Perícia não consegue precisar quantos tiros foram dados dentro da viatura. Fabricação da arma utilizada para matar José Guilherme da Silva também é dúvida
Depois de dois anos e cinco meses, peritos paulistas ainda não conseguiram responder se um jovem algemado com as mãos para trás conseguiu dar um tiro na própria cabeça. A tentativa de esclarecer a morte de José Guilherme da Silva ganhou mais um capítulo. O jovem foi morto em setembro de 2014, quando tinha 20 anos, com um tiro na cabeça enquanto, algemado com as mãos para trás, era conduzido por policiais militares à delegacia de Limeira, no interior de São Paulo. Os PMs da Força Tática envolvidos no caso afirmaram na delegacia que o rapaz se matou.
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José Guilherme era suspeito de ter praticado um assalto e uma tentativa de latrocínio. No entanto, ao ser revistado pelos policiais “nos pés, tornozelos, cintura e genitália”, segundo os próprios PMs, nenhuma arma foi localizada com ele. Após minuciosa revista, uma arma foi localizada nos arredores do local.
Um novo laudo pericial, ao qual a Ponte Jornalismo teve acesso, aponta contradições com relação à arma, calibre 38, utilizada para matar José. O novo documento explica que o projétil que perfurou a cabeça do rapaz foi, de fato, disparado daquela arma. No entanto, a perícia não consegue precisar se outro projétil, localizado na viatura, também foi disparado daquela arma e nem quantas armas de fogo podem ter sido disparadas dentro do carro da PM.
Também há divergência sobre a marca da arma utilizada para matar José. No novo laudo, o perito criminal André Costa Neves explica à Promotoria que a marca da arma examinada é de fabricação da empresa BH-Beistegui. No entanto, durante o processo, a arma já teve as marcas Rossi e Taurus citada.
Nos papéis da investigação do caso, havia uma fotografia de um saco plástico com a palavra “Rossi” escrita à caneta, o que pode ter gerado confusão. De acordo com a advogada Fernanda Félix, “a arma foi recolhida no dia dos fatos e colocada em um saco plástico, quando deveria ter sido recolhida pelo Instituto de Criminalistica”.
Em setembro de 2014, a Ponte Jornalismo teve acesso a um outro laudo do acaso, que apontava que o tiro que atingiu a cabeça de José Guilherme não foi dado à curta distância, o que desmente a tese de que ele teria se matado. O documento apontava, ainda, que o corpo da vítima, armas e o local do crime foram alterados e prejudicaram a coleta de provas: “o ferimento da entrada do projétil na cabeça da vítima encontrado não apresentava os sinais secundários indicando que o disparo não foi efetuado a curta distância ou que foi efetuado com algum tipo de anteparo entre a arma e a vítima”.
Aquele laudo foi bem diferente do primeiro, quando o Instituto de Criminalistica de Limeira preferiu se concentrar na descrição do modelo da algema, que seria mais flexível e até permitiria que ladrões hábeis atirassem em si próprios. O primeiro laudo também calculou a distância do disparo em cerca de 50 centímetros, que corresponderia mais ou menos à distância de alguém que atira na cabeça com as mãos algemadas para trás.