Ofício da Ouvidoria das polícias e da prefeitura chegou na segunda-feira (15/12) ao Ministério Público de São Paulo; Policiais Gilberto Dartora e Rodrigo Coelho mataram Thiago Silva, de 22 anos, com 10 tiros, na zona sul da capital
O subprocurador geral institucional do MP (Ministério Público), Gian Paolo Poggio Smanio, só assinou na tarde de sexta-feira (19/12) o despacho para que haja investigação da Promotoria sobre os PMs (policiais militares) Gilberto Dartora e Rodrigo Gimenez Coelho. Os dois soldados foram flagrados executando Thiago Vieira da Silva, de 22 anos, na noite de terça-feira (9/12), no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo.
O órgão responsável pela investigação será o Gacep (Grupo de Atuação Especial para o Controle Externo de Atividade Policial), mas ele só vai começar a apurar o caso em 2015, segundo o próprio MP. A Promotoria recebeu dois ofícios com pedido de investigação, na segunda-feira (15/12) — um da Ouvidoria das polícias de São Paulo e outro da prefeitura. De segunda-feira (22/12) até o final do mês, ainda faltam seis dias úteis.
Os dois PMs que atiraram 10 vezes contra Thiago foram afastados e estão no Centro de Apoio Social da Polícia Militar, onde vão passar por uma avaliação psicológica. Gilberto Dartora e Rodrigo Gimenez Coelho são da 1ª Companhia do 1º Batalhão da PM. A corporação abriu uma investigação para avaliar a conduta dos soldados e eles podem perder o cargo dentro da polícia. Até o término das investigações, eles devem ficar fora das ruas, apenas em funções administrativas.
A abordagem dos policiais não respeitou a orientação dada a todos os agentes de segurança pública, conhecida comométodo Giraldi. De acordo com essa orientação, durante uma abordagem que requer a contenção de um suspeito, o policial deve dar apenas dois tiros. Caso o suspeito esteja armado e reaja, o agente deve seguir com mais dois disparos, até que a situação fique segura.
Após Thiago Silva pedir socorro três vezes, o PM Gilberto Dartora deu quatro disparos, sendo que, após o primeiro, Thiago já desacordou. Depois, o policial Rodrigo Guimenez Coelho, que estava na cobertura do primeiro PM, também atirou. Ao todo, o suspeito foi alvejado 10 vezes.
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A mãe de Thiago, que pediu para não ser identificada, afirmou que o filho, quesempre foi trabalhador, voltava de uma casa noturna quando foi abordado. O amigo que foi à balada com Thiago disse que eles estavam na rua no momento da abordagem. “Ele ainda ajudou um nosso amigo que estava bêbado a voltar pra casa. Só de pensar que as últimas palavras dele foram com a gente, dá um aperto enorme”.
Um morador da região conta que, depois da execução, os policiais voltaram ao local para revistar os celulares das pessoas. “Ele chegou, apontou a arma e falou pra mim virar pra parede, e pediu o celular. Queria ver se tinha vídeo”, afirmou.
O ouvidor das polícias de São Paulo, Julio Cesar Neves, condenou a abordagem dos policiais. “O policial militar não está aí para matar alguém, para executar uma sentença de morte. O policial militar está aí para prender e para levar esse cidadão para um distrito policial”, afirmou. A Ouvidoria pediu ao MP (Ministério Público), ao DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa) e à Corregedoria da Polícia que investiguem o caso.
A versão da PM é de que houve tiroteio. Moradores locais afirmam, sem se identificar, que o jovem foi rendido e executado. Enquanto de um lado da rua, havia diversos fragmentos de bala e perfurações na parede e em carros estacionados, o outro lado ficou intacto.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que os PMs prenderam em flagrante Leandro Pereira dos Santos, de 20 anos, com uma bolsa carregada de drogas, depois de a corporação ter sido acionada para atender uma denúncia de tráfico. A pasta afirma que o rapaz detido se entregou, e Thiago, tentou fugir. “Em dado momento, Thiago se abrigou entre dois carros que estavam estacionados e voltou a atirar contra um dos PMs, que revidou. Outro policial veio em apoio, se aproximou pelo lado direito e também atirou, acertando o suspeito que morreu no local”, afirma a SSP. Quem viu a cena, desmente a versão oficial da pasta. “Como é que ele gritaria socorro três vezes antes de morrer se estivesse fugindo?“, questiona um morador local.
A SSP afirma, ainda, que ao lado do corpo foi encontrado um revólver calibre 38. A polícia diz que Leandro, que seria colega de Thiago, estava com uma mochila que tinha 80 papelotes de maconha, 219 pinos de cocaína, 58 frascos de lança perfume, 34 pedras de crack, além de R$ 14,80 e um telefone celular. Outro morador da região, que também viu a execução, desmente novamente a pasta. “Eu e os outros vizinhos que viram, estávamos conversando sobre o caso. Ninguém se lembra de sequer ter visto a mochila”, afirmou.
Veja o vídeo em que o jovem pede socorro: