Cabo Carlos Antônio Ribeiro de Souza atingiu a cabeça de Caio Vaz Amâncio, em 2018, na zona sul de SP; família da vítima quer justiça: “é uma vida que se perdeu”
O Comando da Polícia Militar de São Paulo demitiu da corporação o cabo Carlos Antônio Ribeiro de Souza, 35 anos, por causa da morte do motorista Caio Rodrigo Medina Vaz Amâncio, 24, em novembro de 2018, no Jardim São Luís, zona sul da capital paulista. Na ocasião, o policial alegou que o tiro que atingiu a cabeça do rapaz foi um “disparo acidental”, que ocorreu quando tentou emparelhar a viatura com o carro que a vítima dirigia.
A determinação foi publicada na edição do Diário Oficial do Estado (leia aqui) do último sábado (30/5) e se deu após o cabo responder a um processo administrativo da PM. Nela, o Comando considera que Carlos Antônio cometeu “atos atentatórios à Instituição e ao Estado e incompatíveis com a função policial militar” ao “disparar arma por imprudência, negligência, imperícia ou desnecessariamente” e “deixar de cumprir ou fazer cumprir as normas legais ou regulamentares, na esfera de suas atribuições”. O policial integrava o 1º Batalhão da PM Metropolitano.
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Já na Polícia Civil, o caso ainda está em fase de investigação. Para a viúva de Caio, Raíssa da Silva Claudio, 23 anos, que ficou sabendo da demissão do cabo pela reportagem, a determinação ainda não garante justiça. “O policial precisa responder para mostrar que não pode acontecer com outras pessoas. É uma vida que se perdeu”, lamenta.
O sentimento também o mesmo do amigo de infância de Caio, o contador Danyllo Teodosio, 25. “Os danos que deixaram nas pessoas que conheciam ele, que viveram com ele, são muito grandes”, desabafa.
De acordo com os familiares, Caio trabalhava como motorista do aplicativo Uber e tinha saído com um amigo para buscar seu carro numa funilaria. Ele dirigia um Honda Fit pela avenida Fim de Semana, quando foi atingido pelo policial.
De acordo com o boletim de ocorrência, o policial declarou que fazia patrulhamento pelo local e ao emparelhar a viatura com o outro veículo, “o encarregado da guarnição com arma em punho acabou efetuando disparo acidental, que culminou com o tiro na cabeça do motorista do outro veículo”.
O cabo Carlos Antônio foi detido em flagrante, mas pagou fiança de R$ 1 mil na época. O delegado Berneal Firmino de Brito, do 92º DP (Parque Santo Antônio), havia indiciado o policial por homicídio culposo (quando não há intenção de matar).
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Danyllo conta que conhecia Caio há pelo menos 14 anos, moravam na mesma região no Capão Redondo, periferia da zona sul da cidade de São Paulo. “Sempre foi um irmão para mim, era trabalhador”. O contador lembra que eles sempre brincavam de tentar realizar algum empreendimento juntos. “A gente queria abrir algum estabelecimento no ramo alimentício, pizzaria, restaurante, mas a gente não conseguiu tirar a ideia do papel”, lamenta.
Com a perda do marido, com quem estava há três anos, Raíssa afirma que desenvolveu ansiedade. “O caso me abalou muito psicologicamente, faço psicoterapia e tomo remédios anti-depressivos”, conta. “Tive que mudar de casa, de emprego, porque eu não conseguia seguir em frente. A vida dele não volta, mas a gente vai continuar correndo atrás para que a justiça seja feita”, afirma.
Outro lado
Procurada pela Ponte, a advogada Flavia Artilheiro, que representa o cabo Carlos Antônio, declarou que não vai se manifestar, porque ainda não recebeu a decisão da PM.
Em nota, a assessoria da Polícia Militar confirmou a demissão do cabo em decorrência da morte do motorista.
A reportagem também procurou as assessorias de imprensa da Secretaria de Segurança Pública e do Ministério Público, mas não obteve resposta até a publicação.