Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio lança campanha de conscientização nas periferias contra a Covid-19

    A ação deverá ocorrer em diversas comunidades da grande São Paulo e visa proteger a população e minimizar os impactos causados pela crise sanitária 

    Os articuladores da Rede em parceria com os moradores das comunidades de SP vão mobilizar as quebradas contra a Covid-19 | Foto: Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio

    A partir da escuta e do diálogo feito com moradores de comunidades vulneráveis da grande São Paulo, a Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio está lançando uma campanha de arrecadação e mobilização contra a Covid-19 nas periferias. A estratégia consiste em colagem de lambes, passagem de carros de som, vídeos, ou de falas em megafones com mensagens informativas sobre medidas para evitar o contágio na pandemia do novo coronavírus.

    Inicialmente a campanha deve acontecer em comunidades da zona oeste, norte, sul, leste, sudeste e centro da cidade de São Paulo, além das comunidades São Rafael e Pimentas, de Guarulhos, Miguel Costa, de Osasco e das cidades de Santo André, Mauá, São Bernardo do Campo, Diadema, Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires. 

    Atuando em São Paulo desde 2017, a Rede desenvolve ações de enfrentamento e proteção às pessoas que sofrem violações de direitos pelo Estado brasileiro. Com a pandemia da Covid-19, os protestos contra a violência de Estado continuaram, o que também gerou preocupação nos articuladores, como afirma a psicóloga e articuladora da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, Marisa Feffermann. “Começamos a nos dar conta que poucas pessoas usavam máscaras, com isso, percebemos que a não informação ou as informações contraditórias também são formas de genocídio.” 

    A campanha propõe medidas para evitar o contágio do vírus da Covid-19 | Foto: Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio

    Na contramão dos discursos negacionistas proferidos por Jair Bolsonaro (sem partido) e seus seguidores, Marisa ressalta a importância de combater informações falsas, conhecidas como fake news, que confundem e desinformam a população. “É mostrar o trabalho educativo, que é contra a fake news. É um compromisso, de olhar para pessoas que a gente gosta, que criamos vínculos, que confiam na gente e poder ter uma relação de mostrar pelo menos o que a gente pensa”. 

    Além dos articuladores da Rede, a iniciativa envolve lideranças de cada uma das mais de 30 comunidades incluídas na ação e conta com a ajuda financeira de qualquer quantia que pode ser transferida via PIX ao e-mail [email protected]. Todos os valores arrecadados serão utilizados para impressão dos lambes, cola, transporte e camisetas para a segurança dos articuladores na identificação dos atos.

    De acordo com o estudo “Desigualdades sociais e mortalidade Covid-19 na cidade de São Paulo, Brasil”, desenvolvido por pesquisadoras do  departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e publicado na revista científica “International Journal of Epidemiology” em fevereiro deste ano, o risco de pessoas negras morrerem pela Covid-19 é 77% maior que o de pessoas brancas, sendo que, em São Paulo, 8 em cada 10 mortes pela doença ocorrem na periferia. Os dados são de mortes ocorridas na capital paulista entre março e setembro de 2020.

    Leia também: Vacinação da Covid-19 deveria priorizar população negra, defendem especialistas

    Para os integrantes da Rede, os dados refletem a ausência de políticas públicas nas periferias, que aliados à violência policial resultam em um processo de genocídio da população negra. “Genocídio não é só a bala da polícia, o genocídio está em todas essas faltas nos territórios, são vários os tipos de morte. É tanta violência que a Covid-19 passou a ser mais uma coisa, a morte já faz parte do cotidiano da periferia. Só que nós entendemos que é nosso dever, já que o Estado não faz, que a gente pelo menos tente”, aponta Marisa. 

    De acordo com a articuladora, a principal preocupação da Rede é demonstrar que as pessoas não estão sozinhas. “Temos que exigir o conhecimento, a educação, o olho no olho, é uma campanha que parte sempre de quem está no território e de quem dialoga com as pessoas”, diz. 

    Marisa ainda evidencia que a ação considera as diferenças de cada região. “Não existe uma regra, cada região tem a sua especificidade, tem lugares que nós vamos fazer a distribuição de cartilhas, outros que a própria comunidade se propôs a fazer, vamos trabalhar a partir dessa relação existente de confiança, que já temos nas quebradas, mas estamos abrindo para quem queira somar conosco.”

    Leia também: Por que o coronavírus prejudica mais a população negra

    Sabendo das dificuldades de se evitar o contágio do vírus encaradas pela população que vive nas periferias, como a falta de possibilidade de trabalhar em casa, ou evitar as aglomerações nos transportes públicos, a articuladora da Rede lembra que a iniciativa tem como missão minimizar os efeitos da pandemia sobre a vida das pessoas. “A gente sabe que não dá para ficar em casa, mas o que é possível? É possível lavar a mão e andar de máscara?”, questiona.

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    A expectativa dos participantes da campanha é de que as ações nas ruas das comunidades comecem em breve. “Nós nos propomos a articular e ver onde tem uma brecha para agir e não ficarmos só no papel. Assim que já tivermos o recurso para começar a mobilização em uma região já vamos começar.”. 

    Em publicação nas redes sociais, a organização convida todos a participarem, seja com lambes, música, poesia ou relatos. Para contribuir de outras formas, basta entrar em contato com a Rede via e-mail para o endereço: [email protected], ou por mensagem no Instagram: @redecontraogenocidiosp e tabmbém pelo Facebook: RedeContraoGenocidio.

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