Raull Santiago, defensor dos direitos humanos, é preso ao vivo por filmar PMs no Rio

    Ativista do coletivo Papo Reto registrava nas redes sociais um enquadro feito pela Tropa de Choque a dois homens negros

    Raull (à esq.) filmava abordagem quando PM (à dir.) tomou seu celular | Foto: Reprodução

    A Polícia Militar do Rio de Janeiro deteve o ativista Raull Santiago, integrante do coletivo Papo Reto, por filmar uma abordagem policial na noite desta quarta-feira (19/2), na Avenida Brasil, na zona norte da capital fluminense. A tropa é comandada pelo governador Wilson Witzel (PSC) desde 2019.

    O ativista registrava uma revista feita a dois homens, um deles também integrante do coletivo, enquanto o outro era o mototaxista que trabalhava os levando do Complexo da Maré para o Complexo do Alemão, comunidades na zona norte carioca. O caso aconteceu entre 19h30 e 20h.

    Raull explicou à Ponte em conversa por WhatsApp que começou a filmar a ação quando um dos PMs, que eram da Tropa de Choque, revistava a bolsa da dupla. “Eles pegaram as coisas e começaram a revirar, violando o direito dos dois mostrarem”, contou.

    Nesse instante, Raull pegou seu celular e começou um vídeo ao vivo para denunciar o caso. Foi quando outro policial viu e foi para cima dele, chegando a empurrá-lo enquanto começava uma abordagem.

    Raull Santiago atua em comunidades do RJ, como o Complexo do Alemão, onde vive | Foto: Reprodução/Facebook

    “Um dos PMs me viu e veio nervoso, pedindo meu documento, isso e aquilo, e eu narrando que a abordagem duvara mais de 15 minutos e ele se alterou, dizendo que eu não conhecia de lei”, relembrou.

    Fonte: Tutorial da Witness Brasil

    Raull explicou que o PM também começou a abrir suas coisas e mexer. “Tiro até a roupa, mas não pode mexer nas minhas coisas. Nesse meio tempo, ele toma meu celular e o ao vivo acaba e ele me coloca ao lado dos meninos”, prossegue.

    Fonte: Tutorial da Witness Brasil

    O PM, então, ameaçou a levá-lo para a delegacia por “desacato e resistência”, mas os dois estariam liberados. Ambos, conforme narrou Raull, disseram que não sairiam. “Aí o PM disse que o Ricardo ia por desobediência e o motorista por direção perigosa”, afirmou o ativista.

    Fonte: Tutorial da Witness Brasil

    Os três seguem no 21º DP (Bonsucesso) e ainda seriam ouvidos pelo delegado, restando apenas a chegada de advogados para prestarem seus depoimentos.

    Fonte: Tutorial da Witness Brasil

    O ativista tinha um jantar marcado às 19h30 na casa de sua mãe, no Alemão, para comemorar seu aniversário de 31 anos, completados nesta terça-feira (18/2). No Twitter, Raull brinca que foi registrado na quarta (19/2), o que torna possível comemorar “a semana inteira”.

    Fonte: Tutorial da Witness Brasil

    A Ponte questionou a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro sobre a abordagem aos ativistas. Em nota enviada às 11h42 de quinta-feira (20/2), a assessoria de imprensa da PM explicou que o Choque atuava na Avenida Brasil para “reduzir os indicadores de criminalidade” quando viram as motos saindo da Maré.

    “Durante a ação, segundo os policiais, os abordados se mostraram incomodados e não colaboraram. Em determinado momento, diante da reação dos envolvidos e visando resguardar as suas próprias condutas, todos foram encaminhados para 21º DP a fim de registrar a ação”, explicou a corporação.

    Na nota, a tropa ainda afirma que a abordagem é uma ação preventiva e, além de reduzir a criminalidade, prevê transmitir “maior sensação de segurança”. “Reconhecemos o desconforto causado, mas destacamos que a colaboração da população a este tipo de serviço, agiliza a ação e a torna mais segura e efetiva”, afirmou.

    Atualização às 14h08 de quinta-feira (20/2) para incluir posicionamento da PM do Rio de Janeiro.

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