Morre jovem negro baleado pela PM no Guarujá (SP)

Matheus dos Santos Silva, 19 anos, morreu na manhã desta terça-feira (23/4); PM disse que atirou quando o jovem reagiu, mas família nega versão da polícia e nenhuma arma foi encontrada com ele

Matheus dos Santos Silva morreu nesta terça-feira (23/4) aos 19 anos | Foto: Arquivo pessoal

O jovem negro Matheus dos Santos Silva, 19 anos, morreu nesta terça-feira (23/4). Ele estava internado no Hospital Santo Amaro, em Guarujá, no litoral de São Paulo, desde quinta-feira (18/4), quando foi baleado no rosto por policiais militares. Os PMs falam que Matheus reagiu a uma abordagem, versão negada pela família. 

A morte ocorreu na Vila Zilda, em Guarujá, por volta das 16h. Segundo os advogados Paulo de Lima e Silva e Drielli dos Santos, que representam a família de Matheus, o jovem estava sentado na rua acompanhado por um amigo. 

A dupla teria sido abordada pelos policiais. Quando foi levantar, segundo o advogado, Matheus foi atingido com um tiro no rosto. Ele nega que o jovem tenha agido contra os policiais. “Ninguém é doido de reagir, ainda mais com policiais do Choque”, diz. 

No boletim de ocorrência, a versão dos policiais é outra. Eles narram que Matheus chamou a atenção quando estes faziam patrulhamento na área. O jovem estaria parado em uma bicicleta, com um volume na cintura e teria ficado nervoso com a aproximação dos agentes. 

O policial Luis Antonio Viana dos Santos disse que, ao desembarcar da viatura, Matheus “resistiu à abordagem vindo para cima”. Ele justificou que, por o local ser uma favela e por supostamente haver risco do jovem tomar sua arma, o PM atirou. Ele contou ainda ter ficado com escoriações na mão direita. 

O local não foi periciado sob justificativa de que não havia campo para perícia e que a comunidade tumultuou a área e demonstrou revolta pela ação policial. Um vídeo, ao qual a Ponte teve acesso, registrou os minutos logo após o disparo (veja abaixo).

Não consta no BO a apreensão de qualquer arma ou objeto que justificasse o volume na cintura de Matheus, relatado pelos policiais. A pistola do PM Viana foi apreendida.

O delegado Wagner Camargo Gouveia, do Departamento de Polícia do Guarujá, onde o crime foi registrado, concluiu que a conduta do policial não envolveu nenhum crime, com justificativa de legítima defesa. 

Para o advogado Paulo de Lima e Silva, o caso tem que ser apurado. “É mais um que não pode entrar para estatísticas dessa operação ceifa vidas de muitos inocentes.”

Região marcada por operações letais 

A Baixada Santista, onde está localizado o Guarujá, vem sofrendo com operações violentas e letais da polícia militar durante a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). A primeira dela, a Operação Escudo, matou pelo menos 28 pessoas em 40 dias de operação.

A operação foi deflagrada após a morte do policial das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), Patrick Bastos Reis, 30 anos. Ele foi morto em serviço em julho do ano passado. As denúncias sobre violações praticadas pela Escudo não bastaram para impedir novas operações nos mesmos moldes.

Em fevereiro, após a morte do também integrante da Rota Samuel Wesley Cosmo, 35 anos, foi anunciado um desdobramento da Operação Verão, com o viés de identificar os responsáveis pela morte do agente.

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Apesar da prisão de um suspeito, a operação continuou até o começo de abril. Ao todo, 56 pessoas foram mortas pela polícia na Baixada Santista. A Ponte contou a história de algumas das vítimas: o catador de latinhas José Marques Nunes da Silva, 45, o jovem cego Hildebrando Simão Neto, 24, e os amigos de infância Leonel Andrade Santos, 36, e Jefferson Ramos Miranda, 37. 

O que diz a Secretaria da Segurança Pública 

A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) pedindo uma posição sobre o caso e questionando se os policiais usavam câmeras na farda, se as imagens foram solicitadas, se houve busca por imagens de câmeras de comércios da região. Também foi solicitada entrevista com um porta-voz da SSP-SP e o PM e o delegado citados.

Em nota, a SSP-SP informou que solicitou exames ao Instituto Médico Legal (IML) após a morte de Matheus. “Tão logo finalizados, serão analisados pela autoridade policial, visando esclarecer as circunstâncias dos fatos”, escreveu.

Leia nota na íntegra

O caso é investigado pelas polícias Civil e Militar, com acompanhamento das respectivas corregedorias, Ministério Público e Poder Judiciário. Um homem, de 19 anos, foi baleado após resistir a uma abordagem policial na tarde da última quinta-feira (18), na Rua Minas Gerais, em Guarujá. Na ocasião dos fatos, o indivíduo foi socorrido ao Hospital Santo Amaro, onde veio a óbito na madrugada desta terça-feira (23). Foram solicitados exames junto ao Instituto Médico Legal (IML). Os laudos estão em elaboração. Tão logo finalizados, serão analisados pela autoridade policial, visando esclarecer as circunstâncias dos fatos.

*Matéria atualizada às 18h17min do dia 23 de abril para incluir a nota da SSP-SP.

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