Ouvidoria pede apuração de vídeo em que PM atira em jovem pelas costas

    Para Adilson Paes de Souza, tenente-coronel da reserva da PM e doutor em psicologia, três situações chamam atenção no vídeo: o fato de o policial estar sozinho, usar o golpe de enforcamento proibido em SP e atirar quando o jovem está de costas

    PM usou mata-leão (enforcamento) proibido desde julho de 2020 e atirou quando jovem estava de costas | Foto: Reprodução

    Em um vídeo de onze segundos que circulou pelas redes sociais nesta quarta-feira (25/3), um policial militar, fardado e sozinho na ação, usa um golpe de enforcamento contra um jovem. Outro jovem aparece na cena e dá um soco no rosto do policial, que solta o primeiro jovem. Quando ambos correm, o PM atira contra ele, que estão de costas.

    Desde julho de 2020, os policiais militares do Estado de São Paulo estão proibidos de usar o mata-leão, golpe de enforcamento, usado pelo PM do vídeo. A determinação interna, revelada pelo UOL em 31 de julho, foi assinada pelo subcomandante da corporação, coronel Marcus Vinícius Valério, que também veta uso do corpo para derrubar outra pessoa.

    A Ponte enviou o vídeo para a Ouvidoria das Polícias, que informou que abriu um procedimento para determinar as circunstâncias dos fatos. O ouvidor Elizeu Soares Lopes apontou que o vídeo não apresenta o contexto da abordagem policial. Apesar disso, avaliou que é importante uma investigação aprofundada para definir se a abordagem foi adequada ou não.

    “Em uma primeira e superficial análise chama atenção a possibilidade de uso de força extrema e o tiro disparado pelo policial, mas o vídeo não mostra se o policial poderia estar sendo atacado ou ameaçado. A Ouvidoria vai solicitar informações à Polícia Militar e acompanhar as investigações para que o caso seja devidamente esclarecido”, diz Lopes.

    Leia também: Filme as ações da polícia e mande para a Ponte

    A pedido da Ponte, Adilson Paes de Souza, tenente-coronel da reserva da PM paulista, doutor em psicologia, mestre em direitos humanos e autor do livro O Guardião da Cidade – Reflexões sobre Casos de Violência Praticados por Policiais Militares, analisou o vídeo.

    O especialista aponta três fatos que chamaram a sua atenção enquanto assistia. “Me chama atenção que o policial está sozinho no local. Geralmente esse tipo de ação, para segurança do próprio policial, é feita com mais de um. Em segundo, é o uso do mata-leão, que é proibido pela Polícia Militar, mas eles continuam empregando esse meio”.

    O terceiro ponto destacado por Adilson é o momento em que o policial dispara contra os jovens. “Ele não usou a arma de fogo para se defender. Um pouco antes ele até poderia usar a arma de fogo para se defender, para falar em legítima defesa. Mas ele disparou pelas costas quando as pessoas estavam fugindo e, para isso, não há amparo legal”, completa.

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    Para Adilson, a primeira atitude a ser tomada é identificar o policial. “É preciso apurar, nesse caso, se há algum registro dessa ocorrência e o que ele registrou, e solicitar a prisão preventiva [do policial]. Existe a possibilidade de ele não ter feito o registro do fato.

    O que diz a polícia

    Procuradas pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública e Polícia Militar não quiseram se manifestar até obterem informações de data e local dos fatos.

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