9ª Marcha das Mulheres Negras levou multidão ao Centro de São Paulo nesta quinta-feira (25/7) com o mote “Nenhum passo atrás! Por nós, por todas nós, pelo bem viver. Reparação, já!”
A 9ª Marcha das Mulheres Negras levou uma multidão ao Centro de São Paulo nesta quinta-feira (25), data em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia de Tereza de Benguela. Clamando por justiça racial e pelo fim do genocídio preto, o ato reuniu diversos movimentos sociais.
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Com o mote “Nenhum passo atrás! Por nós, por todas nós, pelo bem viver. Reparação, já!”, a Marcha das Mulheres Negras denuncia o genocídio da população negra, lembrando os assassinatos de Mãe Bernadete, Luana Barbosa, Cláudia da Silva Ferreira e Marielle Franco.
Luciana Araújo, uma das organizadoras da Marcha, conta que a militância racial foi crucial para sua participação. “O que me trouxe foi a importância de nos organizarmos como mulheres porque racismo e machismo operam juntos”, diz. “Estarmos juntas é muito fortalecedor para encarar essa realidade”, completa.
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Além da justiça racial, a 9ª Marcha tratou de justiça reprodutiva. A tramitação do projeto de lei 1904/2024, o PL do Estupro, que equipara a pena do aborto até 22 semanas ao crime de homicídio, foi alvo de críticas durante o ato.
Luciana lembrou que as mulheres pretas são alvo prioritário de violência sexual. Segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública 2024, adolescentes negras de até 13 anos são as maiores vítimas de estupro. “É sempre o nosso povo que mais sofre, que mais é impacto e que mais morre”, fala Luciana.
Vidas dignas
A luta por vidas dignas para mulheres negras também motivou a participação da família da educadora antirracista Shiva Carolina da Silva Batista, 40, na marcha. Ela fez questão de levar o filho de 11 anos para o ato. “A gente acha importante que ele [o filho Zulu] também cresça com essa consciência”, diz.
Atento aos discursos e às apresentações musicais, Zulu de Lima Batista carregava com ele um cartaz com os dizeres: “No Brasil, a maioria das vítimas de violência sexual são crianças”. “É importante estar aqui porque no Brasil a gente sofre muito racismo, mas quem sofre mais são as mulheres. A gente tem que ajudar muito mais as mulheres”, conta.
A jornalista Claudia Lins, 64, disse que não tinha como não estar na marcha neste dia. “É uma luta constante, mas acho que a gente tem avançado muito. Acho que a gente tem conquistado nossos espaços. Eles que nos respeitem”, afirma.
Presente na Marcha que tomou Brasília em 2015, a jornalista e socióloga Rosângela de Paula, 65, conta que a luta auxiliou no avanço da igualdade de gênero e no combate ao racismo. “Teve um período em que quiseram apagar nossas reivindicações, mas não conseguiram”, diz.
Uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU), Regina Lúcia Santos discursou durante o ato. Regina disse que ser uma mulher negra é o que faz com tenha força para lutar contra o racismo, machismo, LGBTfobia. “Queria dizer para vocês que cada um de vocês aqui tem a obrigação de levar essa nossa luta para todos os cantos dessa cidade”, afirmou.
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) também discursou. “Enquanto o ódio e a violência apontam contra nós, nós seguimos organizando as bases estruturais desse país para enfrentar o genocídio, a fome, a violência e a precariedade do Estado”, disse.
Ato pelo Centro
O ato passou por ruas importantes do Centro de São Paulo. A primeira etapa ocorreu na Praça da República, onde um palco foi montado. Grupos como o Bando Macuas Cia. Cênica (formado por mulheres que trabalham a dança e o teatro com a perspectiva africana) performaram sob aplausos da plateia atenta.
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Lideradas pelo bloco Afro Ilú Oba de Min, as participantes do ato caminharam da Praça da República até a Biblioteca Mário de Andrade. Lá foi estendida uma faixa sob o prédio com fotos de diversas organizadoras da marcha que já faleceram.
O encerramento foi feito em frente ao Theatro Municipal de São Paulo por volta das 21h50. A escadaria do prédio foi ocupada pelos manifestantes e a rua em frente pela bateria que acompanhou o ato.