Willy Liger havia sido condenado a 11 anos de prisão por roubar e estuprar mulher há sete anos. “Precisou matar uma menina para o rosto dele estar estampado em todos os jornais”, diz vítima de estupro ocorrido em 2009
A jovem Débora Soriano, de 23 anos, morta no último dia 14/12, não foi a única vítima de Willy Gorayeb Liger, de 27 anos. A Ponte Jornalismo entrevistou uma jovem que foi estuprada e roubada por ele há sete anos no mesmo bairro em que ele matou a jovem militante feminista este mês. Durante a entrevista, ela conta com detalhes como foi seguida e violentada psicologicamente e fisicamente pelo homem quando saía de seu trabalho.
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Apesar de terem estudado na mesma escola, a vítima não o reconheceu no dia em que foi estuprada. Ela chegou até a fazer um retrato falado do indivíduo que, até então, era um desconhecido. Após três meses da denúncia, ela mesma o reconheceu em uma pizzaria da região e acionou a polícia para que o então procurado fosse preso.
Após exames feitos no corpo da vítima, o estupro foi confirmado e o jovem de 20 anos na época foi condenado a 11 anos de prisão. Seis meses depois da condenação, ele estava fora do presídio. De acordo com a vítima, ele havia fugido para a Bahia e retornado à zona leste de São Paulo quando se sentiu seguro. Sete anos depois, ele está novamente atrás das grades. Desta vez, pelo homicídio de Débora.
Relato da vítima
O dia do crime: “Aconteceu comigo no dia 20 de julho de 2009. Eu tinha 18 anos. Eu trabalhava na Casa do Pão de Queijo e eu saía às 20h. Nesse dia, o gerente pediu para eu ficar até um pouco mais tarde porque uma menina iria chegar atrasada e eu aceitei ficar até um pouquinho mais tarde. Quando foi por volta de 23h30, eu estava a caminho de casa, quando parou um carro ao meu lado e o rapaz parou e me ofereceu carona. Eu recusei. Ele foi muito educado comigo, perguntou se eu queria carona até em casa e eu, muito educadamente, respondi que eu não queria, que eu estava perto de casa e não queria e continuei em frente. Quando eu vi que ele parou um pouco mais a frente. Só que na minha cabeça nada ia acontecer. Na minha cabeça, ele tava doidão, tava bêbado e não ia fazer nada comigo. Mais uma vez, ele ofereceu carona e eu disse que eu não queria. Agradeci e continuei seguindo em frente”.
O crime: “Eu senti um puxão muito forte de cabelo. Ele me derrubou no chão e disse que eu iria com ele, sim. Que se eu não fosse com ele, ele iria me matar. Eu levantei, ele pegou e me jogou dentro do carro e deu a volta para entrar. Foi quando eu abri a porta e sai correndo novamente. Ele me alcançou, me jogou no chão e começou a me enforcar, enforcar, enforcar. E eu pedindo para ele parar. Quando você está sendo enforcada, não tem força para falar, então a gente gesticula com as mãos. E eu gesticulando com as mãos, pedindo para ele parar, porque eu faria o que ele quisesse. Na hora que ele me soltou, eu falei: ‘Eu vou aonde você quiser, eu faço o que você quiser’. Ele falou: ‘Você faz o que eu quiser? Então vamos lá’.
Ele me jogou no carro, entrou pela minha porta mesmo, para eu não ter como escapar e já abaixou minha cabeça e seguiu em frente até parar num local deserto. Foi onde ele me violentou. Depois que ele consumou o ato, que ele me violentou, eu chorava muito, pedia para ele me deixar ir embora, para ele me deixar aqui mesmo que eu ia sozinha e ele pulou pro banco de trás e tentou me enforcar. Eu lutei bastante com ele. E aí ele desceu o banco do passageiro e ficava pedindo a todo momento para eu deitar. Creio eu que seja para facilitar o enforcamento. Eu não deitei em nenhum momento e ele se irritou e começou a me bater e eu virei de cabeça para baixo, ali onde fica os nosso pés, e comecei a chutar e a bater nele também. Foi quando ele ficou muito bravo e passou para o banco da frente e arrancou o carro. Eu, muito desesperada, pedindo para ele para me deixar ali. Eu falava: ‘Me deixa aqui que eu vou embora’.
Ele parou na segunda praça e mandou eu descer. Eu já peguei minha bolsa, desci correndo e ele já me pegou pelo braço, foi me arrastando até essa praça. Foi aí que eu vi uma pedra, que eu sentia que ali ele ia querer tacar minha cabeça, me matar ali. Eu me joguei no chão e ele começou o espancamento. Ele começou a me bater muito, ele me chutava, ele chutava meu estômago, ele chutava meu rosto. Ele chutava, principalmente, a área da minha cabeça. Eu cheguei a virar de costas para me proteger, ele pisou nas minhas costas. Ele me machucou muito. Teve um momento que ele foi colocar a mão na minha boca para tapar, para tentar abafar meu ar, eu dei uma mordida nele. E ele ficou com mais raiva e me batia. Até o momento que eu não aguentei mais e me fingi de morta”.
Como escapou da morte: “Ele me viu, veio ver se eu estava respirando, eu segurei a respirção e me fingi de morta. Creio eu que ele acreditou que eu estava morta e saiu. Eu, de relance, vi ele mexendo na minha bolsa e tive muito medo de ele encontrar a chapinha que estava lá porque ele podia usar o fio para me enforcar. Mas creio eu que ele já achava que eu estava morta. Então ele só pegou o dinheiro que tinha na carteira, meu bilhete único e o meu celular e foi embora.
Cerca de cinco há dez minutos depois, eu criei coragem e força para levantar. Eu levantei, olhei para ver se ele não estava por perto e aí eu não sabia se eu ia para a avenida ou se eu ia para as casas. Eu subi para uma casa, bati palma, pedi ajuda e aí a pessoa chamou a polícia. Eu creio que eu escapei por eu ter me fingido de morta. Foi o único motivo por eu ter escapado. Porque a intenção dele era de me matar. Era de matar. Ele era o demônio em forma de ser humano”.
O caso de Débora: “Ele precisou matar uma menina para o rosto dele estar estampado em todos os jornais, para poder fazer alguma coisa. Porque, se isso não tivesse acontecido, ninguém teria feito nada, até hoje ele estaria solto. Eu poderia ter encontrado ele e poderia ter sido eu novamente. Porque ele estava no meu bairro novamente.
[Quando eu soube do caso], comecei a chorar. Eu pedi pela Débora, pela alma dela. Foi um dia extremamente horrível para mim. Eu não comi, eu não dormi, eu não bebi água, eu não fiz nada. Eu fiquei extremamente em choque. Foi onde eu decidi correr atrás e ajudar. Ele não vai fazer isso com outras mulheres. Essa morte da Débora não vai ser em vão, o meu estupro não vai ser em vão. Ele vai pagar por isso. Eu considero ele perigoso, eu considero ele um psicopata, eu considero ele uma pessoa que não pode estar solto em sociedade. Ele não tem limites”.