Condutor do veículo abandonou passageiro antes do destino final alegando que o músico negro iria assaltá-lo
Witor Hugo Simplício, o MC VH, de 19 anos, foi vítima de racismo praticado por um motorista do aplicativo de transportes Uber que obrigou que o rapaz desembarcasse em frente a um posto policial, se recusando a terminar a viagem com o passageiro. O caso ocorreu no final da tarde deste domingo (9/1), no Parque do Carmo, zona leste da cidade de São Paulo.
O MC estava indo encontrar o produtor musical e ativista de direitos humanos Darlan Mendes para mostrar algumas músicas que ele tinha feito. Foi o próprio Darlan que solicitou que o carro de aplicativo buscasse Vitor em sua casa, no bairro de Guaianases, periferia da zona leste da cidade de São Paulo, e o levasse até a casa do produtor.
A própria Uber, empresa de aplicativo de transportes utilizada pelo produtor, informa na sua plataforma que é permitido que uma pessoa solicite uma viagem e que outra pessoa vá no carro. “Quando seus amigos ou familiares precisarem ir para cara ou chegar a algum lugar, você poderá solicitar uma viagem para eles pelo app”, diz um informativo do aplicativo.
“Eu estava acompanhando a viagem através do app e estranhei que a viagem foi finalizada faltando ainda algum tempo para chegar na minha casa. Percebi que o local onde a corrida tinha sido encerrada era na frente de um batalhão da Polícia Militar. Imediatamente eu já imaginei o que poderia ter acontecido”, relata Darlan Mendes.
“Ele desviou o caminho e eu achei que fosse para fugir do trânsito, mas do nada ele parou o carro em frente ao batalhão da PM que fica lado do 53º DP (Parque do Carmo). Ele disse: ‘desce do meu carro seu marginal quer me roubar aqui, quero ver na frente da polícia’. Eu expliquei a ele que estava sem celular, sem dinheiro e indo em busca do meu sonho. Ele disse: não quero saber, neguinho, sai do meu carro. Você é de Guaianases e marginal ladrão. Queria me roubar, mas se deu mal’”, conta Witor sobre o ocorrido.
O passageiro pediu para o motorista também descer e registrar a ocorrência na delegacia. Ao invés disso, o condutor do veículo foi embora deixando o músico longe de casa e distante do seu destino e sem comunicação com amigos e parentes.
Ajuda da Polícia Civil
Witor foi procurar ajuda dentro do 53º DP. Ele contou o que tinha acabado de acontecer e os policiais se dispuseram a ajudar o MC. “Eles deixaram que eu acessasse a internet para entrar em contato com o Darlan e um deles, chamado Lucas Luz, também mandou uma mensagem pro Darlan dizendo o que eu tinha acontecido e que eu estava na delegacia”.
Dois policiais levaram o Wictor em uma viatura até a casa de Darlan e aconselharam que ele registrasse queixa através de um boletim de ocorrência. “O Witor teve sorte de contar com o apoio desses policiais que entenderam a situação e trouxeram ele até aqui. Eles mesmos disseram que era para prestar queixa por racismo, porque foi isso o que aconteceu”, diz Darlan.
O boletim de ocorrência foi elaborado na manhã desta segunda-feira (10/01) pela internet por Witor. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo a Polícia Civil entrará em contato coma vítima para dar prosseguimento as investigações.
Após racismo, motorista tem conta cancelada pela Uber
Ainda na noite do domingo, Darlan Mendes entrou em contato com a Uber por meio do aplicativo explicando o ocorrido. A resposta da empresa às denúncias que foram feitas é considerada pela produtor como automática e evasiva.
“Hoje pela manhã eu vi que zeraram o valor da corrida, mas não fui reembolsado por isso. A gente quer saber o que vai acontecer com o motorista. Se ele vai ser punido ou vai continuar por aí sendo racista com os passageiros. Queremos que ele seja punido e que não consiga também dirigir por outros aplicativos”, informa Darlan.
O aplicativo da Uber informa apenas que o motorista se chama Victor e que dirigia um veículo Suzuki, modelo S-Cross e placa FVZ 0518. “Se qualquer pessoa fizer uma busca na internet com as palavras uber e racismo vai ver uma série de histórias parecidas com essa que aconteceu com o Witor. São vários casos de racismo que existem na Uber. Isso precisa acabar. É uma violência sem tapa. Quem pratica o racismo é um criminoso e precisa pagar por isso”, desabafa Darlan.
Depois que o produtor apresentou o BO, a Uber entrou em contato com ele, informando os procedimentos para se obter a identidade do motorista e garantir a continuidade das investigações.
A Uber informou que o motorista que abandonou Witor não irá mais atender mais corridas pelo aplicativo e que vem desenvolvendo políticas para combater o racismo repassando informações para quem usa o app para trabalhar.
“A Uber possui uma política de tolerância zero a qualquer forma de discriminação em viagens pelo aplicativo. A conta do motorista em questão foi desativada da plataforma após a denúncia. A empresa busca oferecer opções de mobilidade eficientes e acessíveis a todos e reafirma o seu compromisso de promover o respeito, igualdade e inclusão para todas as pessoas que utilizam o app”, informou a empresa através de nota.