Pamela Cruz Ville foi morta em novembro de 2019; defesa de Gabriel Pacheco Ferreira afirma que ele é inocente e se apresentou por conta própria
Depois de 167 dias de espera, a família de Pamela Cruz Ville, 27 anos, morta depois de uma briga na madrugada do dia 21 de novembro de 2019, no Morro Doce, periferia da zona noroeste da cidade de São Paulo, pode comemorar o que eles chamam de “justiça sendo feita”.
No início da tarde desta quarta-feira (6/5), Gabriel Pacheco Ferreira, 20 anos, se apresentou no 46º DP (Perus). Ele estava acompanhado da família e do advogado. O jovem foi encaminhado para 2º DP (Bom Retiro) onde ficará preso temporariamente por 30 dias — prazo que pode ser prorrogado por mais 30 dias.
A família de Pamela conta que voltou à delegacia na última terça (5/5), acompanhada pela equipe da TV Record, que, segundo Rosana de Almeida Cruz Ville, 29 anos, irmã da vítima, chegou até a família depois da reportagem da Ponte.
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“Estou aliviada. Agora posso ficar em paz porque está havendo justiça pela morte da minha filha. Eu sempre quis que isso acontecesse, olhar no olho dele. A primeira parte já foi feita, agora é confiar que tudo seguirá”, comemorou Rosa de Almeida Cruz, mãe de Pamela.
À Ponte, Rosana contou como foram os últimos dias. “A gente publicou a notícia no Facebook e recebemos ameaças da família dele, mas continuamos. Publicamos sem parar. Ontem fizemos boletim de ocorrência das ameaças e os investigadores que estavam aqui falaram que não sabiam do caso da minha irmã”.
“Resolveram sair atrás dele e pediram para irmos juntos, nos lugares que a gente sabe que ele fica. Fomos com a polícia em carros normais, que não dava para ver a gente. Mas não encontramos ele”, completou.
Na manhã desta quarta-feira, conta Rosana, a família voltou ao DP a pedido da Polícia Civil, que agora tinha em mãos o mandado de prisão para procurar Gabriel em sua casa. “Na casa, a irmã dele avisou que ele iria se apresentar na delegacia, porque os policiais falaram que ele só seria ouvido. Ficamos esperando, falaram que isso aconteceria até as 14h”.
Rosana e a mãe estavam na entrada da delegacia, quando os policiais pediram para elas entraram “A família dele tinha chegado, mas sem o Gabriel. Eles vieram com o advogado. A partir desse momento, ficamos aqui dentro da delegacia e os investigadores vinham nos informar sobre o que estava acontecendo”, detalhou.
Minutos depois, a família foi buscar Gabriel. As duas foram orientadas a permanecer no local para fazer o reconhecimento depois que o suspeito passasse pelo exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal).
‘Meu filho não é capaz de matar nem uma barata’
Procurada, a mãe de Gabriel, Claudia Pacheco Falcão, informou que o filho é inocente. “Ele não seria capaz de matar nem uma uma barata. No dia da confusão, a valentona da Rosana bateu muito no meu filho, arranhou todo o rosto dele. Nós fomos atacados por cinco pessoas e estávamos em três”, relatou à Ponte por mensagens de Whatsapp.
“Essas três irmãs [Rosana, Pamela e Priscila] já eram acostumadas a fazer isso no Morro Doce. A Rosana foi quem deu início a toda confusão, tentou matar minha filha, juntaram as três para linchar minha filha por motivo fútil”, completou.
“Lamentamos muito o falecimento de Pamela, mas o Gabriel não é o autor dos fatos. Acreditamos na Justiça e a verdade será esclarecida durante a persecução criminal. Uma brincadeira de mau gosto acabou com duas famílias”, disse Robson Melo, advogado de Gabriel.
Relembre o crime
Pamela foi assassinada na frente da casa onde a família morava no Jardim Rosinha, no Morro Doce, depois de uma brincadeira mal recebida que uma das irmãs dela, Rosana, fez em um ponto de ônibus perto do local da festa. A família de Pamela afirma que Gabriel esfaqueou a moça no pescoço.
Rosana estava com o filho de 11 anos e decidiram pregar peças nas pessoas que desciam dos ônibus. Com uma máscara do palhaço protagonista do filme “IT: A coisa”, inspirado em um romance do escritor norte-americano Stephen King, Rosana e o filho assustavam as pessoas. Sem querer, acertaram uma das passageiras.
A adolescente, que tem 17 anos, não gostou da brincadeira e partiu para cima de Rosana. A outra irmã de Rosana, Priscila de Almeida Cruz, 25, veio intervir na briga, mas acabou envolvida na confusão. Foi quando Pamela viu o que estava acontecendo e tentou separar.
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A confusão parou e a família Cruz voltou para a festa. Um pouco depois, a adolescente voltou com a mãe, Claudia Pacheco Falcão, e o irmão Gabriel para tirar satisfação. Mesmo sem ter responsabilidade pela brincadeira, Pamela assumiu a culpa e acabou golpeada, segundo a família.
Ela chegou com vida no Pronto Socorro de Pirituba, mas, três horas depois, faleceu. A Polícia Militar foi acionada por volta das 4h30 da manhã daquele dia, informada que “uma vítima do sexo feminino deu entrada no PS por ferimento a faca”. Durante meses, a família de Pamela cruzou diversas vezes com Gabriel, que nunca havia sido detido pela Polícia Civil.
O que diz a polícia
Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública informou que “policiais civis do 46º DP prenderam o suspeito nesta quarta-feira, no Morro Doce, zona oeste da Capital, em cumprimento a mandado de prisão temporária expedido pela Justiça”.
“O autor foi apresentado na delegacia, onde está sendo ouvido e ficará à disposição do judiciário”, concluiu a pasta em nota.