Justiça de SP arquiva caso de jovem morto pela Rota na Favela do Moinho

    Justiça aceitou o pedido de arquivamento feito pelo Ministério Público, que entendeu que os PMs agiram em legítima defesa

    Chão do barraco onde Leandro foi baleado e, à esquerda, martelo que teria sido usado para agredir vítima | Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

    A juíza Renata Mahalen da Silva Teles aceitou o pedido do Ministério Público Estadual e decidiu pelo arquivamento da investigação da morte de Leandro de Souza Santos, 19 anos, por policiais militares da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, grupo de elite da PM paulista) durante operação na Favela do Moinho, centro de São Paulo, no dia 27 de junho do ano passado.

    Para a Justiça de SP, os policiais Pierre Alexandre de Andrade e José Carlos Paulino da Costa dispararam seis vezes em legítima defesa. Leandro foi atingido por quatro tiros. Na versão dos PMs, registrada no boletim de ocorrência, o jovem foi atingido porque, já em fuga, teria atirado contra os agentes, que por sua vez, teriam revidado.

    O laudo residuográfico do IC (Instituto de Criminalística), divulgado pela Ponte na semana passada, aponta que não foram encontrados nas mãos de Leandro traços de chumbo metálico, provenientes de disparos de arma de fogo. O exame também não detectou resíduos nas mãos dos policiais, porém observa que essas ausências podem ser explicadas por falta de “preservação adequada da região de interesse do momento do disparo até a coleta da amostra”. A coleta só foi realizada três dias depois da operação, quando foi solicitado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

    As testemunhas relataram uma história divergente da contada pelos policiais da Rota. “Tentei entrar na minha casa e eles [policiais] não deixaram, meu marido também não conseguiu entrar. Não houve troca de tiros, a gente estava ali fora, se tivesse, todos teriam escutado. Ficou um entra e sai de polícia aqui; eles ficaram quase uma hora e meia dentro da minha casa”, contou, à época, Lucimar Oliveira Santana, dona do imóvel onde Leandro foi morto, para o portal R7.

    Além disso, familiares afirmam que ele foi torturado com um martelo, também encontrado na cena do crime, mas periciado 8 meses depois do ocorrido, conforme documento abaixo. O laudo do IC revelou que o sangue de fato era humano, mas não conclui de quem era o sangue. O exame do IML em Leandro afirma que ele não possuía marcas de agressões além das balas que atingiram o peito e causaram sua morte.

    A mãe de Leandro, Odete, contou, à época, que, ao perguntar sobre Leandro para os policiais que estavam do lado de fora do barraco, em apoio aos PMs da Rota, ouviu apenas mentiras. “Seu filho está bem, mãe, não fizemos nada de errado com ele”, teriam dito os agentes.

    Nos documentos há também divergências com relação ao horário de atendimento da ocorrência e da morte de Leandro: policiais alegaram que ele foi levado para atendimento na Santa Casa às 11h30, mas laudo médico atesta que ele já estava morto às 11h14, portanto antes de ser removido da comunidade.

    A Ponte acompanhou o caso desde o início e uma das reportagens chegou a vencer o Prêmio Vladimir Herzog do ano passado. Confira:

    Moradores do Moinho falam em rotina de repressão da PM, um mês após morte de jovem

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