Guardas atacam manifestantes e repórter em ato contra assassinato de jovem pela PM

    Comandante explica ter iniciado ação quando guarda levou um tiro; jornalista da Ponte cobria protesto e foi agredido com spray de pimenta duas vezes

    A Guarda Civil Municipal de Diadema (ABC paulista), sob responsabilidade do prefeito Lauro Michels (PV) e do Secretário de Defesa Social, Paulo Fagundes, atacou manifestantes e um repórter da Ponte Jornalismo durante o ato contra a morte de Bruno Gomes de Lima Simon Fuentes. Na terça-feira (10/11), o rapaz de 23 anos morreu ao ser baleado “sem querer” no pescoço por um PM.

    Bruno tentou fugir de uma abordagem da polícia por estar sem documentos. Durante a tentativa, ele se acidentou. Segundo o PM Leandro Queiroz de Lima, Bruno tentou agredi-lo e, enquanto eles estavam em “luta corporal”, sua arma disparou acidentalmente.

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    Bruno morreu no local. O PM Leandro não apresentou sua arma no 3º DP de Diadema, unidade da Polícia Civil responsável por registrar o caso.

    Familiares e amigos organizaram a manifestação para a tarde deste domingo (15/11) no Jardim Piraporinha, próximo à divisa da cidade com a capital paulista. No entanto, quando chegaram no local da morte, cerca de um quilômetro após iniciarem o ato, a guarda agiu.

    GCMs jogaram viatura em jovem que estava com companheira em sua moto | Foto: Arthur Stabile/Ponte

    Havia um grupo grande de motoqueiros que acompanhavam os manifestantes em caminhada. Um homem estava com sua namorada na moto quando foi atropelado pela viatura Jeep da GCM. À Ponte, ele alega que nem participava do ato. “O cara jogou o carro em cima da gente no nada”, conta.

    A ação gerou revolta nas pessoas, que começaram a xingar os guardas. Na mesma rua, a Romu (Ronda Ostensiva Municipal), espécie de tropa de elite da corporação, utilizou armas com munição menos letal e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a manifestação.

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    Parte do grupo já havia chegado à esquina das ruas Pedro José de Rezende e Maria Helena, local onde Bruno caiu com a moto durante a perseguição da PM e morreu baleado “sem querer”.

    As pessoas se revoltaram com o ato dos guardas. O clima estava tenso enquanto o tio do rapaz morto, Anselmo Simon Fuentes, conversava com o comandante da operação, o supervisor Penna. No entanto, Penna reagiu violentamente quando um homem, revoltado, os chamou de “vermes”.

    Mãe de Bruno, Katia Aparecida é consolada durante o ato | Foto: Arthur Stabile/Ponte

    Imagens registradas pela Ponte mostram Penna correndo atrás dos manifestantes e jogando spray de pimenta na direção de seus rostos. Mesmo avisado pelo repórter Arthur Stabile, da Ponte, de que estava trabalhando no local, o comandante jogou spray em seu rosto.

    Em seguida, o jornalista seguiu acompanhando Penna enquanto o guarda perseguida pessoas aleatoriamente para atacá-las com spray.

    Quando viu novamente Stabile, Penna voltou a atacar, mesmo sendo avisado, novamente, se tratar de um jornalista exercendo sua profissão. “Foi para você se afastar”, justificou.

    Caminhada durou aproximadamente 1 km até a ação da GCM | Foto: Arthur Stabile/Ponte

    Em entrevista à Ponte, Penna explicou que a ação teve início porque um guarda levou um tiro durante o ato. “Eu ainda estou tentando levantando [o que aconteceu] e não tenho autorização para dar entrevista. Está no HM [Hospital Municipal]. Vai lá e levanta”, respondeu quando questionado sobre o estado de saúde do guarda.

    A Ponte questionou a Secretaria de Comunicação de Diadema sobre a ação da GCM e a versão de que um guarda teria sido ferido durante o protesto. Segundo a pasta, o guarda estava em acompanhamento médico no hospital, sem risco de morte.

    Segundo o governo de Diadema, a ação teve início quando manifestantes ” passou a ostilizar [sic] os policiais da GCM arremeçando [sic] objetos” contra os guardas, que pediram apoio. Ainda de acordo com a versão oficial, um GCM “visualizou quatro indivíduos ostentando arma de fogo no meio dos manifestantes e ouviu-se um estampido”. Foi nessa hora que um gos guardas informou ter sido atingido por um tiro na perna.

    “As equipes que chegaram em apoio utilizaram de instrumentos de menor potencial ofensivo, conforme preceitos da Lei 13.060 para dissuadir os manifestantes e garantir a segurança do local de votação. Foi registrado boletim de ocorrência no 3º DP”, informa a nota do prefeito Lauro Michels.

    Pelo menos uma pessoa foi atingida no braço pelas balas de borracha disparadas pelos guardas de Diadema. O homem acabou com o antebraço marcado pelo disparo.

    Manifestantes usavam camisetas brancas, algumas com fotos do jovem | Foto: Arthur Stabile/Ponte

    Antes da guarda avançar contra os manifestantes houve instante de tensão entre quem protestava e PMs que foram escoltar o ato. Parte das pessoas questionava a presença da polícia no ato pelo fato de ter sido um PM quem matou Bruno.

    O tio do rapaz, Anselmo, conversava com os policiais quando uma pessoa jogou uma pedra e quebrou o vidro traseiro de uma das viaturas. Os PMs sacaram as armas, mas o parente interveio. “Respeitem a família! Não são eles os culpados, quem matou não está aqui”, gritou Anselmo, acalmando os ânimos.

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    A família denunciou que viu o policial em serviço neste domingo (15/11). No entanto, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo assegura que o PM Leandro e os demais envolvidos na ação que terminou com a morte de Bruno foram afastados do serviço de rua. Eles prestam trabalhos administrativos e mantém o recebimento de seus salários.

    Questionada pela reportagem se o PM Leandro entregou a arma usada na noite em que Bruno morreu, a secretaria não respondeu. Informou que a investigação cabe ao SHPP (Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Diadema e que a PM e a Corregedoria da corporação também fazem apurações próprias.

    Atualização às 12h50 da segunda-feira (16/11) para incluir posicionamento da Prefeitura de Diadema.

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