Mulheres que integram o Movimento Mães de Maio contaram as histórias das mortes de seus filhos em ato realizado para relembrar os 24 anos do Massacre do Carandiru em SP
Mães de jovens mortos por policiais em São Paulo e no Rio de Janeiro fizeram um ato na capital paulista, na última quinta-feira (6), em memória às vítimas do Massacre do Carandiru, quando 111 pessoas foram mortas, em 2 de outubro de 1992. O evento ocorreu em nome de todas as famílias que perderam familiares durante a ação policial. O protesto, que relembrou os 24 anos do massacre, ocorreu em meio à decisão da Justiça paulistana que anulou os julgamentos dos PMs então condenados pelo que ocorreu na Casa de Detenção.
“Nós estamos hoje aqui para dizer que ‘Carandiru nunca mais’. O Estado não mata só os nossos filhos, ele mata nós também. Daqui a pouco nós não temos mais o Mães de Maio”, afirmou a fundadora do movimento Mães de Maio, Débora Maria da Silva. “Eles não têm ética o suficiente para criminalizar mães que estão lutando atrás da Justiça. Eu sou mãe de um rapaz que trabalhou o dia todo de atestado médico e que a polícia veio e arrancou da minha vida. Eu pergunto quem é o crime organizado deste Estado e deste País”, complementou.
Jucelia Maria dos Santos, também do movimento Mães de Maio, teve seu filho morto por policiais militares no ano passado. Segundo a mãe, ele foi assassinado “pelo simples motivo de estar passando no lugar errado, no momento errado”. “Ele saiu de casa para comprar um lanche. Chegou do trabalho, ficou tomando uma cervejinha em casa. Aí sentiu fome e saiu para comprar um lanche. Ele estava com uma camiseta de capuz e uma cerveja na mão”, disse.
Depois disso, os policiais chegaram atirando. Uma das balas acertou a perna do filho de Jucelia: “Meu filho caiu e ainda falou o nome do assassino. O assassino era segurança do mercado em que meu filho trabalhava. Aí ele falou assim: ‘quem mandou você estar aqui essa hora. Você vai morrer’”. A mãe diz que até hoje está lutando para que fique provado que os policiais plantaram um pacote de drogas e uma arma na mão de seu filho.
Já o filho de Fátima Silva foi executado na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, às 16h20, de joelhos, por “estar desempregado, ser negro e gostar de fumar um baseado”. Ela afirma que os policias que mataram seu filho já tinham avisado que iriam andar por ali “passando o rodo”. “Eles cumpriram o que prometeram. Antes de dar o segundo tiro na testa ele ainda perguntou por quê. Sendo que ele não estava fazendo nada de mau”, afirmou.
Outra mãe que deu seu depoimento foi Nádia dos Santos. O filho dela foi executado com um tiro na cabeça. Ela diz que “não está preparada para enfrentar o Estado”, mas que o movimento está dando apoio para ela conseguir colocar os assassinos de seu filho na cadeia: “Eles entram na nossa comunidade, se acham donos da nossa comunidade e dos nossos filhos”.
Em seu depoimento, Fátima Pinho contou que seu filho foi espancado e sufocado até a morte em um beco na Favela de Manguinhos, no Rio de Janeiro, e que, durante toda a sessão de tortura, os amigos tiveram que ficar olhando tudo. Segundo ela, isso aconteceu porque ele questionava a abordagem violenta da polícia e era autor de atos infracionais. “Isso não justificava. Meu filho era tudo pra mim”, argumenta.
Sete tiros foram dados para matar o filho de Lucia Helena, no Morro da Coroa, também na capital fluminense. Ele era entregador de pizza durante a noite para complementar sua renda. Depois de uma entrega, quando ele já estava voltando, foi abordado por policiais e assassinado: “Deram três tiros nas costas dele. Depois voltaram e deram mais quatro tiros, executando ele”.
Márcia tinha seu filho de coração. Aos 20 dias de nascido, eles se encontraram. Mas, ano passado, ele foi morto por quatro policiais depois de uma abordagem. “Eles perguntaram o nome dos avós. Mas ele não sabia dizer. Ele era meu filho do coração. Aí começaram a tortura, o espancamento e o choque. Das 15h30, eles entregaram meu filho no hospital às 18h04. Eles ficaram mais de duas horas com meu filho. E eu pergunto por que essa maldade. Por que essa polícia imunda, suja, acaba com a vida dos nossos filhos?”, questionou.
Mãe de um jovem de 19 anos assassinado no Dia das Mães, Ilza diz que o Estado não matou só seu filho, mas ela também: “A gente paga os impostos para eles estarem apertando o gatilho e nos matando”, finalizou.