Ministério Público de SP cria força-tarefa contra PCC após ameaça a promotor

    Procurador-geral de SP afirma que as ameaças atingem toda a instituição: ‘se um promotor sair, colocamos outro. Somos 2 mil em todo o estado para combater o crime organizado’

    Aviso e reposta: correspondências cifradas foram pegas com mulheres após visita | Foto: reprodução

    O Ministério Público de São Paulo anunciou nesta segunda-feira (10/12) a criação de uma força-tarefa para identificar os envolvidos na ameaça de morte ao promotor Lincoln Gakiya, que investiga o PCC (Primeiro Comando da Capital) há anos, e, segundo as investigações, ao coordenador da unidade prisional onde está a cúpula da facção, a P2 de Presidente Venceslau, Roberto Medina. O procurador-geral de São Paulo, Gianpaolo Poggio Smanio, informou que a segurança de Gakiya foi reforçada para que ele continue realizando o seu trabalho normalmente.

    As ameças estavam em duas cartas cartas cifradas interceptadas pela PM no sábado (8/12), na saída do presídio. O conteúdo delas foi revelado na tarde de domingo em primeira mão pela Ponte. No bilhete 1, endereçado ao comando da facção, os criminosos usam a expressão “frango”, em alusão ao abate de animais, para indicar os decretados. “Tá na mão tudo os endereços que ele vai tá mapeado. Dá pra fazer ele a hora que quiser. Já tem o carro, os horários tudo dele”. Em outro trecho do bilhete, eles falam da necessidade de dar o salve do “frango japonês” se referindo ao promotor Lincoln Gakiya. “É um pouco mais complicado, mas dá pra fazer também a hora que quiser. O que tá pegando é que a cidade dele é bem maior que W [referência a Presidente Venceslau]”.

    O procurador Gianpaolo Smanio frisou que a instituição está dando uma resposta a ameaças, que, ainda segundo ele, são frequentes. “A força-tarefa tem como objetivo principal apurar as ameaças sofridas pelo promotor nesse momento. Eu gostaria de dizer que nós não admitimos nenhuma ameaça a atuação do MP ou de qualquer promotor, promotora, procurador ou procuradora. Essas ameaças atingem a instituição”, declarou Smanio em coletiva de imprensa na sede do MP, no centro de São Paulo.

    Procurador-geral de SP, Gianpaolo Smanio, e subprocurador, Mário Sarrubbo | Foto: Maria Teresa Cruz/Ponte Jornalismo

    “O MP não teme nada e vai continuar realizando o trabalho. Se sair um promotor entram outros, e se saírem esses outros, entram outros e se for necessário os 2 mil promotores que atuam no estado de SP farão esse trabalho de combate ao crime organizado. Portanto, esse tipo de ameaça ao contrário de constranger, reforça o nosso trabalho”, afirmou o procurador que estava acompanhado do subprocurador-geral de SP, Mário Sarrubbo.

    As correspondências estavam com Maria Eliane de Oliveira e Alessandra Cristina Vieira, que tinham ido visitar Marcola e o companheiro de cela Maurinho fazendo uma espécie de função de pombo correio. O principal motivo das ameaças seria a possível transferência de alguns integrantes do PCC, entre eles Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pelo MP como líder máximo do PCC. O pedido feito à Justiça pelo MP aconteceu depois que um plano de resgate feito também por bilhetes foi descoberto pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do órgão.

    À Ponte, Smanio disse que espera que Maria Eliane e Alessandra permaneçam presas e criticou a Lei de Execução Penal nos casos de ligação com crime organizado. “A gente precisa endurecer essas medidas, sim. Eles têm visita íntima. Só os líderes do PCC têm mais de 20 advogados, cada hora vai um. Isso precisaria ser endurecido. Não para os outros, mas para esse tipo de crime. Não pode ter essa facilidade de comunicação”, disse.

    Ao ser questionado sobre o que motivou os pedidos de transferência de integrantes do PCC para presídios federais, Smanio procurou dar um tom de normalidade ao procedimento. “Não dá para discutir isso pela imprensa. Isso é muito sigiloso, qualquer que seja a solução. Precisa ver se é o caso de transferir, tem que cumprir o devido processo legal, ouvir a parte contrária. O plano de resgate motivou a discussão da transferência, mas não é a única causa. Ao longo do tempo, muitos foram transferidos. É um procedimento previsto. Agora, ela pode ocorrer a depender de decisão judicial e tratativa de todos os órgãos interessados, esfera estadual e federal”, explicou.

    Quando perguntado sobre o temor de que a transferência deflagre uma reedição do que aconteceu em maio de 2006, quando ataques do PCC e a resposta do Estado deixaram mais de 500 mortos, Smanio foi taxativo. “Não [há esse temor]. “Essas situações que envolvem o crime organizado são sempre de tensão. Mas reitero que se for necessário e houver autorização judicial, e se for medida adequada, [esses presos] vão ser transferidos e nós vamos enfrentar com… tranquilidade não é a palavra, porque não é tranquilo, mas vamos enfrentar com segurança”, declarou.

    A Ponte procurou a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) para questionar sobre mecanismos de proteção ao coordenador da P2 de Presidente Venceslau Roberto Medina. Em nota, a pasta informa que “combate diuturnamente o crime organizado em parceria com a inteligência das Policias e com o Ministério Público e que estão sendo tomadas todas as providências para a manutenção da segurança dos servidores”.

    Em nota, a APMP (Associação Paulista do Ministério Público) manifesta apoio ao promotor Linconl Gakiya e outros envolvidos com questões da segurança pública e cobra participação do Estado no combate a esse tipo de situação. “Sem essa garantia, o respectivo trabalho não pode ser realizado, gerando graves consequências para a população, a qual, insegura e exposta, será refém de ataques criminosos, o que tristemente já se vivenciou”, expressou a nota, fazendo referência aos Crimes de Maio.

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