MP pede exumação de corpo de jovem morto pela polícia no MA após postagem a favor de Lázaro

Hamilton Bandeira, 23, foi morto dentro de casa no dia 17 de junho em Presidente Dutra, a 350 km da capital São Luiz; família e comundade fizeram protesto em memória do jovem nesta quarta (23)

 Hamilton Cesar Lima Bandeira, vivia com o avô de 99 anos que estava presente no momento da morte do neto | Foto: Arquivo Pessoal

O Ministério Público Estadual do Maranhão (MP-MA) confirmou nesta quinta-feira (24/6) a exumação do corpo do jovem de 23 anos Hamilton Cesar Lima Bandeira, morto por policiais civis em 17 de junho ma cidade de Presidente Dutra, localizada no interior do Maranhão, distante cerca de 350 km da capital São Luís.

De acordo com o promotor de justiça Clodoaldo Nascimento Araújo, titular da 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Presidente Dutra, em nota encaminhada à Ponte, “os delegados condutores do inquérito foram oficiados para que sejam realizados alguns procedimentos no âmbito da investigação, como a exumação do corpo pela perícia do IML [Instituto Médico Legal] para saber o local dos tiros; perícia nos projéteis retirados do corpo para exame de balística; e reconstituição do crime”. 

Na nota o MP ainda diz que o caso não será investigado por policiais da região, e que o deslocamento da investigação tem como objetivo a garantia da isenção nas investigações. “Segundo informações do promotor de justiça a investigação ficará sob os cuidados de outros delegados que não os de Presidente Dutra/MA, fato que traz indícios de que tudo será apurado com a devida isenção cabível”.

Leia também: Polícia afirma que não entrou na casa onde matou jovem com deficiência intelectual; ‘Querem encobrir o caso mentindo’, diz mãe

Ainda segundo a nota, “também foi expedido ofício à Secretaria Municipal de Assistência Social para que forneça serviço psicológico aos parentes da vítima, bem como já está sendo realizado levantamento do histórico familiar da vítima, que pode contribuir com as investigações do ocorrido”. 

O promotor de justiça diz também que, “foi encaminhado ofício à Corregedoria da Polícia Civil para que informe o histórico funcional dos policiais civis envolvidos na ocorrência”, seguiu o Ministério Público do Maranhão no texto.

A Ponte procurou novamente a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA) para saber se os policiais envolvidos no caso foram afastados e se houve intimação para que os agentes da Polícia Civil entrassem na casa de Hamilton, as questões não foram respondidas até o momento. A reportagem pediu esclarecimentos ao governador Flávio Dino (PSB), do Maranhão, por e-mail e ligação telefônica, mas até o momento Dino não se manifestou. 

Leia também: Polícia invade casa e mata jovem com deficiência intelectual. ‘Jogaram na viatura como se fosse animal’, diz mãe

Em reportagem do portal de notícias UOL, Flávio Dino (PSB) afirmou querer rapidez nas investigações. “Determinei a investigação plena e imediata. Isso está ocorrendo e na próxima semana a Secretaria de Segurança haverá um relatório”, disse o governador. “O que garanto é que a lei será cumprida, de acordo com os fatos que estão sendo apurados tecnicamente”, declarou Dino. 

O secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela, afirmou à TV Mirante, afiliada da rede Globo, que não irá afastar os agentes por falta de elementos. “Não há elemento para dizer isso, o que foi dito anteriormente. O assassinato tecnicamente isso não está demonstrado. Isso será demonstrado dentro do inquérito policial se houve ou não. Se houve, eles responderão dentro das normas legais. Se não houve, terão os permissíveis de lei para o ato que praticaram. Isto é definido dentro do inquérito policial, não há um juízo que mostre antecipadamente que eles cometeram crimes e que sejam afastados das suas atividades”, disse Portela.

Moradores de Presidente Dutra pedem justiça

Na tarde desta quarta-feira (23/6) moradores do povoado de Calumbi, em Presidente Dutra (MA) realizaram uma manifestação pedindo paz e justiça para Hamilton. O jovem foi morto por volta do meio-dia de quinta-feira (17/6) por policiais civis por conta de mensagens em redes sociais que remetiam a Lázaro Barbosa, criminoso procurado em Goiás.

O protesto pacifico saiu da rua do comércio passando pela BR 135, no km 324, circulando por todo o povoado de Calumbi. Hamilton tinha deficiência intelectual e tomava remédios controlados. Um carro de som acompanhou o ato em memória de Hamilton. 

A mãe de Hamilton, Ana Maria Lima Dias, 41 anos, diz que o filho era conhecido pelo seu bom humor entre os moradores do povoado de Calumbi. “Ele era muito prestativo, muito trabalhador, era ajudante de pedreiro, pintava, capinava, todo mundo aqui viu ele crescer, ele respeitava as crianças, os mais velhos e estava acabando o ensino médio. Quando estava agitado, ele passava o dia na casa dos vizinhos. Ele era conhecido, fazia muita ‘macacada’, todo mundo gostava dele”, disse a atendente em uma loja de conveniência em um posto de combustíveis.

Polícia nega que entrou na casa, família contesta

Em nota enviada à Ponte na última terça-feira (22/06), a Secretaria de Estado da Comunicação Social do Maranhão afirmou que a Polícia Civil do Maranhão (PCMA) sublinha que “os policiais não entraram na casa”. 

A pasta ainda alegou que “a mãe e a irmã compareceram à Delegacia, fizeram perguntas sobre o ocorrido, mas não pediram para registrar ocorrência. Ressalta que foi apresentada a elas a Portaria de Instauração do Inquérito Policial para apuração dos fatos. A PC informa que foram efetuados dois disparos, um na perna e outro no abdômen”, afirma o texto. 

Mas, anteriormente, em e-mail encaminhado à Ponte também nesta segunda-feira (21/6), a Polícia Civil do Maranhão (PC-MA) informou que esteve na residência. “Após denúncias de moradores, atendeu uma ocorrência de ameaça e apologia ao crime em uma residência no povoado de Calumbi. Ao chegar no local, o suspeito não acatou a ordem policial, atacando os agentes com uma arma branca (faca). Para conter a situação, policiais atiraram e um dos disparos atingiu o rapaz, que foi socorrido pelos policiais, levado ao hospital com vida, mas acabou vindo a óbito”.

Em um vídeo a mãe e o avô de Hamilton mostram como ocorreu a morte | Foto: Reprodução / Arquivo pessoal

A versão da polícia revoltou Ana Maria, que contestou o que foi dito pela Polícia Civil. “O que eles estão falando é tudo mentira, eles já chegaram entrando, já se depararam com o Hamilton saindo do quarto e deram os três tiros, como eles iam matar uma pessoa que estava dentro do quarto sem ter entrado na casa? Eles querem encobrir o caso mentindo, mas a verdade vai aparecer”, relatou. Em um vídeo, Ana e o avô de Hamilton mostraram como o crime ocorreu dentro da casa.

Apoie a Ponte!

“Chegamos lá na delegacia, pedimos para fazer o BO, mas eles já tinham feito um BO com a versão deles, a minha filha pediu ainda o protocolo, o mandado de prisão, eles não deram nada, não deram nenhum papel para a gente, só falaram que o Hamilton foi pego em flagrante e que estavam averiguando o caso”, descreveu Ana. 

Já que Tamo junto até aqui…

Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

Ajude

mais lidas