Moradores relatam ameaças de PM aposentado após reintegração de posse em SP

    Milton Vieira estaria ampliando propriedade com cercas e atingindo área que não estava registrada em decisão judicial, no Jardim Copacabana, extremo sul; Defensoria Pública solicitou perícia para delimitar a área

    Moradores alegam que cercas foram mudadas para aumentar área de terreno desocupado em abril deste ano | Foto: arquivo pessoal

    Moradores do que restou da Ocupação do Pinharal, no Jardim Copacabana, extremo sul de São Paulo, afirmam que, após a reintegração de posse, estão sofrendo ameaças por parte de um PM aposentado que estaria ampliando os limites do terreno desocupado, a serviço do proprietário.

    Na época, a Ponte noticiou a reintegração e teve acesso aos vídeos que mostram retroescavadeiras derrubando os barracos. A demolição quase atingiu uma criança.

    A ocupação está localizada em quatro terrenos, cada um tem um proprietário diferente: as empresas Mimax Com. e Construções Ltda., Faix e Rádio Mulher Ltda, José Nilson Correia de Lima e Pedro Basile. Em abril, a propriedade pertencente à Pedro Basile foi reintegrada e 100 famílias ficaram sem casa. Para as famílias, a ação não respeitou as delimitações do terreno e teria ampliado a área a ser desocupada.

    Agora, depois da saída das famílias, os moradores que permaneceram nos outros terrenos denunciam que a área desocupada vem sendo estendida desde o dia 15 de maio.

    “Tem dois seguranças, um é policial militar reformado que toma conta do terreno do seu Basile, que a gente só conhece por Vieira, que também se apresenta como advogado. Ele começou a medir, falando que era melhor sair porque se não iam quebrar tudo, e todo o dia ele manda outros caras esticarem a cerca. Eles apontam o dedo, vem o carro de uma empresa e faz a cerca”, conta um morador que pediu para não ser identificado com medo de represálias. “Chamamos a polícia, mas não fizeram nada”, prossegue.

    Outra moradora, que está há três anos na ocupação, formalizou a denúncia em um B.O. (Boletim de Ocorrência) no dia 22 de maio. “Na quarta-feira [15/5] de manhã, chegou ele [PM aposentado] e um segurança e uns outros rapazes. Eles disseram que se a gente não fosse saindo, que iam derrubar nossos barracos com as crianças dentro e que quem quiser processar ele depois, que processe porque ele vai derrubar”, relata a mulher.

    Depois da formalização da denúncia, os moradores procuraram a Defensoria Pública do Estado, já que apontam que há 250 famílias no local. O documento foi anexado aos autos do processo de reintegração de posse nesta semana.

    A denúncia é contra Milton Vieira da Silva, PM transferido para a reserva desde 2015, de acordo com publicação no Diário Oficial do Estado, e advogado com registro ativo na OAB-SP. No processo de reintegração de posse, ele aparece como “tomador de conta” e “encarregado da guarda” do terreno do aposentado Pedro Basile.

    A reportagem tentou entrar em contato com Milton, mas não conseguiu localizá-lo. O advogado de Pedro Basile, Valdeci Codignoto, também foi acionado. A respeito das alegações dos moradores, ele enviou a seguinte resposta. “Por favor, da próxima vez que for ao local, peça aos INVASORES que desculpem o proprietário por estar incomodando o sossego deles. Obrigado”.

    A Ponte procurou a SSP (Secretaria de Segurança Pública) que, por telefone, declarou que a pasta não responde pelos policiais aposentados, apenas os que ainda estão na ativa. Já a assessoria de imprensa da Defensoria Pública afirmou, em nota, que o órgão “foi até o local, conversou com as pessoas atingidas e se manifestou no processo, pedindo perícia para delimitação da área”.

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