Jovem negro condenado a 15 anos de prisão é inocente, diz família

    Segundo parentes, imagens de câmeras de segurança e falta de reconhecimento por policial mostrariam que rapaz é inocente

    Família pede liberdade de Igor na zona oeste de São Paulo

    Amigos e parentes do ajudante geral Igor Barcelos Ortega, 20 anos, fizeram um protesto na Barra Funda, zona oeste da cidade de São Paulo, na última quinta-feira (22) contra a condenação do rapaz, sentenciado no início deste mês a 15 anos e seis meses de prisão. Imagens de câmera de segurança, a quantidade de tiros disparados por um policial militar e o não reconhecimento do rapaz pelo PM são os argumentos das pessoas próximas ao jovem para demonstrar sua inocência.

    Contra Igor, pesa o reconhecimento feito por uma vítima de roubo.

    Morador do Jardim Corisco, na zona norte, Igor deu entrada em 2 de outubro no Hospital São Luiz Gonzaga, no Jaçanã, com um tiro no tornozelo esquerdo. De acordo com depoimento do irmão de Igor, Natanael Raul Barcelos Mozinho, 18 anos, os dois estavam com outro amigo voltando de uma festa em duas motos, sendo uma delas a Honda ML 125 de Igor, quando foram surpreendidos por disparos vindos de um carro que se aproximou do trio na avenida Sezefredo Fagundes, próximo ao bairro onde moram. Ele foi socorrido por amigos.

    “Foi uma morte condenar o menino a onze anos pelo que não foi dele”, diz mãe de Rafael Braga

    No mesmo dia, PMs foram ao hospital e fotografaram Igor. Ele foi, então, reconhecido pelo dono de um automóvel Gol e de um aparelho celular roubados horas antes, na rua Monsenhor Paulo, Jardim Marilena, em Guarulhos, na Grande SP. O rapaz foi acusado de participar do crime e também de uma suposta tentativa de latrocínio contra o soldado da PM Felipe Bruno dos Santos Pires, ocorrida na rua Pedro de Toledo, também em Guarulhos, logo após o roubo do carro.

    Outro detido na mesma noite, o estudante Rodrigo Generoso Andrade, 20 anos, confessou ter participado do roubo ao Gol e disse que estava com outras duas pessoas: Pablo e Tales. Mas Rodrigo nega a tentativa de latrocínio contra o soldado Pires e afirmou, no processo, que não conhece Igor.

    Jovem foi condenado a 15 anos de prisão | Foto: Arquivo pessoal

    Durante audiência, o dono do Gol reafirmou ter reconhecido Rodrigo e Igor como autores do crime, ressaltando ainda que “o mais moreno” (Rodrigo) portava a arma. Já o soldado Pires reconheceu Rodrigo, mas não Igor, como participante da suposta tentativa de latrocínio.

    Após denúncia da Ponte Jornalismo, Justiça absolve ambulante preso injustamente

    Para a juíza Maria de Fátima Guimarães Pimentel de Lima, da 1ª Vara Criminal de Guarulhos, o fato de Igor ter sido baleado na mesma madrugada é uma prova da participação do roubo ao Volkswagen Gol e na tentativa de latrocínio, uma vez que o soldado Pires atirou contra Rodrigo e o veículo, podendo ter ferido quem estava dentro do carro.

    A família, no entanto, além de lembrar que Igor não foi reconhecido pelo PM e por Rodrigo, aponta que o B.O. do roubo e tentativa de latrocínio, registrado no 7° DP de Guarulhos, indica que a pistola Taurus calibre .40, com capacidade para 15 munições, tinha 10 balas intactas, e que Rodrigo tinha cinco marcas de tiro: três no braço, uma na barriga e outra na perna. Ou seja: para a família, os companheiros do jovem que teria cometido o crime não poderiam ter sido baleados. (O mesmo tiro, porém, pode provocar mais de uma marca: um disparo pode provocar um ferimento de entrada e outro de saída, por exemplo.)

    Os parentes também obtiveram imagens de câmera de segurança que indicam que Igor foi, de fato, baleado no local onde diz ter sido, na avenida Sezefredo Fagundes, e não durante a suposta tentativa de latrocínio, a cerca de 15 quilômetros dali.

    A juíza afirmou na sentença que as testemunhas de defesa de Igor “claramente mentem sobre os fatos” e que “as filmagens juntadas pela defesa não fazem prova da inocência de qualquer dos réus”, porque, segundo ela, as imagens não são “nítidas” e “não são aptas à comprovação do álibi que apresentou, não elidindo, portanto, as demais provas já analisadas”.

    A reportagem não conseguiu contato com o dono do veículo roubado.

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude
    1 Comentário
    Mais antigo
    Mais recente Mais votado
    Inline Feedbacks
    Ver todos os comentários
    trackback

    […] de São Paulo decidiu libertar o ajudante geral Igor Barcelos Ortega, 22 anos, que foi condenado a 15 anos de prisão pelo roubo de um Gol e tentativa de latrocínio contra um PM em […]

    mais lidas