Vendedor negro foi colocado ao lado de três suspeitos brancos para vítima fazer reconhecimento
O vendedor ambulante Wilson Alberto Rosa, de 32 anos, ficou 33 dias preso injustamente no CDP (Centro de Detenção Provisória) Guarulhos II. Ele foi detido em 13 de janeiro, pelo investigador da Polícia Civil Carlos Antônio Correia Filho, acusado de ter roubado um celular e um tablet da mulher do policial em agosto de 2016.
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Em entrevista à Ponte Jornalismo, o ambulante disse que o pior dia não foi o que estava atrás da grade do CDP, e sim o dia da prisão. “Fui humilhado na frente das pessoas que compram minhas balas. Eles me viram ajoelhados, como se fosse ladrão mesmo”.
Apesar da humilhação, Wilson lembra que muitas pessoas pressionaram o policial em seu favor, o que pode ter impedido outra violação ao procedimento legal para prisão. “Ele [investigador Carlos] queria me colocar no carro particular dele. Eu falei que não ia, então ele disse que ia ligar para os amigos dele”.
Wilson lembra ainda que foi levado primeiro para o 27º DP (Distrito Policial), no Campo Belo, depois para o 36º DP, na Vila Mariana, para finalmente ser levado para o 100º DP, no Jardim Herculano, onde o marido da vítima do assalto trabalha. No local, ele afirma que foi colocado para ser reconhecido pela vítima junto com outros três homens brancos.
Enquanto ia de uma delegacia para outra, o ambulante recorda que o investigador Carlos o acusou de ter roubado, além dos aparelhos de sua esposa, uma mansão e participado de um assalto em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.
Os crimes ainda teriam sido lembrados pelo investigador quando acabou o período de prisão temporária de Wilson, no dia 18 de janeiro.
“Depois dos cinco dias de temporária, ele [policial Carlos] perguntou se eu ia assumir o roubo. O policial falou ainda que eu também tinha sido reconhecido em um assalto em mansão do Morumbi”, lembra o ambulante.
O ambulante conta também que foi xingado e, com dedo apontado em sua cara, policiais o chamavam de ladrão e mandava ele confessar que cometeu o crime. “Falavam que eu ia ficar muitos anos presos. Eu ficava quieto, com medo de apanhar igual os outros meninos que estavam lá”.
Com medo, Wilson afirma não querer mais voltar para o mesmo lugar onde trabalhava. Ele diz que vai pensar em um novo ambiente para vender suas balas.
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