Policiais Gilberto Dartora e Rodrigo Gimenez Coelho estão no Centro de Apoio Social da Polícia Militar e podem ser exonerados; Thiago Silva, de 22 anos, era suspeito de ser traficante
Os dois PMs (policiais militares) que atiraram 10 vezes contra o suspeito Thiago Vieira da Silva, de 22 anos, na noite de terça-feira (9), no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, foram afastados e estão no Centro de Apoio Social da Polícia Militar, onde vão passar por uma avaliação psicológica.Gilberto Dartora e Rodrigo Gimenez Coelho são da 1ª Companhia do 1º Batalhão da PM. A corporação abriu uma investigação para avaliar a conduta dos soldados e elespodem perder o cargo dentro da polícia. Até o término das investigações, eles ficarão fora das ruas, em funções administrativas.
A abordagem dos policiais, flagrada por um morador local, não respeitou a orientação dada a todos aos agentes de segurança pública, conhecida como método Giraldi. De acordo com essa orientação, durante uma abordagem que requer a contenção de um suspeito, o policial deve dar apenas dois tiros. Caso o suspeito esteja armado e reaja, o agente deve seguir com mais dois disparos, até que a situação fique segura. Após Thiago Silva pedir socorro três vezes, o PM Gilberto Dartora deu quatro disparos, sendo que, após o primeiro, Thiago já desacordou. Depois, o policial Rodrigo Guimenez Coelho, que estava na cobertura do primeiro PM, também atirou. Ao todo, o suspeito foi alvejado 10 vezes.
A mãe de Thiago, que pediu para não ser identificada, afirmou que o filho, que sempre foi trabalhador, voltava de uma balada quando foi abordado. Oamigo que foi à balada com Thiago afirmou que eles estavam na rua no momento da abordagem. “Ele ainda ajudou um nosso amigo que estava bêbado a voltar pra casa. Só de pensar que as últimas palavras dele foram com a gente, dá um aperto enorme”. Um morador da região conta que, depois da execução, os policiais voltaram ao local para revistar os celulares das pessoas. “Ele chegou, apontou a arma e falou pra mim virar pra parede, e pediu o celular. Queria ver se tinha vídeo”, afirmou.
O ouvidor das polícias de São Paulo, Julio Cesar Neves, condenou a abordagem dos policiais. “O policial militar não está aí para matar alguém, para executar uma sentença de morte. O policial militar está aí para prender e para levar esse cidadão para um distrito policial”, afirmou. A Ouvidoria pediu ao MP (Ministério Público), ao DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa) e à Corregedoria da Polícia que investiguem o caso.
A versão da PM é de que houve tiroteio. Moradores locais afirmam, sem se identificar, que o jovem foi rendido e executado. A equipe da RedeTV! foi até o local da suposta troca de tiros na tarde de quarta-feira (10). De um lado da rua, há diversos fragmentos de bala e perfurações na parede e em carros estacionados. O outro lado está intacto.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que os PMs prenderam em flagrante Leandro Pereira dos Santos, de 20 anos, com uma bolsa carregada de drogas, depois de a corporação ter sido acionada para atender uma denúncia de tráfico. A pasta afirma que o rapaz detido se entregou, e Thiago, tentou fugir. “Em dado momento, Thiago se abrigou entre dois carros que estavam estacionados e voltou a atirar contra um dos PMs, que revidou. Outro policial veio em apoio, se aproximou pelo lado direito e também atirou, acertando o suspeito que morreu no local”, afirma a SSP. Quem viu a cena, desmente a versão oficial da pasta.“Como é que ele gritaria socorro três vezes antes de morrer se estivesse fugindo?“, questiona um morador local.
A SSP afirma, ainda, que ao lado do corpo foi encontrado um revólver calibre 38. A polícia diz que Leandro, que seria colega de Thiago, estava com uma mochila que tinha 80 papelotes de maconha, 219 pinos de cocaína, 58 frascos de lança perfume, 34 pedras de crack, além de R$ 14,80 e um telefone celular. Outro morador da região, que também viu a cena, desmente novamente a pasta. “Eu e os outros vizinhos que viram, estávamos conversando sobre o caso. Ninguém se lembra de sequer ter visto a mochila”, afirmou.
Veja o vídeo em que o jovem pede socorro:
Leia também:
Jovem pede socorro antes de ser alvejado por PMs na zona sul de SP