Réus foram condenados apenas por corrupção de menores e aguardarão o julgamento dos recursos em liberdade
Um ano, dez meses e 22 dias depois do assassinato do radialista Jefferson Pureza, de 39 anos, em Edealina (GO), o júri popular absolveu dois acusados de envolvimento no crime, apesar de reconhecer a participação deles no caso.
O ex-vereador José Eduardo Alves da Silva, de 41 anos, acusado de ser o mandante do assassinato, e o caseiro Marcelo Rodrigues dos Santos, de 40 anos, foram condenados somente pela corrupção dos menores que praticaram o assassinato. Santos foi acusado de apresentar os jovens ao então vereador.
O resultado polêmico foi anunciado às 23h50 da segunda-feira (9/12), depois de um julgamento que durou 15 horas e 20 minutos e contou com acalorada discussão entre a defesa dos réus e a acusação, além do depoimento de testemunhas no Fórum de Edeia, cidade a 31 km de Edealina e 125 km de Goiânia.
O radialista foi morto na noite de 17 de janeiro de 2018 com três tiros no rosto, ao ser surpreendido enquanto descansava na varanda de sua casa. Segundo as investigações, o crime foi negociado por R$ 5 mil e um revólver.
É o primeiro caso tratado pela equipe do Programa Tim Lopes, desenvolvido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), com apoio da Open Society Foundations, para combater a violência contra jornalistas e a impunidade dos responsáveis.
Em caso de crimes ligados ao exercício da profissão, uma rede de veículos da mídia tradicional e independente é acionada para acompanhar as investigações e publicar reportagens sobre as denúncias em que o jornalista trabalhava até ser morto. Integram a rede hoje: Agência Pública, Correio (BA), O Globo, Poder 360, Ponte Jornalismo, Projeto Colabora, TV Aratu, TV Globo e Veja.
O vereador José Eduardo Alves Silva foi sentenciado a quatro anos de prisão e Marcelo Rodrigues dos Santos, a quatro anos e dez meses. Os dois réus comemoraram a decisão ao ouvir a leitura feito pelo juiz. Na prática, eles serão beneficiados por um alvará de soltura e ficarão em liberdade para aguardar os próximos passos do caso.
A decisão surpreendeu a acusação, já que em 4 de outubro outro envolvido no caso foi condenado a 14 anos de reclusão. Leandro Cintra da Silva, de 25 anos, é o dono do lava-jato onde foi feita a negociação do crime e do celular usado por um dos menores para combinar o assassinato com os outros adolescentes.
Os três menores envolvidos já cumpriram medidas socioeducativas e ficaram acautelados por seis meses. Um seria o atirador, outro teria pilotado a moto usada no crime e o terceiro teria indicado os dois para o serviço. Apenas o último compareceu ao julgamento e repetiu sua versão dos fatos: que teria recebido do ex-vereador R$ 200 por indicar os executores e que foi ameaçado pelo atirador para assumir o crime.
*Angelina Nunes é mestre em Comunicação pela Uerj (RJ). Ela recebeu prêmios internacionais de jornalismo, como Rey de España, IPYS e SIP, e nacionais, como Esso, Embratel, Vladimir Herzog e CNH. É membro do International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ) e coordenadora do Programa Tim Lopes.
O Programa Tim Lopes é uma reação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) à violência contra jornalistas. Em caso de crimes ligados ao exercício da profissão, uma rede de veículos da mídia tradicional e independente é acionada para acompanhar as investigações e publicar reportagens sobre as denúncias em que o jornalista trabalhava até ser morto. Integram a rede hoje: Agência Pública, Correio (BA), Globo, Poder 360, Ponte Jornalismo, Projeto Colabora, TV Aratu, O Globo e Veja.