Morto em baile funk na zona leste de SP deixa filha de 2 anos

    Kelri morreu baleado no dia 9 de fevereiro em Itaquera; câmeras de segurança registraram ação da PM, que negou ter atuado na festa

    Kelri levou um tiro no ombro, chegou a ser socorrido, mas não resistiu | Foto: Arquivo pessoal

    O balconista Kelri Antônio Claro era um jovem de 23 anos, morador de Itaquera, zona leste da cidade de São Paulo. Em suas folgas, gostava de curtir um baile funk que é feito na Avenida Caititu, bem na rua onde ele morada. Na noite do dia 9 de fevereiro, Kelri levou um tiro no ombro, não resistiu à perda de sangue e morreu.

    Testemunhas relatam que houve ação da PM no baile aquele dia. Um grupo de 15 policiais é investigado após ter apresentado a ocorrência como “morte em decorrência de intervenção policial” sem, contudo, ter mostrado elementos de como teria sido o confronto.

    Até o ano passado, Kelri trabalhava em uma fábrica de isqueiros localizada na avenida Pires do Rio, uma das principais do bairro. Deixou o emprego para trabalhar em um comércio da família como balconista.

    “Era um moleque alegre, sorridente, trabalhador. Não era um vagabundo”, contou à Ponte um familiar, que pediu anonimato por medo. Kelri deixou órfã a filha de dois anos, que agora só poderá contar com os cuidados da mãe.

    O jovem tinha uma viagem marcada para essa semana: iria para Minas Gerais, mas a bala disparada no dia 9 de fevereiro acabou com o plano. O autor do tiro ainda não foi identificado.

    “Infelizmente onde a gente mora é periferia, acontece esse baile e ele gostava de curtir. Era a diversão dele. Morava na rua do baile, não tinha nem como não curtir”, explicou o parente.

    Quem convivia com o rapaz detalha que as viagens eram um dos seus principais divertimentos. Em 2019, esteve no Rio de Janeiro. As diversões no próprio bairro aconteciam às vezes.

    “Coisa rara era ele tomar uma cerveja. Era de vez em nunca. No dia da folga dele, que caiu no sábado, ele acordou e ficou um pouco na frente [de casa]. Foi quando tudo aconteceu”, relembrou.

    Familiares do jovem têm medo de sofrer represálias depois de sua morte. O temor tem relação direta com o fato de que 15 PMs estão sendo investigados por causa do crime.

    Além de ter alegado tiroteio, os 15 PMs investigados por causa da ação ainda negam terem atuado no baile funk na madrugada da morte. Segundo o grupo, eles estiveram na região em que fica o baile na noite de sábado para atender uma ocorrência de perturbação do sossego e verificar carros com som alto. Asseguram não ter chegado ao local do baile e negam usado as suas armas.

    Imagens de câmera de segurança obtidas pela Ponte mostram uma ação da PM em uma multidão que seria o baile da avenida Caititu. O relógio marca 1h26 da manhã e os jovens aparecem reunidos, mexendo guarda-chuvas e dançando. Há carros estacionados no meio da multidão. Logo depois, as pessoas começam a sair e um minuto depois já não têm ninguém na rua.

    Uma outra câmera, em posição oposta, mostra que o motivo da saída é a ação de quatro PMs, que afasta a multidão. Depois, um deles pega uma moto e junta com outro dois veículos que estão parados no começo da via.

    Testemunhas da operação policial relatam que um PM teria dado dois disparos de arma de fogo em direção à uma viela. Kelri foi atingido perto de uma viela entre a avenida Caititu e a rua Terra Brasileira. O tiro acertou no ombro dele e atravessou o corpo, saindo pela axila.

    Após a denúncia da Ponte, a Ouvidoria da Polícia de São Paulo determinou abertura de procedimento para acompanhar as investigações da morte de Kelri.

    A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública, gerida pelo general João Camilo Pires de Campos no governo de João Doria (PSDB), sobre as imagens que comprovam uma ação policial no baile funk, enquanto a versão dos PMs aponta em outra direção.

    A InPress, assessoria de imprensa terceirizada da pasta, alegou que “todas as circunstâncias relativas à morte de um homem de 23 anos, na madrugada do último domingo (9/2), em Itaquera, são apuradas por meio de inquéritos instaurados pelo DHPP e Polícia Militar. Os envolvidos foram qualificados como investigados”.

    A reportagem fez a mesma pergunta para a PM, comandada pelo coronel Marcelo Vieira Salles, que informou que os policiais permanecem trabalhando. “Em razão dos fatos ocorridos foi instaurado um inquérito policial militar para apurar todas as circunstâncias. A Corregedoria acompanha as investigações bem como o DHPP”.

    Reportagem atualizada às 16h do dia 16/2 para inclusão das notas da SSP e da PM.

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