Moradores da maior cidade da região apontam duas mortes que teriam sido causadas por PMs na manhã desta terça (1). “População das comunidades passa a ser responsabilizada”, critica vereadora
A matança promovida pela PM paulista na Baixada Santista, litoral do estado de São Paulo, deixou o município do Guarujá, onde se concentravam as primeiras mortes, e está atingindo outras cidades da região. Na manhã desta terça-feira (1/8) policiais militares teriam baleado dois jovens na região do Morro São Bento, na cidade de Santos, informam moradores da região.
Até o momento, uma morte foi confirmada, mas moradores relatam uma segunda morte, e denunciam que as vítimas estavam dentro de suas casas quando foram surpreendidas pela polícia. Relatos também dão conta de que policiais também deixaram arma e drogas no local como uma forma de encenar uma troca de tiros. Durante a tarde desta terça (1) o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) confirmou a segunda morte em Santos, elevando para 14 o número de mortos na Operação Escudo, além de informar que um segundo PM foi baleado na cidade.
As ações policiais em Santos estão sendo identificadas como um padrão das forças de segurança depois do início da chacina, que começou no Guarujá na última semana e que, até o momento, resultou na morte de ao menos 12 pessoas. Na madrugada desta terça (1) uma policial militar foi baleada em Santos, a quatro quilômetros do Morro São Bento — o projétil a atingiu pelas costas e ficou alojado na perna da PM. O quadro de saúde dela indica estabilidade.
Para moradores da região, que preferem não se identificar com medo de represálias, está havendo um esforço de encontrar pessoas com antecedentes criminais e encenar confrontos com a polícia, mas, contam, as trocas de tiros não são verídicas: eles acusam invasões arbitrárias nas casas, em que os agentes entram questionando se há passagem policial entre os moradores. Mesmo pessoas que já teriam recomeçado a vida após pagar as contas com a Justiça parecem estar sendo mortas, como seria o caso de Felipe Vieira, que teria sido torturado e executado no Guarujá.
Moradora do Saboó, outra região periférica de Santos, a vereadora Débora Camilo (PSOL), também relatou ter ouvido tiros no bairro, e também questiona por que a polícia está em busca de responsáveis pelos ataques em comunidades que não estão relacionadas aos casos.
“Até soubemos que os suspeitos podem ter ido ao Morro São Bento pelas informações oficiais, mas no Saboó e na Favela do Pantanal não há qualquer relação com os casos e temos relatos de tiros. Observamos que mesmo quando os crimes não acontecem nas periferias, é a população das comunidades que passa a ser responsabilizada”, critica.
Débora também enfatiza que o sentimento de solidariedade e de indignação também é pela violência cometida contra os policiais, mas pede para que haja um olhar mais cuidadoso para as ações cometidas contra a população da Baixada.
“A gente lamenta essas ações contra os policiais, mas a gente também lamenta essas ações policiais que acontecem com o aval do governador Tarcisio e que resulta em mortes inocentes, já que nenhuma operação é bem-sucedida quando há mortes. Lamento a morte dos policiais enquanto trabalhadores, mas também lamento a morte de outros trabalhadores pela polícia e com o aval do governador”, reforça.
A Operação Escudo, comandada pela Polícia Militar do governador Tarcísio de Freitas, foi considerada uma “operação de vingança” por Rafael Rocha, do Instituto Sou da Paz, em entrevista à Ponte. Falando ao UOL, a ministra da Igualdade Racial Anielle Franco também cita a questão da “vingança”: “a palavra vingança, quando pesa, sempre vai pesar nas pessoas mais fracas e mais pobres, que a gente sabe que são pessoas de pele negra”.
Um ato foi convocado para a a tarde desta quarta-feira (2/8) na Praça 14 Bis, no Guarujá, onde as mortes começaram após o PM Patrick Bastos de Oliveira, das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), ser assassinado na quinta-feira passada (27/7).
Na capital paulista, também está confirmado um ato organizado pelos movimentos negros para as 18h desta quinta-feira (3/8) em frente à Secretaria de Segurança Pública, no Largo São Francisco, centro da cidade.
Outro lado
Questionada sobre as mortes em Santos nesta terça-feira (1), a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) encaminhou a seguinte nota:
“A Operação Escudo para repressão ao tráfico de drogas e ao crime organizado segue em curso na Baixada Santista. 32 suspeitos já foram presos e 20,3 quilos de drogas e 11 armas apreendidas. Treze suspeitos morreram ao entrarem em confronto com as forças de segurança desde o início da operação. Por determinação da SSP, todos os casos são investigados pela Divisão Especializada de Investigações Criminais (DEIC) de Santos e pela Polícia Militar por meio de Inquérito Policial Militar (IPM). As imagens das câmeras corporais serão anexadas aos inquéritos em curso e estão disponíveis para consulta irrestrita pelo Ministério Público, Poder Judiciário e a Corregedoria da PM.“