PMs espancam jovens e roubam câmera de fotógrafo após ato em SP

    ‘Para, para, me prende!’, pedia uma manifestante enquanto policiais batiam nela e em adolescente rendido; equipamento de fotógrafo da Pavio foi danificado e roubado pela PM

    Policiais militares espancaram dois jovens e roubaram o equipamento de um repórter fotográfico ao final da segunda manifestação do Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento da tarifa do transporte de São Paulo, nesta quarta-feira (18/1), próximo à estação Pinheiros do metrô, na zona oeste da capital. As agressões ocorreram após os manifestantes quebrarem duas agências bancárias e depredarem a estação.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo
    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    A manifestação, que reuniu cerca de 500 pessoas, havia ocorrido pacificamente e terminado sem incidentes, por volta das 18h30, no Largo da Batata, em Pinheiros. Encerrado o ato, um grupo formado por cerca de trinta jovens, usando máscaras, separou-se dos demais e anunciou que pretendia pular as catracas do metrô, gritando “catracaço!”. O grupo desceu as ruas Teodoro Sampaio e Pais Leme em direção à estação Pinheiros. No caminho, quebraram as vidraças de pelo menos duas agências bancárias e espalharam lixo nas ruas para impedir a circulação de ônibus.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Policiais da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) observaram os ataques, mas preferiram não intervir.

    Na estação Pinheiros, o grupo de mascarados tentou pular as catracas, mas foi impedido pelos seguranças do Metrô. Houve confronto. Os manifestantes jogaram pedras nos seguranças, que reagiram jogando de volta as mesmas pedras sobre os mascarados.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo
    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Depois disso, o grupo desistiu de pular as catracas e saiu andando em direção à Marginal Pinheiros, onde se dispersou. Neste momento, viaturas da Caep (Companhia de Ações Especiais da Polícia) chegaram ao local e passaram a agredir os manifestantes que haviam ficado para trás.

    Na rua Sumidouro, próximo à Praça Victor Civita, os policiais militares do Caep deram golpes de cassetete em uma jovem, caída em um arbusto, e em um outro manifestante, já rendido, sem se preocupar com a presença de jornalistas que registravam a cena. Os PMs estavam encapuzados e levavam identificações sem nome, apenas com letras e números intercalados.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    “Para, para, me prende! Desculpa!”, gritava a garota enquanto os golpes continuavam. Após a agressão, um dos PMs gritou que ela estava liberada e era para sair dali correndo. Ao mesmo tempo, dois policiais agiam com violência para render outro jovem. Ele também foi golpeado e tinha sangue no rosto ao ser detido. A mão de um dos policiais que o agrediu também estava manchada de sangue.

    Os jornalistas que registravam as agressões receberam ameaças dos oficiais. “Afasta, afasta, porra! Sai fora!”, gritavam, intensificando as ameaças após um dos profissionais dizer “relaxa, estamos trabalhando”. “É só andar, então. Já falei dez vezes e você está aqui ainda? É uma ordem legal!”, esbravejou. Um dos fotógrafos teve o celular arremessado por um policial e chutado por outro. Ali, a Ponte registrou a detenção de três pessoas.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    A 500 metros dali, na rua Eugênio de Medeiros, um policial da Rocam danificou e roubou uma câmera do repórter fotográfico Caio Castor, da Agência Pavio. “Enquanto eu registrava um atropelamento feito por um policial, fui jogado ao chão e a câmera foi arrancada de mim. Sem perguntar nada, ele começou a quebrar a minha câmera e sumiu com ela”, afirma Castor.

    O fotógrafo contou que pretende fazer um boletim de ocorrência denunciando o roubo e diz que uma das motos levava a inscrição M47019-11. “A Pavio lamenta que mais uma vez a PM resolva ‘apagar’ os erros que comete”, criticou a agência.

    Ações como esta aconteceram também no primeiro ato, no dia 11 de janeiro. Policiais usaram bombas, gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar manifestantes na estação Brás da CPTM, no centro. Pessoas que passavam pelo local acabaram feridas.

    Um novo ato está marcado pelo MPL para as 17h de terça-feira ( 23/1), na esquina das avenidas São João e Ipiranga, na República, região central.

    Briga entre estudantes

    O ato estava marcado inicialmente para começar na Rua Itália, onde fica localizada a casa do prefeito da capital, João Doria (PSDB). Contudo, a PM montou um cordão de isolamento no local, onde revistou os manifestantes, anotou números de seus documentos e os fotografou.

    “Pegar documento e revistar era aleatório, mas uma revista mais completa era seletiva. Não estávamos com camisa do movimento e esculacharam, provocaram. Por exemplo, nós estávamos em quatro pessoas, dois brancos e dois negros. Adivinhe quem foi revistado? Eu e um outro amigo que somos negros. Fizeram vídeo no celular particular deles, claramente nos intimidando”, relatou Andreza Delgado, membro do MPL.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    A ação provocou a mudança na concentração, que então aconteceu na esquina das avenidas Faria Lima e Cidade Jardim. Outro grupo se reuniu no Largo da Batata e foi até o primeiro ponto. O cruzamento permaneceu fechado por uma hora até a marcha rumo ao Largo da Batata se iniciar.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Antes do início, membros da UJS (União da Juventude Socialista) e da Upes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) trocaram socos com estudantes sem ligação com grupos. Solucionado o conflito, a caminhada teve início.

    Em 8 de janeiro, o valor das passagens de ônibus e metro subiu de R$ 3,80 para R$ 4 em São Paulo. A decisão contraria promessa feita durante a campanha do atual prefeito, João Doria.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Outro lado

    Procurada pela Ponte, a CDN Comunicação, responsável pela assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB), apontou que uma investigação foi aberta para apurar o caso específico do fotógrafo. Sobre as agressões, justificou que elas aconteceram após quebra de patrimônio.

    “Após o encerramento do ato foram iniciados diversos atos de vandalismo, com depredação de agências bancárias, pontos de ônibus, veículos, estação Pinheiros do Metrô e no Terminal de ônibus de Pinheiros, além de pichação na parede da Estação Faria Lima”, justificou a SSP, informando que três menores foram apreendidos e liberados após registrado BO por ato infracional (dano) no 14º DP.

    Questionada sobre policiais usando toucas, diferentemente do que aconteceu no primeiro ato, a PM declarou ser uma proteção contra possível uso de coquetel molotov por parte dos manifestantes por serem de material antichamas. Em relação à identificação com letras e números, aponta se basear em uma lei Estadual e, assim, “não causando obstáculo à identificação, já que os números são individuais e devidamente controlados”.

    “A Polícia Militar atua para garantir o livre exercício da democracia e na defesa dos direitos das pessoas. Reclamações sobre possíveis excessos, como a realizada pelo fotógrafo Caio Castor, poderão ser dirigidas à Corregedoria da Polícia Militar, localizada na Rua Alfredo Maia, 58 – Luz, São Paulo”, prossegue nota da corporação.

    A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos repudiu o uso da violência e garantiu investigar o ocorrido e que os “colaboradores na ocorrência citada poderão ser punidos com medidas corretivas ou disciplinares”, diz.

    A ViaQuatro, empresa terceirizada responsável pela administração da Linha 4 Amarela do Metrô, citou os atos de vandalismo, mas não se posicionou sobre uso de violência por seus funcionários. “Os Agentes de Atendimento e Segurança da Linha 4-Amarela são orientados a atuar no atendimento e segurança dos passageiros, garantindo o embarque e desembarque nas estações e trens, a organização de fluxo e preservação do patrimônio físico das estações”, limitou-se, em nota.

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