Júri absolve um dos PMs acusados de matar Guilherme Guedes

Por maioria de votos, jurados entenderam que sargento Adriano Campos não foi um dos autores da morte do adolescente de 15 anos, ocorrida em junho de 2020

Ato de 12 de julho de 2020 já pedia responsabilização da Sabesp e da Globalsan pelo assassinato de Guilherme | Foto: Arthur Stabile/Ponte

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) absolveu o sargento Adriano Fernandes de Campos, um dos acusados pelo assassinato do adolescente Guilherme Silva Guedes, 15 anos, ocorrido em junho do ano passado, na noite desta quarta-feira (13/10). Dos sete jurados, quatro entenderam que ele não não foi o autor dos disparos que matou o adolescente, nem que os tiros causaram a morte. Por causa da pandemia, o público e a imprensa não foram autorizados a acompanhar o julgamento na sala de audiências.

Guilherme foi sequestrado na porta de sua casa, na Vila Clara, zona sul da cidade de São Paulo, no dia 14 de junho de 2020, e encontrado morto horas depois em um terreno no bairro Eldorado, na divisa entre a capital e Diadema. A morte do menino revoltou moradores da região, que fizeram protestos. Adriano foi preso três dias depois e, com a absolvição, foi colocado em liberdade. À Ponte, Renato Soares, advogado do sargento, disse que a investigação da Polícia Civil foi “equivocada”, “com base em pressão midiática” e que ele não cometeu o crime. Cabe recurso à decisão. A reportagem procurou a família do menino, mas não teve retorno.

Imagens de câmera de segurança do dia do crime gravaram atuação dos suspeitos do crime. A investigação da Polícia Civil apontou que um dos homens, que aparece nas imagens com as mãos para trás, é Adriano. O sargento chegou a confirmar que ele aparecia na filmagem, mas negou ter matado o menino. O ex-soldado Gilberto Eric Rodrigues também teria participado do crime. Ele foi preso no dia 13 de maio, após ser encontrado escondido em uma chácara na área rural de Peruíbe, no litoral sul de São Paulo. Os dois foram acusados pelo Ministério Público por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, com emprego de meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima) pela morte de Guilherme com tiros na cabeça.

O ex-soldado estava foragido desde 2015 quando escapou do Presídio Militar Romão Gomes. Na época, a PM mentiu sobre a fuga, dizendo em documento enviado à Ponte que, dois meses depois do desaparecimento, Rodrigues ainda estava preso no local. Ele tem um extenso currículo de mortes desde 2013. No caso do ex-PM, está agendada uma audiência em 17 de novembro em relação ao caso de Guilherme, já que o processo foi desmembrado.

De acordo com o Ministério Público, Campos e Rodrigues atuavam juntos como seguranças na região onde aconteceu o crime. A dupla teria confundido o adolescente com uma pessoa que possivelmente havia roubado um canteiro de obras da Globalsan, empresa terceirizada da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), em que Campos era responsável pela vigilância. 

O sargento é dono, juntamente com seu pai, o PM aposentado Sebastião Alberto de Campos, da Campos Forte Portarias Ltda., que era registrada como empresa para prestar serviços de zeladoria. No entanto, reportagem da Ponte publicada logo depois do crime aponta que, na verdade, prestava serviços terceirizados de segurança privada na região onde aconteceu o crime.

A atividade desenvolvida pela empresa do sargento era proibida. Conforme o artigo 37, inciso 16 da Constituição Federal, funcionários públicos, como policiais militares, são proibidos de acumularem cargos remunerados — como chefiar ou comandar áreas em empresas de segurança. Além disso, o artigo 13 do Regulamento Disciplinar da Polícia Militar de São Paulo, em seu item 27, proíbe que o militar da ativa tenha sociedades com fins lucrativos.

A empresa de Campos também não constava nos registros da Polícia Federal como empresa ativa para prestar o serviço de segurança, já que é exigida a autorização do órgão para funcionamento. A Campos Forte Portarias Ltda. deu baixa no CNPJ no dia 4 de março deste ano.

O que diz o Ministério Público

A Ponte procurou a assessoria do órgão sobre o resultado do júri. Em nota, informou que o promotor Neudival Mascarenhas “recorreu ontem mesmo, oralmente, após o final do julgamento” e que “está preparando as razões da apelação, para juntada aos autos”.

Reportagem atualizada às 12h13, de 14/10/2021, após recebimento de resposta do MPE.

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