertences de dentro do carrinho com a placa do Pão de Açúcar, que seria apreendido e que ele havia comprado de outro morador de rua por R$ 5.
Sem ter recebido o espaço solicitado, Sati, segundo sua versão, ouviu o GCM ameaça-lo de condução para a delegacia. “Esse maluco [Sati] já está tirando com a nossa cara, vamos conduzi-lo para a delegacia”, teria sido a ameaça de Rivanilson ao vendedor ambulante.
No vídeo, Sati disse ao guarda Rivanilson e seus amigos: “Não levem meus bagulhos, não, caramba. Eu não tenho nada, porra. Me solta, meu, por favor”.
Após o vídeo com as agressões do GCM Rivanilson contra Sati ter circulado com grande repercussão nas redes sociais, o prefeito João Doria classificou a violência como “inaceitável” e que o GCM seria afastado de suas funções.
Doria também disse, em vídeo divulgado em sua conta no Twitter, ter conversado com Sati e oferecido assistência da Prefeitura.
Outro caso
Em outubro de 2013, Sati e outras duas pessoas de sua família, Juliana Batista Miranda, 37 anos, e Ali Ahmad Sati, 83, também se envolveram em outra confusão com um agente público de segurança, também próximo da Estação Conceição do Metrô.
O trio brigou com o PM Odilon dos Santos, 42 anos, porque o militar teria tentado impedir uma parente de Sati de vender doces na rua. Atualmente, os três são processados pelo crime de lesão corporal.