Mulheres negras marcham em SP por justiça racial, fim do genocídio preto e direito ao aborto

9ª Marcha das Mulheres Negras levou multidão ao Centro de São Paulo nesta quinta-feira (25/7) com o mote “Nenhum passo atrás! Por nós, por todas nós, pelo bem viver. Reparação, já!”

Faixa pendurada na Biblioteca Mario de Andrade homenageou organizadoras da Marcha das Mulheres Negras que já faleceram | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

A 9ª Marcha das Mulheres Negras levou uma multidão ao Centro de São Paulo nesta quinta-feira (25), data em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia de Tereza de Benguela. Clamando por justiça racial e pelo fim do genocídio preto, o ato reuniu diversos movimentos sociais.

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Com o mote “Nenhum passo atrás! Por nós, por todas nós, pelo bem viver. Reparação, já!”, a Marcha das Mulheres Negras denuncia o genocídio da população negra, lembrando os assassinatos de Mãe Bernadete, Luana Barbosa, Cláudia da Silva Ferreira e Marielle Franco.

Luciana Araújo, uma das organizadoras da Marcha, conta que a militância racial foi crucial para sua participação. “O que me trouxe foi a importância de nos organizarmos como mulheres porque racismo e machismo operam juntos”, diz. “Estarmos juntas é muito fortalecedor para encarar essa realidade”, completa.

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Além da justiça racial, a 9ª Marcha tratou de justiça reprodutiva. A tramitação do projeto de lei 1904/2024, o PL do Estupro, que equipara a pena do aborto até 22 semanas ao crime de homicídio, foi alvo de críticas durante o ato.

Luciana lembrou que as mulheres pretas são alvo prioritário de violência sexual. Segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública 2024, adolescentes negras de até 13 anos são as maiores vítimas de estupro. “É sempre o nosso povo que mais sofre, que mais é impacto e que mais morre”, fala Luciana. 

Vidas dignas

A luta por vidas dignas para mulheres negras também motivou a participação da família da educadora antirracista Shiva Carolina da Silva Batista, 40, na marcha. Ela fez questão de levar o filho de 11 anos para o ato. “A gente acha importante que ele [o filho Zulu] também cresça com essa consciência”, diz.

A educadora Shiva Carolina da Silva Batista, 40, e o filho Zulu, 11 | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Atento aos discursos e às apresentações musicais, Zulu de Lima Batista carregava com ele um cartaz com os dizeres: “No Brasil, a maioria das vítimas de violência sexual são crianças”. “É importante estar aqui porque no Brasil a gente sofre muito racismo, mas quem sofre mais são as mulheres. A gente tem que ajudar muito mais as mulheres”, conta.

A jornalista Claudia Lins, 64, disse que não tinha como não estar na marcha neste dia. “É uma luta constante, mas acho que a gente tem avançado muito. Acho que a gente tem conquistado nossos espaços. Eles que nos respeitem”, afirma.

Presente na Marcha que tomou Brasília em 2015, a jornalista e socióloga Rosângela de Paula, 65, conta que a luta auxiliou no avanço da igualdade de gênero e no combate ao racismo. “Teve um período em que quiseram apagar nossas reivindicações, mas não conseguiram”, diz. 

Uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU), Regina Lúcia Santos discursou durante o ato. Regina disse que ser uma mulher negra é o que faz com tenha força para lutar contra o racismo, machismo, LGBTfobia. “Queria dizer para vocês que cada um de vocês aqui tem a obrigação de levar essa nossa luta para todos os cantos dessa cidade”, afirmou.

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) também discursou. “Enquanto o ódio e a violência apontam contra nós, nós seguimos organizando as bases estruturais desse país para enfrentar o genocídio, a fome, a violência e a precariedade do Estado”, disse.

Ato pelo Centro

O ato passou por ruas importantes do Centro de São Paulo. A primeira etapa ocorreu na Praça da República, onde um palco foi montado. Grupos como o Bando Macuas Cia. Cênica (formado por mulheres que trabalham a dança e o teatro com a perspectiva africana) performaram sob aplausos da plateia atenta.

Bloco Afro Ilú Oba de Min fez performance na 9ª Marcha das Mulheres Negras | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

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Lideradas pelo bloco Afro Ilú Oba de Min, as participantes do ato caminharam da Praça da República até a Biblioteca Mário de Andrade. Lá foi estendida uma faixa sob o prédio com fotos de diversas organizadoras da marcha que já faleceram.

9ª Marcha das Mulheres Negras foi encerrada em frente ao Theatro Municipal de São Paulo | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

O encerramento foi feito em frente ao Theatro Municipal de São Paulo por volta das 21h50. A escadaria do prédio foi ocupada pelos manifestantes e a rua em frente pela bateria que acompanhou o ato. 

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