Secretaria de Educação de Tietê (SP) afirmou que abriu sindicância contra servidor acusado de perseguir e ter atitudes racistas contra criança de 10 anos
Um professor da rede municipal de ensino de Tietê, cidade do interior paulista, está afastado das salas de aula por pelo menos 30 dias. Acusado de perseguição e racismo contra uma criança de 10 anos, o servidor terá que cumprir a suspensão enquanto durar a sindicância instaurada pela secretaria de educação da cidade.
A investigação administrativa do caso por parte da administração municipal se deu após denúncia feita pela Ponte no dia 28 de outubro. A mãe do aluno, uma comerciária de 35 anos, que prefere não se identificar, havia percebido que o filho estava com o comportamento diferente.
Único aluno negro da sua turma, o garoto, segundo mãe, passou a ser perseguido pelo professor que o isolava das demais crianças, além de atacar verbalmente o estudante, chamando-o de “Zé Ruela” e “fracassado”. O educador também é acusado de fazer ameaças ao menino em relação a atividades extra-escolares.
“Meu filho participa de um projeto social e o professor disse que conhecia pessoas do projeto e ia fazer com que meu filho não pudesse ir mais lá. Ele também não deixou o menino fazer uma atividade com o resto da turma e obrigou ele a copiar a letra do hino nacional. E outra vez ele ordenou que nenhuma outra criança da classe falasse com meu filho ou seria punida”, contou a mãe da criança.
“Foi aberta uma sindicância para apurar os fatos ocorridos na escola. O prazo é de 30 dias para que o processo seja concluído, podendo ser prorrogado por mais 30 dias se necessário. Durante todo o período da sindicância, o professor estará afastado das suas funções”, informou Ana Cristina Salvati Alencar, supervisora de ensino da Secretaria de Educação de Tietê.
Ativistas da cidade também tiveram papel relevante para que o professor fosse afastado das atividades. Por meio de nota, o Coletivo Anhuma ressaltou a série de ações que fizeram para mobilizar os moradores do município para pressionar a administração pública em relação aos casos de racismos da cidade.
Confira abaixo um trecho da nota:
“O Coletivo Anhuma, o Movimento Negro e familiares de vítimas de racismo de Tietê se reuniram ao longo do mês de outubro para construir juntos uma série de ações para cobrar um posicionamento efetivo da Prefeitura e da Secretaria de Educação e para conscientizar a população acerca da questão racial. As datas das reuniões eram divulgadas pelas redes sociais, para que a comunidade tivesse oportunidade de contribuir com o movimento.
A primeira ação foi a convocação de uma Marcha Contra o Racismo nas Escolas, divulgada pelo Coletivo nas redes sociais no dia 23 de outubro. No dia 26 de outubro uma denúncia foi feita através das redes sociais do Coletivo expondo o caso e convocando mais uma vez a população para a marcha. O post sobre o caso teve grande repercussão, sendo noticiado em vários veículos da imprensa após divulgarmos o caso. Foram feitas também panfletagens com informações antirracistas em toda a cidade, além de ações, eventos e atividades sobre a Consciência Negra promovidas pelo Coletivo.
A pressão da denúncia gerou o afastamento do professor, anunciada nas redes sociais da Prefeitura no dia 3 de novembro, um dia antes de acontecer a Marcha Contra o Racismo, o que foi entendido pelo movimento como uma maneira de abafar o caso, já que o caso tinha ocorrido há mais de um mês e não se tinha um retorno efetivo quanto ao mesmo“.
(*) Atualizada em 25/11, às 19h, para acrescentar o posicionamento do Coletivo Anhauma
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