Na zona leste da cidade, familiares e amigos pediam justiça por Wenny, 18 anos, morto dentro de casa por dois PMs. Do outro lado da cidade, o grito de justiça era por NegoVila Madalena, morto por um PM de folga na zona oeste
À beira do verão, uma atípica frente fria derrubou as temperaturas e trouxe chuva para a capital paulista neste sábado (5/12), mas isso não impediu que dois importantes protestos saíssem às ruas para pedir justiça para duas pessoas que morreram recentemente nas mãos da Polícia Militar do estado.
Em Sapopemba, na zona leste da cidade de São Paulo , uma manifestação em memória de Wenny Sabino, jovem de 18 anos executado no dia 25 de novembro por dois policiais na frente de dois adolescentes de 13 anos e duas crianças de 5 e 3 anos, pedia uma investigação isenta sobre o crime. O ato começou às 16h e foi dispersado às 19h.
Um grupo carregando balões brancos e camisetas com o rosto de Wenny estampado fechou a Avenida Sapopemba, a maior avenida da Grande São Paulo, com uma faixa preta “Contra o Genocídio”.
Com a presença de moradores da comunidade e apoio da Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, o protesto foi fortemente vigiado pela Polícia Militar, que deslocou um efetivo de ao menos 16 viaturas (oito posicionadas na entrada da comunidade e oito ao lado do ato) para uma manifestação com dezenas de pessoas.
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A polícia protagonizou momentos de tensão durante o protesto – de arma em punho, policiais foram três vezes avisar que os manifestantes não poderiam seguir fechando a avenida quando o semáforo, onde estavam protestando, estivesse verde para os carros.
Apesar da intimidação, os manifestantes estendiam a faixa e gritavam por justiça. No único microfone, ligado a uma caixa de som, pessoas falavam palavras de protesto. Nesse microfone, Gislaine Sabino dos Santos, 34 anos, mãe de Wenny, bradava durante ato: “Eu tenho o direito de gritar pelo meu filho: justiça”.
Segundo os moradores havia um PM infiltrado, vestido com roupas civis. Chegou antes, ficou observando tudo e mandando mensagens, ficando perto dos PMs. O ato foi encerrado com uma homenagem: ao som de pra “Pra Desestressar / Primeiramente bom dia“, faixa do MC João, que é a última música que o Wenny escutou antes de ser morto, depois fizeram uma salva de palmas.
Do outro lado da cidade, na zona oeste, um ato marcava o sétimo dia do assassinato de Wellington Copido Benfati, o NegoVila Madalena, morto pelo sargento PM Ernest Decco Granaro, 34 anos, que estava de folga, na Vila Madalena na madrugada de 28 de novembro.
As pessoas mais próximas ao NegoVila se reuniram no Beco do Batman por volta das 15h. Lá, camisetas com o rosto do artista foram distribuídas. De lá, o ato foi até a Igreja Santa Maria Madalena, onde houve uma missa de sétimo dia. Na porta da paróquia mais pessoas se juntaram ao ato. Em um cortejo grande, os manifestantes foram da igreja para o Beco do Batman, agora chamado de Beco do Nego pelos moradores da região.
Durante o ato as pessoas gritam por justiça. Os manifestantes levaram muitas bandeiras com o logo do Corinthians, o rosto do NegoVila e o logo da escola de samba Pérola Negra, além de sinalizadores. O tom da caminhada foi um dia a caminho de um jogo do Corinthians, time do coração do artista.
Chegando no Beco do Batman, velas foram acendidas em homenagem ao NegoVila. Entregaram uma placa de rua com o nome NegoVila para a irmã do artista, a enfermeira Tatiane Benfati, 43 anos.
Os manifestantes também fizeram uma homenagem com samba, estilo musical que NegoVila tinha ido ouvir no dia do assassinato. De lá, o grupo caminhou para o local do crime e projetou a imagem de NegoVila em um dos prédios.