Jovem que afirma ter sido forjado com amigos é condenado a quatro anos por tentativa de roubo

Trio foi preso após PMs serem avisados que policial havia sido atacada por três homens na Radial Leste, em São Paulo; acusados dizem que, no momento da abordagem, voltavam para casa após passear em shopping

Kadu Henrique Belmonte Rodrigues, 19, acusado de roubo por PM | Foto: Arquivo pessoal

O juiz Carlos Alberto Corrêa de Almeida Oliveira, da 25ª Vara Criminal de São Paulo, condenou os amigos Eduardo Coelho da Anunciação, Kadu Henrique Belmonte Rodrigues e Wallacy Queiroz da Silva, todos com 19 anos, a quatro anos, um mês e vinte e três dias de prisão em regime semiaberto, após serem acusados de tentativa de roubo a uma policial militar, que estava de folga, e duas acompanhantes.

O crime, que o trio preso há seis meses nega ter participado, ocorreu em outubro passado, quando as três mulheres pararam em um semáforo no cruzamento da Radial Leste com Avenida Aricanduva, na Penha, zona leste da capital paulista, e tiveram um dos vidros do carro quebrado. Nada foi levado delas. Na sentença, dada em 6 de maio, o juiz levou em consideração o pedido do Ministério Público, que era favorável à condenação dos jovens após serem reconhecidos pelas vítimas ainda no local dos fatos. Ao menos dois dos condenados foram reconhecidos pelas vestimentas que usavam.

Durante a audiência eles alegaram ao juiz Carlos Alberto Corrêa de Almeida Oliveira que no dia 21 de outubro do ano passado haviam saído de casa, em Cidade Tiradentes, zona leste, para passear no shopping Tatuapé, mas como o local estava fechado, resolveram comer em uma pastelaria na região. No momento que rumavam para o ponto de ônibus para pegar a condução e retornar para casa, eles foram abordados pelos policiais militares.

Os jovens ainda acusam policiais militares que participaram da ocorrência de terem tirados fotos deles e encaminhado para a vítima, que foi até o local da abordagem, na mesma Radial Leste, e os reconhecidos ali mesmo, antes de serem apresentados na delegacia, o que contraria o artigo 226 do Código de Processo Penal.

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Na tentativa de comprovar que seu filho e amigos eram inocentes, a mãe de Kadu, a diarista Simone de Castro Antunes, 46, passou a buscar provas que mostrassem que eles não estavam no local do crime. Após tanto percorrer a avenida e indagar gerentes e funcionários da maneira como se obter imagens de câmeras de segurança da região, ela conseguiu uma que capturou a passagem dos jovens.

O relógio marca 21h23 quando o trio caminha junto pela calçada do posto de combustível Habib’s, na Avenida Radial Leste, altura do número 4.800. O local está a dois quilômetros de distância do shopping e a três do ponto onde as mulheres foram abordadas. Outra imagem que Simone conseguiu é do momento da abordagem ao filho, ocorrida na calçada do restaurante República dos Camarões, na Avenida Conde de Frontin, 450, na Vila Carrão. O relógio do estabelecimento marca 22h47 quando diversas viaturas com o giroflex aceso param no local. Teria sido nesse instante que o trio foi detido, horário diferente do indicado no boletim de ocorrência, que diz que a polícia teria localizado os jovens pouco após serem acionados às 21h30.

Simone Castro, que percorreu Radial Leste atrás de câmeras, se disse enojada com a condenação do filho | Foto: Paulo Eduardo Dias/Ponte

Questionado pela Ponte antes do julgamento sobre o reconhecimento não ter sido realizado nas dependências da delegacia, o promotor Paulo Rogério Costa encaminhou resposta por e-mail em que afirmou não vislumbrar problemas. “Como toda prova, a sua produção é livre (e assim o CPP é apenas uma diretiva) e o reconhecimento é repetido com o juiz, e assim, não há prejuízo”.

Mesmo com as informações obtidas pela mãe e defesa de Kadu, o promotor decidiu denunciar os jovens e pedir suas condenações por tentativa de roubo. Num primeiro momento, o magistrado Carlos Alberto Corrêa de Almeida Oliveira os condenou a cumprir a pena superior a quatro anos no regime fechado, mas voltou atrás poucos instantes após definir a sentença — depois que o advogado André Filomeno, que defende Kadu Belmonte, solicitar revisão — e autorizou o cumprimento em regime semiaberto.

“O meu sentimento no momento é enojada, desemparada, indignada. Me senti uma fracassada e impotente por correr tanto atrás das provas da inocência do meu filho e ser descartada como um nada. Por que uma mentira de um PM vale mais que 10 verdades de um jovem sem antecedentes”, disse à Ponte Simone Antunes, mãe de Kadu Belmonte.

A mulher afirma que, naquela noite, foram dois roubos, um contra a policial e outro contra seu filho. “Eu tenho nojo de tudo isso. Por que o benefício da dúvida não foi dado ao meu filho? Meu filho foi roubado. Foi um erro dos mais brutais. Eu só agradeço a Deus por eles não terem tirado a vida do meu filho e dos outros dois meninos”, completa.

A defesa de Kadu Belmonte estuda os passos que devem ser tomados para requisitar sua liberdade. A reportagem não conseguiu contato com os familiares dos outros jovens.

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